O transporte público da Grande Aracaju possibilita o acesso diário a mais de 220 mil passageiros a serviços essenciais, democratiza a locomoção das pessoas e garante o direito de ir e vir. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setransp) o serviço que atende passageiros da capital e região metropolitana é oferecido com uma frota de quase 600 ônibus.

Na contramão, a cada dia cresce o número de carros circulando em Aracaju e o trânsito fica congestionado principalmente nas avenidas e ruas do Centro durante os horários de pico. Nos últimos sete anos, o Setransp registrou uma redução de quase 20% dos passageiros que utilizam o sistema de transporte público. Quanto mais carros nas vias, mais engarrafamentos, transtornos e poluição ao meio ambiente. Mas como desafogar o trânsito? Sergipanos garantem que se o serviço ofertado melhorar podem substituir o automóvel pelo ônibus do transporte público.

“Trânsito de Aracaju está superlotado de carros”, avalia Raíssa Cruz

“O trânsito está superlotado com muitos carros e em cidades como São Paulo e Recife as pessoas já têm a cultura de deixar o veículo em casa e utilizar o transporte público para colaborar com a fluidez do trânsito, além de economizar, colaborar com o meio ambiente e desfrutar da comodidade. Em comparação com outras capitais do país, o transporte público de Aracaju está bem com ônibus novos. A frota está com equipamentos modernos como GPS, câmeras, elevadores e aplicativos que funcionam. Mas ainda precisa avançar muito”, explica a superintendente do Setransp, Raíssa Cruz.

De acordo com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), mais de 180 mil carros circulam diariamente na capital. A quantidade de carros particular é expressiva e estima-se que para cada 40 automóveis com 1,4 pessoas, um ônibus com 50 passageiros.

Transporte alternativo
Para o técnico em transporte público, Adriano Cabral, é possível melhorar o sistema oferecendo melhorias e convencer a população que é uma grande vantagem ir trabalhar ou estudar utilizando o transporte público.

Adriano Cabral sugere o retorno dos ‘ligeirinhos’ e melhorias nos ônibus convencionais

“Antes de qualquer mudança é necessário fazer um estudo técnico por especialistas por uma instituição que conhece as necessidades de Aracaju para identificar as demandas. A população busca conforto, economia e segurança mas nem sempre encontra. Tem muitas ruas estreitas que não têm estrutura para a passagem de ônibus, neste caso seria muito bom colocar linhas com os micro-ônibus”, aposta.

Cabral lembra que os micro-ônibus, chamados ‘ligeirinhos’ foram implantados na gestão de Almeida Lima na década de 90 e saíram de circulação em 2013. “Eles funcionavam muito bem porque ofereciam conforto ao passageiro que pegava o transporte nas proximidades da sua residência e usufruía de ar-condicionado e poltronas confortáveis. Como o veículo é pequeno não era necessário esperar muito tempo para encher. Seria uma boa opção para o cidadão deixar seu carro em casa e utilizar o transporte público. Existe o inchaço muito grande de veículos nas vias. Os ônibus estão disputando espaço com os carros”, observa.

Mas além de sugerir o retorno dos ‘ligeirinhos’, Adriano Cabral explica que os ônibus convencionais devem continuar.

“Os micro-ônibus são alternativas para linhas que não têm muito movimento, para evitar que o passageiro aguarde no ponto por mais de 25 minutos e em regiões onde as avenidas e ruas que não foram planejadas para o crescimento da cidade e não suporta o trafego de ônibus. O ligeirinho tem a vantagem de oferecer mais conforto ao passageiro. Tem local que pode ter os dois, o micro-ônibus é mais rápido e o usuário não precisa aguardar muito. Uma linha que tem demanda de até 30 pessoas também pode ser substituída por um ligeirinho”, garante.

Além disso, Cabral defende que o Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK) deve ser levado em consideração. “É necessário que seja analisado de forma isolada o IPK das vias maiores e mais largas onde há condições do tráfego de ônibus para conseguir reduzir as taxas e oferecer mais conforto. Mas existe demanda para os ônibus convencionais em cima da sua necessidade e inviabilidade de circulação e também para os micro-ônibus”, explica.

