A pandemia afetou todos nós. Quando eu falo de todos nós, me incluo nesse grupo. Não é porque trabalho com saúde mental que esteja imune aos dissabores da vida e ao impacto que esse vírus causou na vida de cada um de nós.

Não foi diferente com os jovens. Alguns estudos revelam que um quarto dos adolescentes no mundo tem sofrido de depressão, e um quinto está lidando com ansiedade. Não é pouca coisa.

Como saber se realmente o adolescente está deprimido ou se se trata apenas de sentimentos e comportamentos comuns nessa faixa etária, como, por exemplo, mudança no humor, melancolia, letargia?

Essa não é uma pergunta tão fácil de responder, porque a adolescência é uma fase que vem acompanhada de muitas mudanças emocionais, físicas (corpo, hormônios etc.) e até sociais (expectativa da escolha de uma profissão, da escolha – ou não – de uma faculdade, da perspectiva de se afastar dos melhores amigos quando terminar o ensino médio etc.). Tudo isso ao mesmo tempo. É um período em que a vida está em grande ebulição. E não são todos os que têm facilidade em expressar aquilo que sentem, menos ainda para os pais.

Como então saber se algo realmente não vai bem? Primeiro, observe se o jovem está tendo algum tipo de prejuízo. Essa é uma das primeiras coisas que atestam algum problema de saúde mental. Assim, se o desempenho do adolescente desabou na escola ou na prática esportiva, se ele sequer tem vontade de se reunir com os amigos, é um sinal forte de alerta.

Outro é quando pais ou professores sentem que “há algo esquisito” com aquele jovem. O “algo esquisito” pode ser qualquer coisa. Cada adulto que convive diariamente com aquele garoto ou garota será capaz de identificar aquilo que lhe parece estranho. Mas é muito importante que se acenda essa luz vermelha, especialmente, porque ela é acesa por pessoas que convivem diariamente com esse adolescente.

Depressão é uma doença, um problema sério de saúde mental. Ela geralmente não melhora sozinha. Assim, se você perceber um desses sinais – ou ambos – converse com o seu filho ou filha e leve-o para uma consulta com um profissional especializado. Pode ser, claro, o próprio pediatra. Muitos deles acompanham esses garotos até quase a idade adulta. Nada errado em levar o adolescente a ter uma consulta com alguém que ele já conhece e confia.

A conversa com o filho ou a filha tem de ser a mais honesta possível. Ele tem de saber que a queda no desempenho não é culpa dele, mas de um problema de saúde mental que está afetando vários aspectos da vida dele e até amizades. O jovem tem de saber também quais os possíveis outros impactos que uma doença não tratada pode gerar na vida dele. Alguns levantamentos já apontaram que muitos adolescentes têm medo do que a família vai achar deles por estarem se sentindo como estão. Por isso, carinho e empatia pela dor deles é muito importante.

Se algum dos pais já teve depressão, uma boa ideia é compartilhar essa experiência com o filho, de forma que aquele jovem entenda que dá para sair dela, voltar a se sentir melhor e aproveitar a vida.

 

 

FORBES

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