E o País do Forro está vivendo seu melhor momento, é tempo dos festejos juninos, época de acender a fogueira, comer milho, canjica e amendoim, dançar forró arrasta-pé, soltar buscapé, tirar do guarda roupa a camisa quadriculada, vestidos coloridos e rodados, tempos de festa e de muita alegria.

Minha mãe Susete é de Estância, traz no sangue e na mente toda a tradição junina, ela acende 4 fogueiras no mês de junho nos dias 23, 24, 28 e 29, e uma no mês de março no dia de São José. E desde cedo acompanhava ela em todas as comemorações juninas, aqui e na Capital do Barco de Fogo. Lá aprendi como meu avô Dedé Sombrinha e com o amigo dele Damião, a soltar o buscapé, e tenho minhas cicatrizes para provar.

Adoro a época junina e por muito tempo cantei nos melhores palcos dos nosso festejos: Estância, Areia Branca, Capela, Muribeca, Cristinapólis, Forró Caju, Gonzagão, Centro de Criatividade, Arraiá do Maranhão e Rua de São João, além de palcos da Bahia e Alagoas.

Passei para a gestão pública, coordenei muitos festejos e acho que deixei minha marca por onde passei. E, foi na década de 90 que tudo começou, primeiro na Fundação Estadual de Cultura (Fundesc) e depois na Secretaria de Estado da Cultura, projetos como Gonzagão Forró e Arte, Festival Nosso Canto de música junina, programações no Gonzagão, Centro de Criatividade e Barracões Culturais, tempo de uma política de fomento da cultura onde quanto mais eventos melhor e assim podíamos priorizar os artistas sergipanos, a exemplo de Luiz Paulo, Erivaldo de Carira, Josa, Amorosa, Trio Passarada do Ritmo, Zé Rosendo e Marluce, Rogerio, Antonio Carlos du Aracaju, Grupo Repente, Negão do Xaxado, Ismael, Ararão, Trio Bem-te-vi, Lourival Mendes, Lourinho do Acordeom, Batista do Acordeom, Luiza Lu, e tantos outros.

Fui convidado por João Augusto Gama através dos amigos, Antônio Rolemberg, Helvio Dórea e Manuel Vasconcelos, a coordenador e projetar a retomada do Forró Caju, evento criado pelo Jackson Barreto quando foi prefeito da cidade e que acontecia na praça Fausto Cardoso. Levamos o Forró Caju para os mercados e realizamos um dos maiores festejos de todos os tempos, foram 30 dias de festa com mais de 180 shows, quadrilhas e grupos de cultura popular, com uma média de público de 80 mil pessoas por dia, e já lá tentava mostrar a todos que não precisaríamos de tantos artistas nacionais para realizar o nosso São João, contratamos 5 artistas nacionais e todos os outros eram artistas locais. Resultado: um sucesso retumbante tanto de público, programação quanto de novo espaço para realizar os festejos. A ideia era de criar uma marca para a cidade de Aracaju.

Nos anos 2000, Fabiano Oliveira então Secretário de Cultura e Turismo, procurava uma ideia para a nova campanha publicitária para os nossos festejos juninos. Em uma reunião na agência Conceito surge a ideia do “Sergipe País do Forró” mais não era só uma campanha publicitária, e sim uma marca definitiva para os maiores e melhores festejos do Brasil que acontece nos 75 municípios sergipanos e por todos os seus moradores.

A ideia vinha do refrão da música de Rogério “Chamego só” depois do sucesso da campanha rebatizada de “Sergipe é o país do Forró ”, o resultado foi um grande sucesso, sendo utilizada durante todo o governo de Albano Franco e por todo o ano, uma ideia virou um projeto de estado e não de governo. A marca tomou conta de todas as ações da Emsetur, foi camarote no carnaval da Bahia e virou também marcas para a venda de pacotes turísticos.

