Homicídios e latrocínios assolam Estado,
mas Polícia diz que criminalidade caiu

 

O medo e o silêncio tomaram conta da sociedade em todo o país por conta da insegurança pública. Em Sergipe, a sensação de vulnerabilidade da população diante da criminalidade não ficou atrás. Ao contrário, acirrou-se. Os índices alarmantes de violência por aqui chegaram ao absurdo de elevar o Estado ao status de primeiro no ranking da violência, segundo dados atualizados do Ministério da Saúde, de 2017, apesar da Secretaria de Segurança Pública negar a informação, afirmando que Sergipe estaria na incômoda classificação de terceiro estado mais violento do Brasil, como se isso já significasse alguma vantagem.

O tráfico de drogas  –  e com ele o roubo, o assassinato e o latrocínio que o acompanham para financiá-lo – descontrolado ganhou espaço na capital sergipana, fruto da grande quantidade de autoridades públicas, em todas as esferas de poder, envolvidas no consumo de drogas. O tráfico invadiu o interior e instalou uma cracolândia no centro de Aracaju, aos olhos omissos e coniventes de um sistema de segurança pública que tem sido incompetente e ineficaz, enquanto os governantes assistem apáticos e omissos à destruição social.

Apesar disso, a polícia civil de Sergipe, através do secretário de Segurança Pública, João Eloy, afirma que houve controle e queda no índice de criminalidade. Ele garante que os índices de homicídios teriam reduzido 16% em relação a 2016, mas admite que ainda é preciso fazer muito mais para oferecer segurança à população.

Ele justifica que a questão da violência não é privilégio de Sergipe, mas de todo o país. O Secretário alega que havia um crescimento de 18% ao ano na criminalidade no estado, que teria sido controlado pelo ex-secretário de Segurança, João Batista.

“Este ano trabalhamos com uma redução no número de homicídios. Conseguimos baixar em 16% a criminalidade. A nossa meta é chegar a 20% de redução até o fim do ano”, argumenta.

Eloy explicou que quase todos os estados menos a Paraíba e Piauí, já trabalham com redução de 40% na taxa de homicídios. Apesar disso, reconhece que é necessário melhorar, e muito, já que Sergipe seria um estado pequeno, onde muitos se conhecem.

O secretário admite que é preciso uma segurança pública mais organizada e afirma que esta é a sua meta. “Temos de ver mais de perto a situação dos usuários de drogas que estão pelas ruas. A maioria vive de roubos e morre em decorrência dessas ações ou matam outras pessoas”, afirma, acrescentando que “a polícia deve combater os traficantes não os usuários”.

Eloy entende que há uma carência de efetivo e, por esse motivo, a SSP estaria realizando concursos públicos, autorizados pelo governador Jackson Barreto. Segundo ele, o governo autorizou a convocação de um efetivo de novos policiais civis: um total de 20! “Mas sabemos que precisamos de muito mais. Tratamos isso como prioridade”, acrescenta.

Eloy confessa que o efetivo é baixo e que delegados, agentes e escrivães, vão ter de acumular serviços nas delegacias de diversos municípios. “Não há outro jeito, por enquanto. Não temos delegados suficientes para todas as delegacias, por isso os concursos”, justificou.

REALIDADE VIRTUAL

            Mas se o Secretário de Segurança Pública vive a sua realidade virtual particular, a partir de um gabinete refrigerado cercado de policiais e seguranças por todos os lados, e de um helicóptero que consome R$ 9,5 milhões do dinheiro do contribuinte para só enxergar a criminalidade do alto, numa hipotética e surreal ronda policial realizada a quilômetros de altura da violência real em Aracaju, a população sergipana, ao contrário, vive uma outra realidade: a factual.

