Por: Edvar Freire Caetano – da redação

O município de Aracaju passa por momentos de incerteza, agravados pela pandemia que assola, principalmente, a saúde, a educação e a economia. Como se não bastasse, há um fator agravante nesta capital, que é uma não muito aceita ação administrativa da parte do seu prefeito, Edvaldo Nogueira, que pode ser explorada pelos candidatos e partidos de oposição.

A equipe de reportagem do CinformOnline tem entrevistado vários pré-candidatos a prefeito de Aracaju, trazendo agora a delegada concursada Danielle Garcia, que tem uma história de combate ao crime em Sergipe, numa aplicação profissional que a deixou malvista por figurões do duvidoso cenário político e empresarial deste pequeno Estado.

1 – Por que a delegada mais famosa de Sergipe, pela sua conduta de intolerância ao crime contra o erário decidiu ingressar na política?

Danielle Garcia – Justamente por perceber que a política tem a capacidade de influenciar em todas as nossas decisões do dia a dia. Ao longo dos anos, vi que as decisões políticas podem dar o rumo para que as coisas aconteçam de maneira mais efetiva. Mas é preciso que as pessoas entendam a política como uma forma boa de se envolver nos problemas da nossa comunidade. A política não é o lugar de pessoas ruins ou mal intencionadas. Por isso, por entender que poderia fazer pela Capital e pelos aracajuanos mais na política do que na polícia, aceitei a missão. Sei que posso liderar uma equipe muito competente que tem os mesmos valores e objetivos que eu: transformar Aracaju; podemos implantar os projetos que tem como foco o cidadão; temos condições de, finalmente, fazer as licitações do lixo e do transporte público; podemos colocar as finanças públicas em dia; temos condições de implantar um projeto pra saúde voltado a um atendimento de excelência para a população; podemos fazer uma grande reforma administrativa e incorporar inovações na educação, aproximando-a do nosso tempo. Enfim, queremos fazer diferente de tudo o que vem sendo feito há décadas por quem utiliza a política para outros fins que não a sua essência: servir à sociedade.

2 – Abrindo um parêntese: houve cerceamento do seu trabalho na Deotap, quando apurava possíveis crimes praticados pela Prefeitura de Aracaju?

DG – Eu não tenho dúvidas de que houve cerceamento ao trabalho da Deotap. Nós, à época, investigamos muitas pessoas e situações, e isso incomodou muita gente. Eu e minha equipe nunca nos furtamos de investigar quem quer que fosse, porque a lei, afinal, vale para todos. Durante um bom tempo tivemos uma polícia mais independente, fiscalizadora e atuante no combate à corrupção no nosso Estado. Tanto que devolvemos aos cofres públicos mais de R$ 100 milhões! Mas, infelizmente, a força política foi mais forte que a força policial em determinado momento. Uma decisão do então governador [Jackson Barreto] determinou a nossa saída da Deotap, sem qualquer justificativa plausível, e veja, nós fazíamos um trabalho altamente técnico, com profissionais que honram a Polícia Civil de Sergipe. Não nos dobramos, porém, naquele momento, a força política foi maior.

3 – Sergipe parece ser um paraíso de impunidade, esta é uma impressão correta?

DG – Não diria exatamente impunidade, já que as investigações devidamente realizadas e encaminhadas ao judiciário geralmente têm como consequência as condenações. O grande gargalo talvez seja o fato de criminosos serem investigados com a interferência dos governos. Se as investigações não acontecem na velocidade que precisam ocorrer, muitas figuras públicas do cenário político acabam passando a impressão de que não existe corrupção em Sergipe, que não existem pessoas mal-intencionadas e que está tudo às mil maravilhas. Mas nós sabemos que não é bem assim! A Deotap é um exemplo de que, quando tem independência, a polícia faz seu papel muito bem e acaba com muitos dos grupos organizados que desviam milhões e milhões de reais que são do povo. Espero que a gente consiga transformar isso. Sergipe pode ser um exemplo para o país de política limpa, transparente e ficha limpa. Isso acontecerá quando a política for feita por gente honesta e que tem no interesse público o seu fim.

4 – Confirmada sua candidatura, e sendo eleita, o que uma prefeita pode fazer para destravar processos que parecem que nunca serão realizados e licitações que permanecem engavetadas por anos em Aracaju?

DG – Hoje, o que falta é a vontade política e administrativa para que as coisas saiam efetivamente do papel e possam ser postas em prática, além da total falta de transparência. A não realização da licitação do transporte público, por exemplo, é uma aberração. Interessa a quem essa situação? A população acaba tendo um serviço de péssima qualidade. Os empresários não têm nenhuma segurança jurídica. O modelo é ultrapassado. Veja, o prefeito Edvaldo Nogueira, que está na administração desde 2001, ou seja, quase 20 anos, ficando de fora apenas quatro anos de lá pra cá, nunca fez a licitação do transporte público. Por quê? Sobre a licitação do lixo de Aracaju, esta é uma novela com contornos policiais que todos nós conhecemos e a operação Torre de Babel nos mostrou de maneira mais aprofundada. Não existe licitação por falta de vontade política! Isso é muito claro. O que nunca é claro são as razões dessa não vontade. Essa é a pergunta que precisa ser feita aos que governam e governaram Aracaju nos últimos 20 anos pelo menos.

