Na terceira visão profética do Apóstolo João, no livro bíblico da Revelação ou Apocalipse, é anunciada em linguagem simbólica uma das profecias que alimentam as verdades da teologia cristã e que talvez seja causadora de muitos medos como acontece com tudo aquilo que envolve símbolos nem sempre adequadamente decifrados e portanto passíveis de diversas interpretações. Afinal, quando o mistério é grande demais a gente não ousa desobedecer como afirma Éxupéry através do seu Pequeno Príncipe.

Os quatro cavaleiros do Apocalipse representam a peste, a guerra, a fome e por fim, a morte.

O primeiro cavaleiro surge montado em um cavalo branco, portando uma coroa e um arco que é capaz de arremessar a grandes distâncias, de norte a sul de leste a oeste, como a “peste” que nos atinge no momento, com sua tenacidade em percorrer o nosso universo em todas as direções e que possui uma capacidade quase infinita de volatilizar o produto que pretende disseminar, por isso a sua eficácia. O segundo cavaleiro aparece montado em um cavalo vermelho e porta uma grande espada que tem o poder de tirar a paz (sempre branca) e possui a inquietante capacidade de colocar as pessoas umas contra as outras como fazem alguns cavaleiros da atualidade que, dispondo de poderes da mais variada natureza utilizam o cavalo vermelho da beligerância para semear a discórdia como fruto maldito da intolerância que leva a uma guerra de narrativas extremamente nociva ao entendimento entre os povos. O terceiro cavaleiro monta um cavalo preto e tem uma balança na mão e, ao percorrer os espaços, uma voz anuncia os preços dos alimentos e assim assegura que a fome grasse entre aqueles que não podem pagar os valores por ele instituídos, valores esses estipulados sempre na razão direta do poder indevidamente acumulado. Por fim, o quarto e último cavaleiro monta um cavalo amarelo que, em tendo a cor do ouro que tudo compra, tem o poder de matar um quarto da população da terra deixando atrás de si um cenário de morte.

O Dr. Sérgio Pena, professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais, afirma em um dos seus artigos que os novos cavaleiros do Apocalipse são o racismo, a xenofobia, o ódio étnico e a intolerância

religiosa. Acredito vivamente que esses elementos estão no cerne dos grandes conflitos que assolam a humanidade. Esses cavaleiros modernos montam cavalos assustadoramente fortes, vestem as mesmas cores vibrantes de outrora, portam armas muito poderosas, desfraldam bandeiras que julgávamos desbotadas e suas vozes podem ser ouvidas nos quatro cantos do mundo proclamando um réquiem para valores como a tolerância, a igualdade, a solidariedade.

As representações existentes sobre os quatro cavaleiros do Apocalipse, como o quadro de Albrecht Dürer pintado entre o século XV e o século XVI, mostram sempre a destruição causada pelos beligerantes senhores apocalípticos enquanto um anjo vingador acompanha de cima, a desolação que se abate sobre a face da terra. Não acredito em anjos vingadores assim como não acredito em bruxas “pero que las hay, las hay”.

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