João Eloy. Secretário de Segurança

São centenas de roubos, furtos, dezenas de homicídios e latrocínios por semana sem que a SSP ofereça a mínima segurança efetiva à população, hoje escondida em suas casas, assombrada, temendo sair às ruas com medo de ser roubada, assassinada, enquanto quase não se observam viaturas policiais realizando rondas pelas ruas dos bairros, porque parte dos recursos para as rondas se destinam as atividades de uma surreal ronda aérea, através do aluguel de uma aeronave que assegura um bom contrato mensal a apaniguados do poder, apesar de não se observar a mínima resolutividade.

Enquanto isso, nos municípios do interior, dois policiais – ou até um único policial – com a absoluta ausência de delegado, tomam conta da segurança pública de municípios com até trinta mil habitantes, sem oferecer nenhum potencial defensivo para as comunidades. Ao contrário, os próprios policiais espalhados nestas delegacias, sentindo-se sozinhos e também inseguros, trancafiam-se no interior dos prédios da segurança pública e, após as 18 horas, não saem de seus postos para atender sequer um único caso de violência.

VIOLÊNCIA CRESCEU 134%

             Apesar de a SSP afirmar que a criminalidade teria caído 16% em Sergipe, segundo o Atlas da Violência do Ipea – Instituto de Pesquisa e Estatística Aplicada e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, na verdade, só no último ano, a violência no estado cresceu 134%.

Os fatos corroboram as estatísticas. E em tempo real: só no final da semana antepassada foram registrados em Sergipe 16 assassinatos. Somente na semana passada, entre sexta e sábado, dias 6 e 7, o Instituto Médico Legal registrou sete mortes provocadas por arma de fogo.

A saga sangrenta da violência em Sergipe não para por aí. Após a morte de quatro agentes de segurança pública (três policiais militares e um agente penitenciário), em apenas um mês ocorreram 14 ataques contra servidores e bases do Estado. O clima é de insegurança e vulnerabilidade entre os profissionais que atuam nesses cargos.

Os servidores reclamam, com razão, da ineficiente estrutura da polícia e relatam a precariedade dos equipamentos para manter a própria segurança. Até mesmo as câmeras de monitoramento da Polícia Militar não estariam funcionando, segundo relatou um PM que prefere manter o anonimato. Vários policiais relatam que as delegacias estão em completa situação de precariedade, não oferecendo condições de trabalho.

GESTÃO INCOMPETENTE

 O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/Sergipe, Henri Clay Andrade, afirma que a insegurança vivida hoje pelo cidadão é um problema de gestão, ausência de uma educação eficiente e de governantes que pensem mais em investir nas gerações do que em eleições.

Henri Clay afirma que não há nenhum projeto de combate repressivo à violência. E o que se faz necessário é que o Estado apresente um projeto de segurança pública preventiva. Clay lamenta que Sergipe tenha chegado ao status de Estado mais violento do Brasil por não ter projeto de política pública nestes moldes. “É preciso que haja investimento para suprir a deficiência gritante de estrutura que a polícia tem hoje em Sergipe”, atenta o presidente da OAB.

Henri Clay foi incisivo quando disse que é necessário que se forme polícia moderna concebida nos conceitos democráticos, respeitando os direitos humanos, melhorando nos pontos de vista material. “Há dificuldades, até para se repor coletes à prova de balas”, disse.

“Para que se tenha uma boa polícia é preciso uma boa formação, moderna, democratizada, com direitos humanos respeitados. Os recursos devem atender o essencial como segurança e saúde. A desmilitarização da polícia também é decisiva para a mudança da polícia no Brasil”, observou lamentando que os estados fracassaram na política de segurança pública e que as drogas avançaram e ganharam espaço se constituindo no grande problema da violência.

Ele finaliza afirmando que “um país onde o presidente da República é desacreditado não pode estar no rumo certo”,  enfatizando que infelizmente há um problema patológico. “O sistema é podre. Como diz o poeta, podres poderes”.

Quais os interesses que os delegados Danielle
e Gabriel contrariaram e foram exonerados?

 

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