Na cara de um dos bairros mais charmosos de Aracaju, uma avenida malcuidada, mal iluminada, ostentando um canal podre de sujeira dá nota 0 à qualidade de vida da capital e afasta frequentadores do shopping center mais popular da cidade
EDVAR FREIRE
Não é fácil andar pelas ruas que margeiam o canal descoberto na avenida Ministro Geraldo Barreto Sobral, continuação da avenida Pedro Valadares. Seguindo no sentido Norte ¬ Sul, logo depois da agência do Banco do Estado de Sergipe, o mal cheiro é de provocar náuseas e você não consegue respirar fundo.
Aquele canal é um verdadeiro atentado à saúde pública e um atestado de indiferença das autoridades municipais para com o bem-estar dos seus munícipes, sem falar que, de vez em quando, um carro desgovernado é lançado nas águas podres do canal.
Conversando com alguns passantes, o repórter entrevistou dona Fabíola, que é acostumada a caminhar e tomar ônibus naquela avenida “Aqui é o seguinte, esse canal aqui, em frente ao Shopping Jardins, esse canal é muito podre e é um mal cheiro muito grande, assalto quase toda noite e esse fedor causa doença, fede demais, esse pessoal do shopping não sei como eles aguentam, todo dia por aqui”.
Como se isso não bastasse, o paisagismo, que beira o ridículo, oferece uma careta para a população que assoma em grande volume ao shopping, um centro de compras e entretenimento que recebe, mensalmente, mais de um milhão de pessoas, e que emprega mais de 2 mil funcionários.
À NOITE, PERIGO REDOBRADO
Quando anoitece, tudo fica muito pior. A prefeitura ignora a segurança da população e mantém dois precários e malcuidados pontos de ônibus, um para cada lado da avenida, que comportam, no máximo, 10 ou 15 pessoas, bem apertadas.
Acontece que, tarde da noite, ao final do expediente, saem em torno de 150 a 200 pessoas, simultaneamente, para buscarem transportes nos abrigos, sendo que no inverno ou em qualquer noite de chuva há um verdadeiro pânico entre os trabalhadores do shopping, já que as coberturas são ridículas diante das necessidades mínimas de segurança, proteção e algum conforto.
A iluminação precária e a falta de policiamento completam o quadro de horrores. As denúncias de roubos e furtos de celulares e bolsas são permanentes na delegacia do bairro, ocorrências que mantêm os funcionários do shopping em permanente alerta e amedrontados. Salientando que os furtos de menor gravidade, ou de bens mais baratos e sem violência, sequer são registrados na delegacia.
O EXEMPLO DO SHOPPING RIOMAR
Quem observa o entorno do Shopping Riomar, localizado a apenas 3 quilômetros do Jardins, fica sem entender o porquê do abandono da avenida deste outro empreendimento similar, ao ver como aquele espaço do Riomar foi ricamente urbanizado, emprestando um ar de verdadeiro bom gosto ao empreendimento, valorizando o imóvel como um todo e suas lojas em particular.
Além disso, foi aberta uma moderna e bem sinalizada avenida entre o espaço do shopping e o manguezal do rio; foram construídos modernos pontos de ônibus ao tempo em que todas as artérias foram regiamente iluminadas, o que oferece uma indiscutível sensação de segurança para os frequentadores, sejam eles clientes ou funcionários.
OUVINDO O PRESIDENTE
A reportagem do CINFORM convidou para conceder entrevista o representante dos lojistas do Shopping Jardins, o empresário da rede Bobs de fast food, Saulo Emílio, com o objetivo de esclarecer melhor a população acerca das dificuldades que a falta de organização na área externa do espaço público traz para aquele centro de compras e de lazer.
Porém, Saulo preferiu não aprofundar qualquer comentário, confirmou os dados que já estavam postos no texto, como a falta de estrutura para abrigar os colaboradores do shopping que saem do trabalho à noite, relatou que a segurança teve uma melhora com a presença da polícia militar e que o desejo dele e dos seus representados (os mais de 130 lojistas do Jardins) é que a situação da avenida seja solucionada.
De acordo com Saulo Emílio, uma revitalização no entorno do Shopping Jardins vai beneficiar igualmente a todos “Tanto o Shopping ¬ com os seus colaboradores, seus clientes e seus investidores ¬ quanto a própria Prefeitura de Aracaju… Vão todos sair ganhando. É o que se chama na administração moderna de teoria do ‘ganha ¬ ganha’, não existe mais aquilo de uma parte sair ganhando, porque assim a outra sai perdendo”, concluiu, pedagogicamente, Saulo.