Como político e política pública nunca se dão bem, algum gaiato tentou matar uma marca tão boa e importante para os setores do turismo e da cultura, tiraram o nome de “Sergipe País do Forró ” e colocaram “Se Deus é Brasileiro, São João é Sergipano”, pois bem, o sujeito só esqueceu dos outros santos juninos, São José, Santo Antônio e São Pedro, contando com ajuda de São Paulo,  a ideia foi um fracasso e morreu no primeiro ano, pois serviria até de tema dos festejos mais não de uma marca.

Passamos um tempo com a política mandando, usando a favor dela os nossos festejos e assim em 13 dias de eventos tínhamos 45 artistas nacionais ao preço médio de R$ 200.000,00 e 100 artistas sergipanos a R$ 5.000,00. Mandávamos para fora do estado R$ 9.000.000,00 e deixávamos R$ 500.000,00. Na opinião de quem fazia era muito justo. Dinheiro público jogado no lixo.

Em 2015 convidado pelo Elber Batalha volto a Secretaria de Estado da Cultura como Secretário Adjunto da Cultura, em um momento de uma nova construção na gestão pública da cultura. Realizamos o primeiro Encontro Nordestino de Cultura dentro do Arraiá do Povo. Instalamos o formato de editais dando preferência aos artistas locais e um conceito de tradição cultural, onde turistas e sergipanos receberia uma programação genuinamente sergipana e junina. Aldemário Coelho declarou no palco do Encontro Nordestino: – Esse palco me honra muito, pois vejo aqui a concretização de toda a minha luta pelo respeito e valorização da arte e do artista nordestino.

Os artistas faziam manifestações em todo o nordeste: “Queremos nosso São João de Volta”, pois os grandes eventos juninos estavam se transformando em grandes festas sertanejas e de outros ritmos que não mais o nosso forró tradicional.

Escrevi em 2017 um texto que transcrevo aqui: O coro dos sanfoneiros que lançaram a campanha “Devolvam o nosso São João”, encabeçada pelos músicos Joquinha Gonzaga e Chambinho do Acordeon, que denuncia uma descaracterização do São João nas programações dos festejos públicos, o cantor e compositor Alcymar Monteiro defende uma maior valorização do forró e a participação dos artistas tradicionais dos festejos juninos no nosso São João.

E aí, fico imaginando o que estamos fazendo a três anos com o Encontro Nordestino de Cultura, criamos um conceito para os festejos juninos coordenado pela Secretaria de Estado da Cultura com aprovação do Governador Jackson Barreto, buscamos exatamente essa ideia de valorização da cultura e da nossa identidade, política de Estado e não de governo.

Estamos fortalecendo uma marca que foi criado a muito tempo que diz “Sergipe é o País do Forró” Cantada em verso e prosa pelo grande Rogério.

Sergipe é o país dos festejos juninos onde o nosso povo mais participa onde nossa gente mais se identifica. Sergipe tem cultura junina com seus folguedos e cultura popular. Bacamarteiros, Batalhões, Batucadas, Caceteiras, Samba de Coco, Samba de Pareia, Violeiros, Cantadores, Cordelistas, Quadrilhas Juninas, trios, grupos e cantores da autêntica música nordestina que fazem parte dessa seara cultural. O Encontro Nordestino de Cultura englobou o Arraiá do Povo, o Arraiá do Gonzagão e esse ano o Arraiá Arranca Unha no Centro de Criatividade, e implantou uma nova fase de política pública criando o edital para escolha das atrações artísticas e culturais, privilegiando a autêntica cultura nordestina e principalmente a cultura sergipana com mais de 85% dessas atrações sendo do nosso estado.

Nós (Sergipe) começamos esse movimento, são três anos apostando na nossa cultura e na nossa identidade, precisamos perder esse sentido de nanismo, de só acompanhar o que nos impõe, somo protagonistas a muito tempo da cultura desse país e não meros figurantes.

