De uns tempos pra cá passei a não gostar dessa expressão que se tornou tão popular quanto o oi, tudo bem? De tanto ouvi-la, já que ela finaliza todas as conversas, comecei a pensar que ela significa a mesma coisa que se vire com os seus problemas porque eu não estou disponível, o meu tempo é muito precioso. Significa também uma forma de se isentar de qualquer responsabilidade sobre o outro pois cabe a você e a ninguém mais a solução para os males que lhe afligem. Afinal, estamos vivendo a era do individualismo exacerbado e se você não é capaz de viver só, você não é capaz de viver. Ponto. Se cuide, se vire, baste-se!
A primeira lembrança que eu tenho de mim mesma é a de uma criança raquítica (ao fazer um retrospecto no tempo, hoje sei que tinha apenas seis anos), carregando nos braços um bebê extremamente saudável e portanto pesado para a minha compleição. Daí em diante todas as minhas lembranças vão crescendo e se avolumando, sempre disponível para o outro, o tempo todo cuidando, trabalhando, sempre partícipe de alguma construção em conjunto. Na família, na igreja, no trabalho. Talvez por isso o se cuide hoje me soe insuportável.
Acho que a minha geração não está preparada para essa tarefa pra mim tão massacrante que é o viver só, uma vez que convivemos sempre com famílias numerosas. Segundo dados recentes somos hoje, no Brasil, 45.000 idosos vivendo sozinhos. Mas esta será uma carência apenas minha? Ah, sim, carência também é uma palavra moderna que surge para definir as nossas fraquezas e soa também como nefasta, como algo que você tem que procurar na psicologia as razões para explicá-la, porque o certo é que você não a tenha e se a tiver busque os motivos pelos quais ela existe e cure-se, baste-se, cuide-se!
Será que é chegada a época da solidão? Como assim, logo agora que me encontro frágil, carente, que já não sou a mesma pessoa tão interessante para o outro, ele vem a mim e me diz…se cuide, viu? A mim soa quase como uma ameaça! É como se me fizesse recomendações tais como, faça as coisas direito, dê conta da sua vida, não seja irresponsável… se cuide! Não venha colocar necessidades sobre os meus ombros! Seja adulta e aceite a sua condição atual portanto…se cuide!
Passado o momento da carência (será?) recolho a minha indignação e procuro ser racional – afinal as emoções são péssimas conselheiras já que têm a mania de sentir mais do que saber- e percebo claramente que na verdade, estamos sós. Nascemos e crescemos cercados por uma família, por colegas de escola, do trabalho, nos envolvemos com essa convivência e pensamos que será sempre assim. Mas não é. Somos como uma árvore plantada no meio de uma grande floresta que por mais próxima que esteja de outras árvores o seu viver é solitário, único, bastando-se! É a lei da natureza, da sobrevivência, lei número um. Na floresta humana densamente povoada lembre-se, você está sozinho, não deve delegar ao outro o cuidado de si. Portanto, seja sensato, cuide-se!
E se alguma estiver lhe incomodando muito, cuide-se mais ainda!