“Belivaldo confiou no Consórcio Nordeste, e não veio um respirador”
Georgeo Passos vê “insensibilidade” do prefeito de Aracaju em não investir em UTI para a Covid-19
Habacuque Villacorte – p/ CinformOnline
A reportagem do CINFORMONLINE conversou com deputado estadual Georgeo Passos (Cidadania), sobre o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (COVID-19) pelo governo do Estado e pela Prefeitura de Aracaju. O parlamentar pontua que o governador Belivaldo Chagas (PSD), por enquanto, não comprou nenhum respirador e nem foi ajudado pelo Consórcio Nordeste, e sim pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Georgeo disse ainda que, se não fosse a ajuda do governo federal, Sergipe não teria recursos para honrar os compromissos com os servidores públicos, efetivos ou comissionados, além dos inativos e daqueles de outros Poderes. Confira a seguir esta breve entrevista na íntegra:
CO: Iniciando a entrevista, vamos a pergunta de US$ 1 milhão: estamos indo para três meses de isolamento social. Se não fosse a ajuda do governo federal, o governador Belivaldo Chagas teria condições de pagar a folha dos servidores públicos, ativos e inativos?
GEORGEO PASSOS: Não podemos esquecer que, até hoje e desde que assumiu seu mandato, Belivaldo Chagas não conseguiu ainda pagar a folha dentro do mês, dentro do prazo legal. Ele sempre vem pagando a folha fora do prazo e isso é fato! Agora, com certeza, se o governo federal não faz a sua parte, se não colaborasse e não fizesse a recomposição do Fundo de Participação dos Estados (FPE) com certeza o atraso da folha salarial seria bem maior. E tanto Belivaldo quanto os demais governadores e prefeitos devem agradecer ao governo federal.
CO: Quanto, efetivamente, foi repassado pelo governo federal para o Estado de Sergipe e o município de Aracaju, até agora?
GEORGEO PASSOS: Para o Governo do Estado de Sergipe, o governo Bolsonaro já encaminhou mais de R$ 114 milhões. Neste montante estão somadas as recomposições do FPE, de abril e maio, totalizando mais de R$ 35 milhões; temos também as emendas de bancada que o governo federal liberou rapidamente para o combate à Covid-19, que somam mais R$ 38 milhões; teve recursos que chegaram para o Fundo Estadual de Assistência Social e recursos extraordinários para o Fundo Estadual de Saúde. Isso tudo para Sergipe! Já o município de Aracaju, só para este período de isolamento, teve mais de R$ 57 milhões; por aí estão os recursos das emendas da Saúde convertidas para o coronavírus que o Governo Federal deu prioridade; tivemos também os créditos extraordinários superando os R$ 10 milhões; além da recomposição do FPM em quase R$ 3 milhões. Também tivemos mais de R$ 2 milhões para a Assistência Social.
CO: Por que o senhor está defendendo que Sergipe saia do Consórcio Nordeste? Qual a justificativa?
GEORGEO PASSOS: Nós já preparamos um projeto de lei e vamos protocolar na próxima terça-feira (2), e basicamente nós estamos pedindo a revogação da lei estadual que autorizou o governo de Sergipe a fazer parte deste Consórcio do Nordeste. É evidente que este momento que nós estamos atravessando agora nos chamou mais atenção. Quando o Governo mais precisou do Consórcio, após um ano, e desde o dia 17 de março, o governador preferiu, ao invés de fazer a aquisição própria de novos respiradores, preferiu confiar neste Consórcio que, após quatro tentativas, não conseguiu entregar nenhum respirador. Só isso já justifica a nossa saída! A gente percebe que há ali um forte posicionamento ideológico e, ao invés de contribuir na união que o País precisa, ele ainda fomenta a desagregação. Pela falta de resolutividade, eram 60 respiradores que viriam para os sergipanos e é por isso que nós entendemos que ele [o consórcio] não é necessário e esperamos que os deputados aprovem nosso PL. Sergipe já repassou, só este ano, cerca de R$ 15 milhões para este Consórcio, e o que nós recebemos de contrapartida? Cadê os respiradores?
