Hoje, o CAFÉ COM HISTÓRIA traz uma abordagem diferente. Trata-se de um rápido olhar sobre a obra da brasilianista Sandra Lauderdale Graham – “Caetana diz não” – cuja obra, a autora narra duas histórias interessantes e reveladoras abordando a questão da mulher na sociedade escravista brasileira.
Vamos aos fatos:
O primeiro enredo se passa numa fazenda no Vale do Paraíba. Acontece que Caetana, uma escrava doméstica, se vê obrigada por seu dono a casar-se com outro escravo. Mesmo forçada, o casamento ocorre, mas a jovem cativa recusa-se a “deitar” com seu cônjuge. O casório não se consuma. Ela diz NÃO e diante de pertinaz atitude, seu senhor acaba por pedir a anulação do mesmo ao tribunal eclesiástico e isso gerou um longo processo.
Uma outra história apresentada por Graham, é a situação em que dona Inácia Delfina, uma senhora da renomada família dos Sousa Werneck, que nunca casara, deixou em testamento destinando parte de seus bens (inclusive escravos) para a sua escrava mais querida, a Bernadina.
Percebe-se que essas histórias revelam mulheres que agiram à frente do seu tempo. Através de seus atos, lutaram contra o autoritarismo do patriarcalismo, presente não só na família dos senhores, mas também dos escravos.
Caro leitor, atente-se para aspectos das histórias presentes na obra citada, pela percepção meticulosa da autora americana, sobre o cotidiano brasileiro do século XIX, a relação senhor e escravo, o convívio com a hierarquia patriarcal, a obediência e o jogo de poderes econômicos, além das regras de coerção impostas pela igreja católica.
Graham é adepta a uma nova forma de escrever, desenvolve a chamada micro-história como método de pesquisa. Recupera os atos e as vozes de “pessoas perdidas”, aquelas que foram silenciadas porque não podiam ou não quiseram escrever as suas próprias narrativas ou, simplesmente, foram ignoradas.
A autora faz um panorama acerca da fronteira entre o privado e o público mostrando a diversidade cultural, levantando fontes e gerando hipóteses. As duas histórias tratadas são muito sugestivas, pois se tratam de pessoas reais e consequentemente, situações vividas.
Por fim, meus amigos, pergunto-lhes “Quantas Caetanas, Inácias e Bernadinas ainda existem espalhadas por este Brasil?” “Quantas histórias e trajetórias como estas também permanecem no anonimato? Ou quem sabe, simplesmente silenciadas.”
Pode parecer um mero clichê, mas convido-lhes a pensar que possivelmente essas mulheres, lá no século XIX, já estavam gritando:
– Lugar de mulher é onde ela quiser!
Fica a reflexão.