O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, afirmou nesta quarta-feira que “todos sabiam” da atuação do ex-procurador Marcelo Miller no caso da JBS. Antigo braço-direito do procurador-geral Rodrigo Janot, Miller aparece em gravação dos delatores Joesley Batista e Ricardo Saud como um ajudante dos interesses da empresa na elaboração da proposta de colaboração premiada assinada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Na época da conversa, ele ainda estaria no cargo na PGR. Depois, passou a atuar como advogado dos delatores.

— Na verdade, era um segredo de carochinha em Brasília. Todos sabiam do envolvimento do Marcelo Miller nese episódio. Só o Dr. Janot que escamoteava e escondia — afirmou Gilmar, que está em Paris.

Segundo o ministro, a revelação dos novos áudios da JBS não traz uma “novidade”, mas apenas a “confirmação” da má atuação da PGR.

A grande novidade, que também não era novidade, mas é a grande confirmação, é que a Procuradoria atuou muito mal neste episódio; de que se envolveu diretamente; de que tinha objetivos, a partir de um braço direito do proóprio procurador-geral — disse, acrescentando: — Essa revelação foi uma boa coincidência, que mostra exatamente que não se pode brincar com as instituições.

CRÍTICAS A JANOT

Gilmar ainda ironizou a indicação de Rodrigo Janot ao comando da Procuradoria-Geral:

— Tenho a impressão de que se formos fazer um juízo do legado do lulopetismo podemos pensar em duas marcas. Há muitas, mas duas marcas importantes: a indicação de Dilma Rousseff à presidente da República e a indicação de Rodrigo Janot (à PGR). Elas são inesquecíveis.

Já sobre a denúncia oferecida pelo procurador-geral nesta terça-feira contra Lula, Dilma e o PT por organização criminosa, Gilmar afirmou que não tinha conhecimento sobre o processo, mas disse que poderia fazer uma “análise política”. E atribuiu a decisão à suposta intenção de Janot em fazer um “grand finale” para o seu mandato, que se encerra no dia 17 deste mês.

— Não conheço os dados. Certamente essas investigações já vinham ocorrendo e isso será oportunamente avaliado pelo (Supremo) Tribunal. Posso fazer uma análise, talvez, política. Imagino que o procurador-geral pensou em fazer uma grand finale. Fazer várias denúncias, inclusive uma contra o presidente da República — afirmou, para voltar a ironizar o procurador-geral na sequência:

— Mas acho que ele (Janot) conseguiu coroar dignamente o encerramento de sua gestão com esse episódio do Joesley. Fez jus a tudo o que plantou durante esses anos. Isso vai ser a marca que vamos guardar dele. O procurador-geral da ‘Delação Joesley’, desse contrato com criminosos, desta fita.

Além de comentar sobre o envolvimento do procurador Marcelo Miller, Joesley Batista e Ricardo Saud também falam na gravação sobre “organizar o Supremo”.

Janot, ao anunciar a possibilidade de rever o acordo de delação premiada dos executivos da JBS, falou de “referências indevidas” relacionadas à Procuradoria-Geral e ao Supremo Tribunal Federal. Gilmar criticou a citação ao STF.

— Tentou envolver o SUpremo Tribunal Federal de forma realmente lamentável, dizendo que tinha envolvimento de ministros, o que mostra realmente a sua pouca qualidade institucional — disse Gilmar.

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