Esta é a opinião de sergipanos que moram na maior cidade
do Brasil ao comparar a segurança de Sergipe com a de São Paulo
O desabafo de um profissional de fotografia do Estado nas Redes Sociais, na última semana, chamou a atenção da sociedade para certo ponto: até onde vai a ousadia dos bandidos? Em plena luz do dia, num lugar super movimentado, ele e mais 24 pessoas foram vítimas de assaltantes.
Foi-se o tempo em que os sergipanos, principalmente na Grande Aracaju – Capital, Barra dos Coqueiros e Nossa Senhora do Socorro – andavam tranquilamente pelas ruas com seus pertences, quaisquer que sejam os horários, sem aquela sensação de insegurança, de ser a próxima vítima.
“Na última segunda-feira, 14, eu e 24 formandos da Unit (Universidade Tiradentes), estávamos na Orla da Barra dos Coqueiros para tirarmos uma foto para o convite de formatura. Num lugar super movimentado, próximo ao Centro, em plena luz do dia, três homens armados chegaram e nos assaltaram, isso mesmo, estávamos em 25 pessoas”, desabafou Juliano Oliveira, profissional de fotografia.
DA 13 AO BUGIO
“Meus equipamentos, celulares e outros foram roubados. Quantas vezes nós fotógrafos, apenas com duas ou três pessoas, vamos a lugares desertos em busca de uma boa imagem. Quem teve coragem em assaltar 25 pessoas numa rua movimentada, imagine se fossemos dois ou três num lugar deserto, só Deus sabe”, continuou o relato.
A sensação de insegurança na Grande Aracaju é voz corrente entre a maioria dos cidadãos, levando-se em consideração que não existe distinção de localidades – entram nesse “bolo” Jardins, 13 de Julho, Garcia, Salgado Filho, Luzia, considerados bairros da “zona nobre”; a Santa Maria, Cidade Nova, Bugio, Santos Dumont, classificados como classe baixa.
Quem ainda tem coragem de andar de ônibus, de ir à padaria, supermercado, farmácia perto de sua residência a pé com seus pertences – celular, bolsa com dinheiro – à vista de terceiros? Até o simples entrar numa moradia está perigoso. Recentemente, o vídeo de bandidos roubando dois jovens que adentravam uma casa, no Salgado Filho, estarreceu a sociedade.
PAZ NA ZONA NOBRE DE SP
Para quem conhece grandes cidades – a exemplo de São Paulo – não tem dúvidas de dizer que “lá”, pelo menos em bairros nobres, é mais tranquilo andar pelas ruas; mesmo tendo a plena consciência de se tratar de uma cidade violenta, com altos índices de mortes. Mas, sem sombra de dúvidas, Sergipe – menor Estado do País – está mais violento que muitos outros.
A reportagem do Cinform conversou com alguns sergipanos que moram em São Paulo. Professora da rede estadual, Verena Santos, 32 anos, afirma: “realmente aí está muito perigoso e sinto que muitos aracajuanos ainda não entenderam isso ou não sabem como lidar”.
Verena conversou, inicialmente, com a reportagem do Cinform num ônibus do sistema de transporte coletivo paulistano. Quem aqui em Aracaju teria coragem de fazer isto? “Sinto-me mais segura em São Paulo. Moro aqui há quatro anos e, inclusive, dou aula praticamente numa favela. Meus alunos moram na favela e nunca me aconteceu nada”, relata.
NA RUA DE MADRUGADA
“Toda vez que vou aí fico sabendo de mais notícia ruim, assalto, sequestro relâmpago, assassinato e assim vai. Claro, a violência acontece em São Paulo, mas é mais nas periferias mesmo. Aqui temos maior sensação de segurança na rua, pois tem câmera em tudo que é lugar, nos metrôs, ônibus, ruas e tem mais policiamento que Aracaju”, afirma Verena.
A professora ainda relata que: “uma amiga que morou em São Paulo e voltou recentemente já foi assaltada em plena Barão de Maruim, meio dia. São coisas absurdas que acontecem aí. Coisas que não escutávamos anos atrás. Sergipe é o terceiro Estado mais violento do Brasil”, diz.
Moradora de Pinheiros – bairro nobre de São Paulo -, a sergipana Vanessa Teixeira, 24 anos, analista de relacionamento de empresa do setor financeiro, também se sente mais segura lá. “Já voltei do meu trabalho às 3h da manhã. Coisa que em Aracaju não tem condições mais de fazer”, afirma ela, que, em Aracaju, morava no Bairro Aeroporto, ali atrás do Clube da Caixa.
“COMPARAÇÃO INACEITÁVEL”
“Todas as notícias que vejo de Aracaju é que está muito perigosa, violenta. Inclusive, uma amiga minha foi assaltada sob mira de uma arma duas vezes no lugar que a gente sempre pegou ônibus, um local que era supertranquilo. Já aqui, vou para o meu trabalho andando. É muito seguro. Sem exageros”, relata Vanessa.
“Se fizesse isso, mesmo que eu tivesse no Bairro Jardins, na Avenida Francisco Porto, ali perto dos apartamentos mais caros de Aracaju, não me sentiria segura. Ali na Beira Mar mesmo para pegar ônibus não há confiança, sempre para um cara de moto para pegar você”, desabafa a atendente de relacionamento.
Procurado pelo Cinform, o comandante do Comando do Policiamento Militar da Capital, tenente-coronel Vivaldy Cabral, achou inaceitável a comparação com São Paulo. “Essas pessoas moram em São Paulo mesmo? Conhecem a Zona Leste, região mais violenta? Particularmente, conheço bem, fiz doutorado em Segurança Pública lá”, afirma.
SÉRIE DE FATORES
Mesmo a reportagem esclarecendo que a opinião dos entrevistados é com relação a insegurança até nos “bairros nobres”, coronel Vivaldy continuou a divergir. “Discordo dessa opinião de sensação de insegurança no Jardins, Garcia, 13 de Julho, pois depende muito do local, horário. A concentração de ocorrência em determinada área é que determina se aquela área é mais violenta que outra”, informa.
O comandante tenta deixar claro que a questão de segurança não se limita apenas ao policiamento. Claro que qualquer cidadão instruído sabe que o tema violência engloba uma série de fatores. “É desde a questão de legislação, análise da cultura de uma população, questão do consumo de drogas, armas que chegam e saem, que circulam nas mãos de pessoas que não devem portar”, diz.
O coronel tenta justificar o alto índice de reincidência no Estado – numa fragilidade do Poder Judiciário. “As pessoas têm sido presas e rapidamente são soltas. A gente tem número alarmante de reincidência, gira em torno de 90%. Para cada 10 pessoas presas, nove tem passagem pelo sistema prisional ou já foram presas por algum motivo”, informa. Mesmo assim, um Fórum/um programa de Segurança Pública não seria luz neste fim de túnel?