O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, cruzou datas de reuniões relatadas por delatores da Odebrecht com as de pagamentos supostamente feitos pela empreiteira em benefício do presidente Michel Temer e de peemedebistas. Os valores são oriundos de contrato de US$ 825 milhões entre a construtora e a área Internacional da Petrobras, segundo os colaboradores. Janot ressalta que depósitos realizados no exterior pela empreiteira supostamente em benefício do PMDB foram feitos em datas próximas a uma reunião em que o presidente teria comparecido, ao lado de executivos e também dos ex-presidentes da Câmara, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves.
Comprovantes de pagamentos no exterior, planilhas e os relatos dos executivos da empreiteira embasam a denúncia contra o grupo de parlamentares do PMDB, supostamente liderado pelo presidente e integrado pelo ex-ministro Geddel Geddel Vieira Lima, os ex-presidentes da Câmara Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha, o ex-assessor especial de Temer, Rodrigo Loures, e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco.
Os valores teriam sido arrecadados na Petrobras, em Furnas, na Caixa Econômica Federal, no Ministério da Integração Nacional, no Ministério da Agricultura, na Secretaria de Aviação Civil e na Câmara dos Deputados.
Um dos contratos citados na denúncia é o PAC SMS, que envolveu prestação de serviços para a área de Negócios Internacionais da Petrobras, dentro do plano de ação de certificação em segurança, meio ambiente e saúde. O contrato O contrato guarda-chuva contempla vários países e, em 2011, foi ampliado para incluir serviços específicos em Pasadena.
Segundo os delatores da Odebrecht, deste termo, de US$ 825 milhões, foram acertadas propinas de 5%, sendo 4% para Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e Michel Temer, e 1% para o PT. A cifra destinada ao PMDB teria chegado aos R$ 40 milhões, afirmam delatores.
Os valores ao PMDB teriam sido acertados em reunião, no dia 15 de julho, no escritório do presidente, em São Paulo.
A reunião nesta data e local não só é mencionada pelos delatores como aparece em um rol de perguntas que o ex-deputado Eduardo Cunha fez a Temer, enquanto sua testemunha de defesa em processo na Operação Lava Jato, em 2016, um ano antes de a construtora ver homologado seu acordo de delação. O conteúdo delas foi vetado pelo juiz federal Sérgio Moro, por entender que não havia conexão entre as indagações de Cunha, hoje condenado a 15 anos de prisão, e o processo pelo qual respondia.
O ex-procurador-geral da República identificou relações entre a reunião e pagamentos realizados pela Odebrecht supostamente em benefício do PMDB.
Note-se que o primeiro pagamento no exterior foi feito em 21/7/2010, apenas seis dias após a reunião dos executivos da Odebrecht com Michel Temer, Eduardo Cunha e Henrique Alves, que se deu em 15/7/2010 no escritório de Michel Temer.
No Drousys, sistema de informática no qual eram registrados repasses do departamento de propinas da Odebrecht, os nomes “Mestre” e “Tremito” eram associados a operadores do PMDB, segundo os executivos.
“No ano de 2010 foram pagos US$ 3.062.861,00 em favor de TREMITO (codinome identificador do ‘PMDB da Câmara’), sendo o equivalente a US$ 2.000.000,00 pagos em espécie no Brasil e os outros US$ 1.062.861,00 pagos no exterior”,sustenta Janot, ao analisar planilhas da Odebrecht.
O então procurador-geral ainda identificou que, em 2011, “foram pagos US$ 14.850.000,00 em favor de MESTRE e TREMITO, sendo o equivalente a US$ 3.300.000,00 pagos em espécie no Brasil e os outros US$ 11.550.000,00 pagos no exterior.