5 – Agora, falando sobre administração do munícipio. O que está acontecendo com a gestão da Prefeitura de Aracaju?

Vou dar o exemplo da saúde pública. Está um caos há anos! E nada é feito. Não falta dinheiro, não faltam recurso. Faltam projetos, falta boa intenção, falta gente capaz e competente para trabalhar na administração pública. Enquanto houver loteamento de cargos em troca de apoio político-partidário, será assim. Para ocupar cargo público, em primeiro lugar, é preciso competência, excelência para exercer as funções. Isso não vejo há anos na prefeitura.

6 – Existe algum indício de planejamento no munícipio, para enfrentamento da pandemia?

DG – Pelo contrário! Existem fortes indícios da falta de planejamento. O que estamos vendo é uma total falta de respeito com os aracajuanos. O que aconteceu com o hospital de campanha foi um verdadeiro teatro, tanto que levamos uma denúncia ao Ministério Público Federal. Vimos pessoas morrendo em ambulâncias enquanto aguardavam ser admitidas na rede pública municipal e nada foi feito. Vejo, ainda, um jogo de empurra-empurra do prefeito Edvaldo para com o governador Belivado, e vice versa. Só que, nesse vai-não-vai, vidas se perdem. E isso, pra mim, é criminoso. A saúde de Aracaju está há muitos anos na UTI. A pandemia agravou essa realidade e a mostrou para todo país ver.

Fora que, segundo os próprios profissionais da saúde, ainda hoje é uma luta a disponibilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) para trabalhar na linha de frente de combate ao coronavírus! Pergunto ao prefeito: onde estão os leitos de UTI? Onde estão os respiradores? Como está sendo feita a regulação dos leitos? Não tem resposta! Ele coloca a culpa no governador Belivaldo, seu grande aliado. Mas tem R$ 3 milhões para gastar com publicidade! Então, é clara e evidente a falta de planejamento para este enfrentamento e a falta de respeito com a vida humana.

7 – As compras e contratações públicas, dispensadas e dispensáveis de licitação, são as mais visadas pelos órgãos fiscalizadores. Em Sergipe, ou mesmo no Brasil, existe imparcialidade nesses órgãos?

DG – Vejo sempre com muita preocupação essas compras. E o que vimos ocorrer em plena pandemia é a prova de que essa preocupação não é descabida. Mas continuo acreditando que os órgãos de controle estão atentos e tomarão as providencias cabíveis ao encontrarem irregularidades que denotem improbidade administrativa e mesmo crime.

9 – Rumores de irregularidades na construção do hospital de campanha de Aracaju pontuaram na mídia por uns 8 dias, e depois, como já é costume em Sergipe, fez-se um silêncio sepulcral. O que é isso que acontece nesta terra?

Sobre a imprensa, não posso responder. Posso dizer que meu partido, o Cidadania, não para um só dia de fiscalizar tudo que pode. E estamos encaminhando ao Ministério Público Federal todas as inconsistências que identificamos. O hospital de campanha é um exemplo. Acredito nas instituições.

9 – Não ficou mal explicado o caso da privatização dos “hospitais” da prefeitura, também sem licitação?

Respondo com uma pergunta: quantos novos leitos de UTI foram abertos? É uma bagunça tão grande que nem as perguntas mais simples eles conseguem responder.

10 – Confirmada sua candidatura, com quais partidos e lideranças a senhora pretende enfrentar a fortalecida máquina da prefeitura?

DG – Nós estamos dialogando com diversos partidos e setores. Levamos a todos as nossas ideias e ouvimos muito, também. Não acreditamos em política feita de forma isolada. Recentemente, temos conversado muito com o PL, o PSDB, o PSB, o DEM, o PMN, o Patriota, entre outros. É importante que aconteça uma relação de respeito entre os partidos com um único propósito: cuidar de Aracaju com honestidade, levando a administração pública a sério e, principalmente, pensando na população. Não sou daquelas pessoas que criminalizam partidos. Não se faz política negando a política. Acredito no diálogo e nas alianças sólidas feitas de forma transparente, focada em propostas e metas programáticas e com propósitos republicanos.

11 – O que pretende mudar na forma de administrar o município em caso de ser confirmada como candidata eleita?

Foco no cidadão! Política serve para isso: para garantir aos cidadãos os seus direitos. Isso passa, claro, por mudanças radicais, como o enxugamento da máquina pública, uma seleção rigorosa de quem estará nos cargos públicos, fiscalização forte em todos os contratos, práticas de compliance, gerenciamento honesto das finanças públicas e respeito ao cidadão.

12 – Saúde, educação e segurança são as demandas mais citadas em pesquisas: quais os seus projetos nessas áreas?

Saúde e geração de emprego são nossas prioridades. Reconstruir a economia aracajuana dependerá diretamente da geração de emprego e renda local. E a saúde é básico: quem vive sem saúde? Olharemos com muito cuidado para a educação que hoje está sem definições acerca da volta às aulas, prejudicando muito crianças, jovens e suas famílias. Esses devem ser nossos dois primeiros focos de atuação e estamos ouvindo especialistas, funcionários municipais, temos buscado experiências bem sucedidas no Brasil e fora do país também. Não vamos prometer o que não pudermos cumprir. Mas o que acordarmos com a população, será 100% cumprido.

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