Por – Christian Lindberg

Propaganda nos mais diversos meios de comunicação, distribuição de máscaras para os/as estudantes, discurso do ministro da educação em cadeia nacional de rádio e TV, protocolos de biosseguranças elaborados da melhor forma possível e, principalmente, o desejo de (re)ver colegas de sala de aula ou de trabalho depois de tanto tempo são as características do retorno das aulas presenciais nas escolas e universidades em todo o país.

Os principais argumentos utilizados para a volta das atividades presencias em sala de aula são: 1) O aumento da evasão escolar; 2) A preocupação com a aprendizagem dos estudantes. Em outros termos, crianças e jovens estão abandonando a escola e aqueles que ficaram, que é a grande maioria, não tiveram a aprendizagem adequada durante o período de aulas remotas.

No primeiro caso, as informações preliminares do Censo Educacional da Educação Básica apontam que, entre 2019 e 2021, a rede pública de ensino perdeu algo em torno de 0,5% dos matriculados. No caso da rede particular, esse número chega a 10%. Considerando que na pública tínhamos 38,7 milhões de alunos matriculados na educação básica e, na particular, 9,1 milhões de estudantes em 2019, estima-se que quase 1,2 milhões de crianças e jovens saíram da escola durante o período pandêmico.

No caso da aprendizagem, embora os resultados do SAEB e da avaliação em larga escala que alguns estados realizam, a exemplo de Sergipe, não tenham saído, espera-se que o déficit de aprendizagem tenha oscilado negativamente.

De fato, a situação na educação básica é complexa e demanda muito esforço, físico, intelectual e financeiro, para ser revertida. Nesse sentido, algumas ações estão sendo implementadas pelos governos estaduais e municipais para mitigar os danos causados pela pandemia na educação de crianças e jovens.

Com o auxílio do Conselho Tutelar e outros órgãos públicos, a denominada busca ativa tem sido um instrumento importante. Outra medida que vem sendo efetivada é a adoção de aulas para reforçar os conteúdos de aprendizagem ministrados nos últimos anos de forma remota. Por fim, o incentivo financeiro para que os estudantes mais pobres, geralmente negros e pardos, retornem à escola.

Por mais que o cenário educacional seja preocupante, o diagnóstico dos fatores que impulsionou a atual realidade é antigo. O primeiro deles diz respeito à omissão do MEC

na tarefa constitucional de coordenar o sistema educacional brasileiro. Estados e municípios agiram de forma fragmentada e, muitas vezes, sem o poder financeiro necessário para mitigar os danos da pandemia na educação.

De igual modo, a crise econômica que aflige grande parte da população brasileira, fez com que muitas crianças e jovens precisassem sair da escola para trabalhar, situação que contribuiu para o aumento do trabalho infantil. A mesma crise deve ter motivado alguns pais a retirarem seus/suas filhos/as da escola particular e matriculá-los/as na rede pública.

No entanto, embora o diagnóstico reforce a necessidade do retorno das aulas presenciais, é preciso que as autoridades públicas ponderem mais a atual conjuntura. De forma correta, a implementação do ensino remoto retirou de circulação das ruas e, principalmente, do transporte público quase 50 milhões de brasileiros nos últimos 2 anos. Se o número de óbitos por COVID está na casa dos 625 mil mortos, a situação poderia ser pior se as aulas tivessem ocorridos de forma presencial, como defendeu exaustivamente as autoridades do MEC.

Mesmo com a melhora do quadro vacinal da população, a variante ômicron tem demonstrado ser bastante contagiosa, o que fez elevar o número de óbitos para a casa dos mil mortos, muito deles/as pessoas que se negaram a tomar a vacina, e o de contaminados beirar os 200 mil novos casos por dia em pouco tempo, situação que tem congestionado hospitais e postos de saúde.

Diversos epidemiologistas afirmam que o país ainda não chegou ao pico da nova variante, ou seja, a tendência é que o atual cenário piore nos próximos dias.

Têm-se ciência que o quadro educacional provocado pela pandemia tem repercutido na aprendizagem das crianças e jovens, o que trará prejuízos individuais e coletivos a curto, médio e longo prazo. Todavia, do ponto de vista pedagógico, é possível equacionar esse legado negativo com o passar dos anos. Só a vida não é recuperável.

Portanto, por mais que as condições para sua aplicabilidade sejam marcadas por deficiências e a crise econômica venha a continuar em 2022, como projeta diversos economistas, não seria o caso de se pensar em manter o ensino remoto até que o quadro pandêmico fosse alterado? Parece-me que a reflexão em torno desta questão é urgente e necessária.