O Programa Myra tem incentivado a leitura entre estudantes de escolas públicas em São Paulo. Com a ajuda de voluntários, os jovens desenvolvem atividades em encontro semanais.
A professora de português Carmen Silvia Machado dos Santos Bueno, do quinto ano da Escola Estadual Alfredo Paulino, na zona oeste da capital paulista, conta que os alunos ficaram mais seguros e começaram a participar mais de atividades coletivas. Pelo segundo ano, a escola fará parte do programa.
“Eram alunos que tinham um acúmulo de defasagem, principalmente relacionadas à habilidade de leitura e interpretação de texto. Por isso, eles também tinham baixa autoestima, então o comportamento era como se eles estivessem à margem do grupo”, contou. A Fundação SM, que promove o programa pelo terceiro ano na escola, seleciona alunos com dificuldade na leitura.
Após esse processo, há conversas para o envolvimento da família e do jovem com o objetivo de motivar essa participação no programa. Nenhum estudante é obrigado a participar. Carmen relatou que dificilmente aqueles alunos selecionados se engajavam em algum projeto e que eles não tinham segurança para opinar durante as aulas.
“Com a participação no Programa Myra, a autoestima deles foi sendo fortalecida e eles começaram a ter uma participação mais efetiva no grupo, então eu fui vendo alunos que já levantavam a mão para ler respostas, que davam opiniões de uma maneira mais convicta, que pediam para ler pequenos trechos de texto. Isso ajudou no sentido de resgatar a autoestima. E junto com esse resgate da autoestima veio a confiança e, da confiança, veio a melhora da proficiência”, avalia a professora.
As atividades de leitura são feitas individualmente. “O atendimento individualizado facilita a construção e manutenção do vínculo afetivo e auxilia nessa questão [da autoestima], a criança vai criando uma certa intimidade e vai perdendo a vergonha e vai construindo a confiança que ela necessita para superar as dificuldades.”
Voluntários
Para participar, os voluntários podem se inscrever no site do programa até hoje (6). Neste ano, fazem parte do programa a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Coronel Ary Gomes (no Jardim Andaraí); EMEF Cacilda Becker (no Jabaquara); EMEF Desembargador Amorim Lima (na Vila Gomes); e EE Alfredo Paulino (no Alto da Lapa).
Segundo a voluntária Renata Augusto Ferreira, 42 anos – que participou no ano passado na Escola Municipal de Ensino Fundamental Coronel Ary Gomes, no bairro Jardim Andaraí, já se candidatou novamente –, o projeto é enriquecedor tanto para o estudante quanto para o voluntário.
“Comecei a imaginar que isso nunca foi feito comigo quando eu era criança e eu gostaria de que alguém tivesse esse olhar pra mim, de preparar um texto, um livro para ler pra mim. Fico imaginando quanto seria rico se eu, quando criança, tivesse tido isso. Eu só fui me interessar mais pelos livros a partir da adolescência por causa do teatro”, disse.
Ela relatou que pode acompanhar a evolução no interesse pela leitura em um aluno de dez anos. “[É uma satisfação] quando em uma sessão a criança traz um livro que ela pegou na biblioteca e ela nunca tinha feito isso. Em um outro momento, quando ele pediu para levar o livro pra casa porque ele queria ler com a mãe dele, porque ele nunca tinha lido com a mãe dele.”
Ela lembrou ainda que o menino anotava em um caderno todas as palavras que ele passou a conhecer a partir das leituras que fizeram juntos. “A gente pesquisava a palavra juntos e ele falou: ‘Essa é a minha coleção de palavras’. É lindo esse interesse pela leitura.”
Modelo replicável
A diretora da Fundação SM, que promove o programa, Pilar Lacerda, contou que qualquer um pode ter acesso à tecnologia social do projeto e replicar em outras escolas, inclusive de outras regiões do país. “A gente cede o material, faz a formação dos voluntários e essas pessoas tocam. Essa é a forma de chegar a mais escolas. A ideia é que o programa ganhe escala com iniciativas locais.”
Além de desenvolver a capacidade dos estudantes e ajudar na melhora do desempenho escolar, Pilar destaca a importância de envolver a comunidade. “Ao melhorar a capacidade leitora das crianças e dos adolescentes, a gente também tem um segundo ganho com o programa, que é envolver a comunidade, lembrando do slogan da educação integral: é preciso toda uma aldeia para educar uma criança”, disse.
Fonte: Agência Brasil