CO: Qual a sua avaliação sobre a cobertura do governo do Estado no combate à Covid-19? Tem sido satisfatória? Os hospitais estão estruturados?
GEORGEO PASSOS: Nós percebemos algumas falhas! Lógico que eu não vou criticar tudo, até porque esse não é o meu perfil de oposição; mas tem uma coisa que eu queria pontuar bem: que a COVID-19 está expondo a deficiência do governo sergipano como nenhuma outra doença. Eu sempre ouvi a reclamação de falta de UTI em Sergipe. Sempre foi difícil conseguir uma vaga! Mas nós estamos falando de um governador que faz parte de um agrupamento político que domina o Estado há mais de 12 anos! Neste período, quantos leitos de UTI foram abertos, antes da pandemia? Depois do último governo de João Alves, do primeiro governo do saudoso Marcelo Déda (in memoriam) para cá, quantos leitos de UTI foram criados em Sergipe? Quase nenhum! O coronavírus está expondo tudo isso! É como se fosse aquela ferida que inflamou ao ponto que agora começa a sair a secreção! É o descaso e falta de planejamento por todos esses anos, que vai pagar a conta é o povo sergipano. Agora a gente vê o governo correr para apagar mais um incêndio, só que dessa vez o inimigo também é letal, rápido e pegou o governo de “calças curtas”! No início nem os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nós tínhamos! Quantos trabalhadores da Saúde foram infectados por falta de EPIs de qualidade? Tivemos muitas falhas! Os hospitais superlotados! Quantas pessoas que sofrem com o tratamento oncológico, que esperam por cirurgias de próstata ou renais? Até as cirurgias mais simples? Os hospitais estavam ruins e agora estão bem piores! Os poucos respiradores que chegaram vieram do governo federal!
CO: Quantos leitos de UTI para o Covid nós temos em Sergipe? Quantos foram comprados? Os senadores, Rogério e Alessandro, falam que conseguiram. Procede? Quem, de fato ajudou?
GEORGEO PASSOS: De acordo com o boletim que é divulgado oficialmente pela Secretaria de Estado da Saúde, nós vemos aqui que a Rede Pública tem 90 leitos de UTI. E na Rede Privada são 77. Porém, das 90 vagas da rede pública nós já temos 72 ocupadas; e quantos foram comprados pelo Estado de Sergipe? Nenhum! Se tiver eu desconheço! Os novos respiradores que chegaram vieram via Ministério da Saúde. Quem ajudou? Eu falo pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania) que teve um papel decisivo para a vinda desses respiradores de Sergipe, inclusive ele já conhecia o ministro da Saúde de outras oportunidades, pela própria profissão de delegado. Bem como a conversa que ele teve com o presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre, sobre o que chegou e que vai chegar ainda mais. Até onde eu sei os respiradores para o Hospital de Estância também vieram do governo federal. Nós não tivemos compra de respiradores pelo governo do Estado, que preferiu acreditar no Consórcio do Nordeste, que não produziu nada neste sentido!
CO: E o que dizer do Hospital de Campanha da Prefeitura de Aracaju sem leitos de UTI? Com a rede privada já em quase 100% de superlotação, qual ação efetiva do prefeito Edvaldo Nogueira para combater o coronavírus?
GEORGEO PASSOS: Eu acho que Edvaldo Nogueira perdeu uma grande oportunidade de ajudar o povo de Aracaju, neste momento. Diferente de outros prefeitos de capitais, ele preferiu se omitir! Edvaldo cruzou os braços! Construiu um Hospital de Campanha sem leitos de UTI? Fez algumas contratações, mas o que a gente percebe é que o prefeito não quis se responsabilizar neste momento e preferiu jogar tudo no colo do governador. Para mim isso só tem uma explicação: ele ficou com medo do ano eleitoral, do desgaste! E nas notas da PMA sempre vem a desculpa: a responsabilidade deles é dos casos de baixa e até média complexidade! Mas, e por que outros prefeitos criaram leitos de UTI? Edvaldo fez um alto investimento no hospital de campanha, com leitos de estabilização e leitos de retaguarda! Sabendo que poderia criar as UTIs! Esperamos que Aracaju não venha a sofrer por falta de leitos! Recentemente tivemos um caso de pessoas esperando por horas por UTIs e findaram sendo deslocadas para o hospital de Estância! Eu vejo muita insensibilidade do prefeito da capital em um momento de somar forças com o governo do Estado!