Devolvemos o nosso São João a nossa gente, devolvemos a alegria aos sergipanos que passa para os visitantes que aqui chegam, devolvemos a autoestima aos nossos artistas. Que alegria ver Mestrinho acabando o show em prantos de emoção de estar na sua cidade e ser tão aplaudido e ovacionado, provando definitivamente que Santo de Casa não faz só milagre, ver Amorosa de volta aos palcos e se sentir viva e querida por todos, sorriso e felicidade estampado nas faces dos nossos artistas, Casaca de Couro, João da Passarada, Sena, Correia dos Oito Baixo, Valtinho do Acordeon Helber Matheus sendo valorizados e prestigiados, e o prazer dos não sergipanos que aqui são tratados como tal, Fala Mansa, Jurandi da Feira e Rasta Pé. Hoje tem mais cultura popular, tem mais respeito as tradições e a identidade do nosso povo e até dia 30 esperamos todos para mostrar para o país a nossa força cultural.

“Viva Sergipe o nosso País do Forró e para os desavisados a Capitá é Aracaju sim senhor!”

Relembrado os fatos. A nossa realidade atual é derivada de uma pandemia, e com ela vem os problemas possíveis, imagináveis e os inimagináveis. Temos obrigação de começar a pensar para todos, não só para os umbigos de quem está no poder. A cultura foi muito afetada, o setor de entretenimento parou, mas estamos novamente prontos para festejar. É dia de festa, dia de sentir alegria e se divertir. É também sinônimo de crescimento de desenvolvimento da economia e de geração de emprego e renda. O País do Forró está de volta e faz girar uma cadeia de negócios de grandes proporções e que gera atividade econômica o ano inteiro.

O momento lúdico da apresentação da quadrilha, do show de forró, dos cheiros e gostos que alimentam nossa alma, nos carregam de energia para o dia a dia da nossa vida, alimentam também o mercado de emprego e de serviços de tal modo, que hoje já temos um ramo de negócio genuinamente nordestino: “A economia do forró”.  As ações envolvidas englobam o turismo em todo seu setor. Investimentos dos governos estaduais e municipais, infraestrutura de parques de consumo e diversão, ambulantes, hotelaria, festas privadas, arrecadação de impostos, cache de artistas, costureiras, artesões, cozinheiras, brincantes, garçons e técnicos.

Uma quadrilha junina para dançar custa de R$ 150.000,00 a R$ 300.000,00, é a maior atração dos festejos e a que menos recebe investimentos, se o País do Forró tem 40 quadrilhas e elas colocam em média R$ 8.000.000,00 no mercado, ela merece uma parte desse investimento devolvida para elas, ou não? Só esse ano o poder público vai colocar em suas programações em torno de 400 shows de artistas sergipanos sempre com baixos cache’s priorizando ainda o artista nacional que muitas das vezes não representam e nem acrescentam nada para a cultura nem para o nosso crescimento e desenvolvimento, muito pelo contrário, leva os nossos recursos embora do estado.

Então observe, em 400 shows teremos a participação em média de 10 músicos, cantores e técnicos, assim teremos 4.000 pessoas envolvidas, e que recebem também em média, R$ 300,00 de cachê, gerando uma renda de R$ 1.200.000,00 isso somado ao transporte, figurinos, estúdio para ensaios, instrumentos, alimentação, gravação etc. Podemos colocar sem nenhuma dúvida uma geração de renda para o estado de mais de R$ 8.000.000,00, o dobro ou o triplo investido no setor. Vamos colocar números no nosso festejo, sem esquecer da lúdica.

A Assembleia Legislativa de Sergipe, pensou e elaborou com a Fundação Dom Cabral o Plano de Desenvolvimento Sustentável de Sergipe, um plano de estado e não de governo onde mostra com muita clareza, e a quem tiver a inteligência de ler e seguir, os nossos potenciais. E, entre os mais importantes setores está o turismo e dentro deste setor os festejos juninos, o nosso País do Forró.

Já temos tudo, agricultura, comidas típicas, tradição, história, arte e cultura popular, artistas, cantores, músicos, quadrilhas, fogos, Barco de Fogo, hotéis, receptivo, restaurantes, eventos e o amor do povo de festejar, só falta gestão profissional pensada e trabalhada com números e metas para beneficiar a nós sergipanos. Somos grandes, somos Sergipe, o País do Forró.