Todo mundo lembra do boneco Fofão? Aquele bochechudo, com camisa de listra, suspensório e cabelo cacheado. No fim do ano uma empresa que trabalhei organizava doação de brinquedos para crianças carentes e em vulnerabilidade social. A galera doava com o coração e podiam ser brinquedos novos ou em bom estado de utilização. Foi aí que um dos colegas, – alô André Mansur! – , chega ao departamento de marketing com um Fofão no colo.

Ele não foi para doação, afinal, boa parte do time conhecia a lenda do boneco ícone dos anos 80. Logo ele se tornou ‘estagiário’ do marketing, com crachá e tudo. Se alguém chegasse atrasado encontraria Fofão sentado em sua mesa, com as mãozinhas no teclado, sendo produtivo. Durante um tempo aquele boneco desengonçado promoveu muita alegria entre a equipe. Era o nosso jeito de brincar diante dos prazos apertados, das noites que precisávamos comer pizza por lá mesmo para dar conta do recado. Fofão, de certa forma, contribuía para a leveza e criatividade do nosso grupo

Havia praticamente um book com poses  e closes de Fofão para os bate-papos descontraídos via e-mail. A presença dele nos tornava mais leves, bem-humorados, proporcionava o senso de família, de comunidade, afinal passamos muito tempo junto de quem trabalhamos.

Semana passada rolou uma confraternização com parte deste time e Fofão sempre se torna pauta com motivo para gargalhadas e boas lembranças. Essas pessoas e profissionais excelentes com quem dividi meu tempo durante uns cinco anos são extremamente humanos. Alguns, hoje, estão distantes fisicamente, morando em outros estados. Mas quando precisamos de conselhos, indicações, referências ou simplesmente do desfrute de uma boa conversa, sabemos onde recorrer.

Existem pessoas com quem já estive trabalhando em até três empresas distintas, com papeis diversos. São laços verdadeiros! O ápice da história de Fofão estagiário em nossas vidas se deu com a sua morte. Sim, houve um funeral digno com a sua partida. Sem querer, de forma inconsciente, fazíamos um ritual de desprendimento da própria equipe, que aos poucos, foi cumprir outras missões, cada qual em sua jornada.

No dia em que nossa diretora decretou o fim da nossa brincadeira com Fofão o tempo fechou. Preparei uma Nota de Falecimento com justas homenagens e liberei pelo e-mail da Comunicação Interna para o nosso grupo segmentado de interação humorística. Receber uma Nota como esta na empresa era motivo de melancolia, afinal, ‘quem morreu?’.

Como todo carnaval tem seu fim, Fofão partiu e nos deixou grandes saudades, lembranças, histórias com contextos corporativos típicos da rádio peão. Conto hoje esta narrativa para refletirmos o quanto temos brincado em nossa rotina. Rir é muito terapêutico: libera tensões, nos integra, socializa, diminui distâncias e ruídos. As responsabilidades que abraçávamos naquela época – chegávamos a lançar três empreendimentos em um mês – só era possível porque, de fato, havia um time completamente envolvido com as entregas.

E narrar esta crônica tendo Fofão como personagem principal me remete ao quanto somos protagonistas do mundo em que vivemos. Somos os únicos responsáveis pelos resultados obtidos. Viemos a este mundo para criar a nossa realidade. E quando assumimos nosso poder pessoal, seguramos as rédeas de nossas vidas. Fofão era o nosso instrumento de entretenimento e foi inserido lá para este fim, com benefícios desdobrados para o trabalho em si

Não podemos controlar o mundo, as circunstâncias externas, mas controlamos a nossa resposta a absolutamente tudo! Escolhemos brincar com Fofão, mas não podemos evitar a sua partida. Assim como não podemos evitar as pessoas que foram se despedindo após o Fofão. Quando se cumpre um ritual é assim. Aceita-se o ciclo, agradecemos as partilhas, cultiva-se as boas memórias e abre-se ao novo.

Nosso estagiário me promoveu grandes lições sobre a liderança que exerço até hoje. É uma forma de encarar a vida, uma escolha. Este norte no brincar, sorrir, aprender e ser feliz nos micro momentos traz uma energia vital, indispensável, para quando me deparo com um problema gigantesco. Ciente de que tudo é passageiro, encaro com maior neutralidade os apelos de desesperos alheios. A gente vai autorizando o fluxo de energia que trocamos com as pessoas e as situações de convite ao crescimento

Haverá momentos de quebrar este padrão? Claro que sim. Mas se manter no próprio eixo de paz e equilíbrio é um exercício contínuo. Lido/assessoro dez contas, com grupos heterogêneos e desafios completamente distintos um do outro. Preciso saber quem eu sou e qual nível de contribuição tenho a dar onde sou convocada. E olhando para este capítulo de Fofão na minha trajetória profissional, gosto de cada detalhe dele. Recomendo a todo mundo se “enfofar” um pouco. Nas empresas, na roda de amigos, entre pares, chefes, etc. Meu toque de fofura neste fim de ano foi escrever à mão um bilhetinho enviado a gente querida que me aguenta todo dia. Fofurices à parte, é preciso reconhecer o quanto precisamos de carinho, de abraço, de riso, de olhar no olho, de sermos essencialmente humanos em ambientes às vezes, hostis. ‘Fofure-se’ com quem puder e onde houver conexão real. É bem legal!

 

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