CO: Vem aí um novo decreto do governador, nesta segunda-feira, com muita expectativa sobre a reabertura do setor produtivo, de forma gradativa. Qual a sua opinião? Se governadores de outros Estados já aderiram, o que falta a Sergipe?
GEORGEO PASSOS: Já há algum tempo que eu venho comentando sobre isso! Lógico que Saúde fica sempre em primeiro lugar e isso não se discute. Agora eu senti falta foi do diálogo! Qual o planejamento sobre quando vamos retomar a atividade econômica do Estado? Espero que o governador, nesta segunda-feira, em seu próximo decreto, ele avance, com responsabilidade, criando regras rígidas, para que sejam cumpridas e para que as pessoas voltem a trabalhar. O prefeito de Aracaju apenas copia o que o governo faz! Isso está nas mãos de Belivaldo! Fazer essa transição para retomarmos essa atividade econômica! Espero que as últimas palavras ditas pelo governador, que esse sentimento se concretize! Tenho consciência que não podemos abrir de qualquer jeito, mas o governo tem que ter um plano de retomada. Neste sentido o senador Alessandro e técnicos da Universidade Federal de Sergipe criaram um plano de retomada que já foi encaminhado ao governador, e que ele possa por em prática algumas soluções. Vimos todos, uma manifestação dura do governador com o deputado federal Laércio Oliveira (PP) e esperamos que Belivaldo consiga enxergar uma segurança maior para a retomada. Não dá para dizer apenas “fique em casa!”
CO: Já existe, inclusive, um projeto do deputado estadual Samuel Carvalho, defendendo a atividade religiosa como “essencial” para a sociedade. Qual a sua posição diante deste projeto?
GEORGEO PASSOS: Em um momento tão delicado, com as pessoas em suas casas há mais de 60 dias, já percebemos que além do coronavírus, alguns já enfrentam situações delicadas, do ponto de vista psicológico. Nós sabemos que a fé, a atividade religiosa pode contribuir neste momento. Eu acho que essa flexibilização é muito importante e precisa acontecer sim! Sabemos do grande número de pessoas, podemos buscar limitar a quantidade, verificar o uso de máscara, de álcool em gel, mas com certeza é um projeto que merece muito a nossa atenção. O deputado Samuel Carvalho levanta um tema bastante pertinente, que a gente espera que seja pautado e como ele mesmo disse: sem confronto com o governo. Possibilitando que as pessoas tenham um ambiente, voltado para a fé e para cuidar do psicológico.
CO: Através de um requerimento de sua autoria, o presidente da DESO prestou esclarecimentos aos deputados, essa semana, na Alese. Qual a sua avaliação?
GEORGEO PASSOS: Quem ouviu o presidente Carlos Melo falando, vai entender que a empresa não tem problema algum e que presta um bom serviço à sociedade sergipana. E, convenhamos, a realidade é bem diferente daquele cenário “pintado” por ele. Hoje a DESO tem uma rejeição muito grande na sociedade. Várias cidades sofrem com a falta de água e falta de investimentos da empresa! A minha avaliação é que a DESO precisa fazer o seu papel. Sabemos que os trabalhadores tentam cumprir suas funções, mas é algo inadmissível você conviver com uma adutora de “papelão” em Porto da Folha. É inadmissível que Ribeirópolis fique cinco ou seis dias sem água! Isso também ocorre em Itabaianinha, Lagarto, Japaratuba, Aparecida, Moita Bonita, São Miguel do Aleixo e Monte Alegre. Muita coisa que ele falou não me convenceu. Temos investimentos que se arrastam há vários anos. A DESO vem com problemas há muito tempo. Como higienizar as mãos e os alimentos que você compra se a Companhia não disponibiliza a água? Enquanto isso a fatura chega e, se não pagar, você vai para o SPC…
CO: Já existe alguma definição sobre o ano letivo da rede estadual de ensino? O prazo não era a última terça-feira (26) para que a SEDUC definisse os próximos passos?
