Caríssimos leitores e leitoras, imaginem a condição dos homens antes do surgimento das sociedades organizadas, com posições definidas, regras mais ou menos conhecidas, trocas comerciais e com o desenvolvimento de uma série de artes e ciências que aprofundaram os laços sociais.

Obviamente, é possível conjecturar que nem sempre os homens viveram em sociedades com essas características descritas acima; e também é possível demonstrar tais afirmações por meio das descobertas de investigadores da história do gênero humano. O pensador materialista Friedrich Engels, na obra “A origem da família da propriedade privada e do Estado”, ao investigar o desenvolvimento das sociedades a partir dos grupos familiares, afirma que “os homens permaneciam nos bosques tropicais ou subtropicais e vivam, parcialmente, nas árvores. Isso explica que continuassem a existir em meio às grandes feras selvagens […]. Nenhum dos povos conhecidos no período histórico estava nessa fase primitiva de evolução […]; mas se admitirmos que o homem procede do reino animal, devemos aceitar, necessariamente, esse estado transitório” (Cap. I).

Sendo assim, o que levou à formação das primeiras comunidades maiores, quais necessidades conduziram os grupos familiares à reunião em uma única sociedade? Independente da maneira como teve início, se por meio do acordo ou tangidos pela violência de uma tribo mais poderosa, algum interesse fundamental coagiu homens e mulheres a viverem em conjunto.

Qual teria sido esse interesse?

A resposta pode ser proferida por meio de uma pequena sentença:

Preservar a vida!

Em outras palavras, a política tem por objetivo salvaguardar a vida dos indivíduos que antes do advento da ordem civil estava exposta a perigos diversos. Como a agressão de outros povos, a fome, a peste etc. Aristóteles da Macedônia, filósofo da antiguidade clássica, defendeu que a comunidade “ao mesmo tempo que já tem condições para assegurar a vida de seus membros, ela passa a existir também para lhes proporcionar uma vida melhor” (Política, 1253ª). A ideia é que, ao se unirem em laços sociais amplos

e mais ou menos organizados, os indivíduos puderam se defender melhor dos perigos, do que se estivessem isolados ou vivendo em pequenos grupos.

A esse respeito, o filósofo moderno Thomas Hobbes, no clássico “Leviatã”, afirmou que a causa da república é “a precaução com a sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita” (Cap. XVII). E ainda, afirmara Hobbes, “um pacto em que eu me comprometa a não me defender da força pela força é sempre nulo” (Cap. XIV). Percebe-se, assim, como o principal teórico do Estado moderno, muitas vezes mal lido como um filósofo meramente autoritário, estabeleceu a necessidade de o poder político garantir a vida e até mesmo de os indivíduos resistirem à possível ameaça de um soberano contra a vida dos súditos.

Vejamos agora outra obra clássica, os “Dois tratados sobre o governo” de John Locke, livro que inaugura o pensamento político liberal. Nessa obra, o filósofo inglês afirma que a razão dos indivíduos se unirem em sociedade é a necessidade de “conservação de suas vidas, liberdades e bens, aos quais atribuo o termo genérico de propriedade” (Cap. IX). Além disso, Locke defendera o pleno direto dos povos se rebelarem contra o governante que, ao se tornar tirano, atente contra a razão maior da existência da sociedade civil, que é a preservação da vida e das demais propriedades.

Pois bem, se a responsabilidade primordial da política é garantir o direito à vida, diante de uma pandemia tão aguada como a do Coronavírus, momento onde o Brasil já amarga cerca de 360 mil morte e se posiciona como um dos lideres mundiais em casos e óbitos decorrentes da Covid 19, as perguntas que devemos fazer são:

Qual a responsabilidade do Estado Brasileiro em face de tamanha catástrofe humanitária? Por que tanto atraso na compra de vacinas, contradizendo o sugerido pela Organização Mundial de Saúde? Por que demorou tanto o investimento no desenvolvimento de vacinas com tecnologia Brasileira? Por que toleramos a infâmia de líderes políticos que desdenham da morte e do sofrimento de milhares de mortos? Por que o uso tão necessário da máscara foi tão covardemente desacreditado? Por que não foi garantido o isolamento social da nossa população? Enfim, por que uma doença tão grave foi chamada de “gripezinha” pelo portador do cargo mais importante do país?

Como podemos perceber, são muitas as perguntas. Elas não farão o seu ente querido que sucumbiu em razão da doença voltar à vida, mas ajudam a identificar os culpados e nos precaver, no futuro, de tamanha infâmia!

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