UMA BOA SOLUÇÃO
Como já mencionado, o caso do entorno do Shopping Riomar foi solucionado através de uma parceria da Prefeitura de Aracaju com os empreendedores do centro de compras, os grupos NB e JCPM. Considerando que a avenida também liga a grande loja Tok Stop, pertencente ao mesmo grupo JCPM, a busca da Prefeitura pelos empreendedores poderia surtir um bom resultado, caso se formalize uma parceria.
Inclusive, o canal deve ser recoberto, podendo comportar uma ciclovia e jardinagens. Isso eliminaria o mau cheiro e também as pontes, que oferecem riscos de degradação e desabamentos, principalmente quando levas de colaboradores do Shopping passam por elas nos horários de picos.
Outro importante equipamento seria uma bonita passarela, não daquelas horríveis, de alvenaria, mas das que emprestam valor ao projeto, como as de Salvador, o que agregaria, além da beleza a segurança permanente para os pedestres.
Uma obra dessa importância, com certeza seria um brinde à sofrível gestão, pelo menos até agora, do prefeito Edvaldo Nogueira, que não demonstrou ainda qualquer realização de maior importância nesse mandato.
PODE-SE, TAMBÉM, PROVOCAR A ENERGISA
Consultando o site da Energisa, percebe-se o vulto gigantesco desse grupo empresarial, que se destaca aqui em Sergipe com uma atuação que atende a mais expressiva parcela da população do estado.
Com mais de um século de existência (113 anos) o Grupo vai realizar este ano investimentos recordes que chegarão a R$ 2,8 bilhões, direcionados, principalmente, para as suas 11 distribuidoras de energia e para os lotes de transmissão adquiridos nos últimos dois anos. A quantia é 50% superior ao montante investido em 2018 (R$ 1,8 bilhão) e maior também do que a cifra de 2017 (R$ 2 bilhões). Serão investidos R$ 2,4 bilhões nas concessionárias de energia e R$ 320 milhões nos empreendimentos de transmissão.
Em 2018, as empresas do Grupo ganharam nove prêmios da Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), inclusive o de melhor distribuidora do Brasil, na categoria de empresas com mais de 500 mil clientes, vencida pela Energisa Sul-Sudeste, a melhor do Nordeste, com a Energisa Paraíba.
São 9 empresas em 788 municípios nos estados de Minas Gerais, Sergipe, Paraíba, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, São Paulo e Paraná. Com o apoio de mais de 16 mil colaboradores, atende a 6,5 milhões de clientes, alcançando cerca de 16 milhões de pessoas, o que equivale a 8% da população brasileira.
A Energisa poderia, se procurada pela Prefeitura, também participar, talvez com o projeto elétrico e fornecimento de material, como postes de iluminação, fiação, claro se isso estiver alinhado com os projetos de parceria do grupo.
POR QUE BUSCAR ESSAS PARCERIAS?
Os empreendedores dos dois principais shoppings centers de Aracaju se notabilizaram pelo seu interesse por Sergipe, principalmente o grupo JCPM, de propriedade de João Carlos Paes Mendonça, o qual, além do conhecido e expressivo projeto social na Serra do Machado, no município de Itabaiana (SE), também promove uma organização escolar em Aracaju, destinada ao acolhimento e formação profissional de jovens carentes residentes nas áreas adjacentes aos shoppings, beneficiando centenas de jovens e adolescentes.
Esta é uma iniciativa do grupo que ainda permanece desconhecida da sociedade, mas que demonstra, diante da situação do entorno do Shopping Jardins e do carinho explícito de João Carlos pelo estado de Sergipe, que a Prefeitura, que anda desprovida de recursos, pode tentar uma aproximação com os empreendedores: por exemplo, a Prefeitura poderia oferecer o projeto, as licenças, o controle de trânsito e o que mais lhe for possível enquanto o grupo, dispondo de recursos e interesse, comercial ou afetivo, ou os dois, entraria com a execução da obra. Por outro lado, a adesão da Energisa vai agregar valor à marca da empresa mineira, gerando expressivos resultados de mídia espontânea, talvez superiores a muitos contratos de publicidade paga.