A SMTT informou que o estudo técnico sugerido por Cabral já está sendo feito deste 2018 por uma equipe formada por profissionais de diversos órgãos que atuam no transporte público da Grande Aracaju em parceria com a Procuradoria Jurídica de cada município. O formato do Consórcio Metropolitano do Transporte Público está sendo estudado e a conclusão está prevista para ocorrer até abril deste ano.

O presidente do Setransp, Alberto Almeida, explica que uma licitação já está em andamento e concorda com a análise de Adriano.

“O prefeito Edvaldo Nogueira já anunciou a licitação que vai avançar ainda mais para melhorar o transporte público. A estrutura vai ser melhorada e os usuários vão ter mais conforto e segurança. Percebemos que o micro-ônibus é fundamental em algumas regiões e a implantação vai ser possível com a licitação”, garante.

O engenheiro civil Antônio José de Vasconcelos, que é diretor de Transporte Público da SMTT, informou que os micro-ônibus são fundamentais e que frota conta com alguns utilizados em linhas com menor fluxo e um trajeto mais curto.

“Após as melhorias, é necessário fazer uma campanha para mostrar os resultados e incentivar que o cidadão deixe seu carro na garagem e utilize o transporte público para trabalhar e estudar. Em países desenvolvidos existem a cultura de o cidadão deixar seu carro em casa e utilizar o transporte público para trabalhar, colaborar com a fluidez o trânsito e preservar o meio ambiente. A sugestão é deixar para utilizar o carro nos horários de lazer”, reforça Adriano Cabral.

Meio Ambiente
De acordo com um estudo realizado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) os carros de passeio são responsáveis por 65% das emissões de poluentes do setor de transportes e os ônibus respondem por 19% destas emissões.

Ambientalista sugere o uso do transporte
público para poluir menos o meio ambiente

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), reforça o estudo do IEMA e indica que 20% das emissões globais de CO2, que mede a quantidade de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono e o metano, vem do setor de transportes. No Brasil, o setor é responsável por 9% da poluição do ar. Em todos os cenários, os carros foram os que tiveram maior índice de poluição, alcançando a marca de 60% de participação.

“Vale destacar que os veículos mais velhos poluem mais. Além do deslocamento, a opção por esse meio de transporte coletivo traz benefícios para o planeta. O dióxido de carbono, o CO2, que normalmente é liberado na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, como a gasolina, é responsável por grande parte da poluição do planeta, afetando a camada de ozônio”, alerta a ambientalista Carla Zoaid, que atua na Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema).

O designer de interiores Edinaldo Roseno que mora no Bairro Aeroporto, destaca algumas dificuldades da sua região e garante que deixaria seu carro em casa e utilizaria o transporte público se atendesse às suas necessidades.

Edinaldo Roseno disse que trocaria o carro pelo ligeirinho para trabalhar

“Se os ligeirinhos voltassem e passassem perto da minha casa eu trocaria imediatamente pelo meu carro com a certeza que seguiria meu destino em poltrona confortável com ar-condicionado. Está muito caro manter o automóvel e além disso é um grande transtorno circular nos horários de pico e encontrar vaga para estacionar”.

O professor Carlos Bastos que mora no Conjunto Augusto Franco, na Farolândia, também garante que trocaria o carro pelo transporte público. “Se o ligeirinho voltasse eu seria o primeiro e utilizar e deixar meu carro em casa” .

A dona de casa Maria Isabel Neves também era usuária do ligeirinho e lamenta que o micro-ônibus saiu de circulação. “Era muito prático e confortável. Moro no Conjunto Inácio Barbosa e utilizava sempre para ir ao Centro fazer as compras de casa e resolver algumas coisas nos bancos”, explica.

Custo x Benefício
A jornalista Marta Costa é usuária do transporte público e nesta semana resolveu comprar um carro. Foi até a concessionária, escolheu o veículo e na hora de fechar o negócio desistiu.

Marta desistiu de comprar carro e prefere utilizar o transporte público

“Fiz uma avaliação e percebi que é muito caro manter um carro. O preço do combustível está muito alto e além disso tem os impostos, manutenção e seguro. Para mim vale à pena usar o ônibus para trabalhar. O transporte público daqui tem uma grande vantagem que beneficia o usuário que é a integração. O passageiro pode sair da Barra dos Coqueiros e ir até São Cristóvão mudando de ônibus mas pagando uma única passagem”, elogia.

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