GEORGEO PASSOS: Segundo o secretário de Educação eles trabalham com a possibilidade de retomar as escolas em agosto. Eu não tenho muita certeza sobre os prazos que já foram prorrogados algumas vezes. Sobre as aulas virtuais nós temos que ver qual a realidade dos nossos alunos, se todos têm acesso à internet para assistir a esses conteúdos. Será que eles acompanham? E se a TV Aperipê não cobre o Estado todo com as vídeo-aulas? É preciso ter toda atenção para os alunos não serem ainda mais prejudicados.
CO: E qual a sua expectativa sobre a ida dos diretores do Banese para a Assembleia Legislativa? Que informações o senhor espera levantar?
GEORGEO PASSOS: Lógico que, inicialmente, a gente queria ouvir o presidente do Banco. Mas se tem uma dificuldade e os diretores do Banese podem vir, de minha parte, eu não vejo nada demais. Nós buscamos mais informações sim e a questão principal está nestes empréstimos que os servidores estaduais têm, junto ao Banco. Diante de tanta dificuldade e tanta mentira, com relação às prorrogações, de prazos de pagamentos nesses 90 dias, que o próprio governador prometeu e disse que ia fazer isso! Mas o que o Banco quer é ganhar ainda mais dinheiro em cima dos servidores neste momento, fazendo um novo empréstimo. É tão grave essa situação que o Ministério Público Estadual, através da promotora Euza Missano, já está fazendo as intervenções necessárias, com perícias. É concebível que o Banco do Estado seja o “Banco de todos os sergipanos”, não conseguindo ajudar a sua principal clientela, que são os funcionários públicos? É lamentável a postura do banco. Bem como os R$ 500 milhões para médios, pequenos e microempreendedores. Queremos saber quantas pessoas e empresas foram beneficiadas com esse empréstimo! A informação que obtivemos é de muita dificuldade para concluir este financiamento, mesmo com autorização do governador.
CO: Falando um pouco de eleições municipais, a pré-candidatura de Danielle Garcia é “pra valer” mesmo? Como estão as discussões neste sentido? Por que ela vem sendo, constantemente, atacada por alguns setores, inclusive da imprensa local?
GEORGEO PASSOS: Tenha certeza que a pré-candidatura da delegada Danielle Garcia é para valer! Ela já colocou o seu nome à disposição do partido para avaliação do povo de Aracaju e eu não tenho dúvidas de que se trata de um nome bastante competitivo. O partido vem se preparando bem, não só na capital, mas em vários municípios. O nome de Danielle incomoda todo o sistema! Ela tem a marca de combate à corrupção, de uma pessoa séria, competente e preparada. Lógico que vamos fazer o debate, no momento oportuno, com o candidato que vai tentar a reeleição. Mas eu não tenho dúvidas sobre a viabilidade e força que tem hoje o nome de Danielle Garcia em Aracaju.
CO: Concluindo a entrevista, e quanto à eleição em Ribeirópolis? Seu pai vai disputar a reeleição? Como andam as coisas por lá? E quanto à oposição?
GEORGEO PASSOS: Sobre Ribeirópolis, o prefeito Antônio Passos vai sim disputar a reeleição e ele segue trabalhando muito. Muito experiente, sabe como as coisas funcionam, está tocando muitas obras, cumprindo com suas obrigações, com o funcionalismo e, com certeza, será bastante competitivo. Quanto à oposição eu já confesso que nem sei mais se existe! Dividiram-se em quatro! Mas, como bem diz meu pai, nós não temos que nos preocupar com os adversários. Temos que preparar bem o nosso time para quando “entrar em campo” vencermos o jogo!
Por Habacuque Villacorte – CinformOnline