Falar de depressão resistente e ideação suicida, mesmo antes do setembro amarelo é uma urgência. Dr. Alexandre Agacir, psiquiatra e diretor técnico da Equilíbrio Clínica Dia, Urgência Mental e Assistência Integrada 24h, que fica em Aracaju, vê o aumento da chegada de pacientes com esse quadro, com muita preocupação. Atualmente a tentativa de suicídio e as emergências psiquiátricas representam 20% de todos os atendimentos de emergência em pronto-socorro. Mais de 90% das tentativas de suicídio estão relacionadas com algum transtorno mental não tratado (depressão, ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia, uso de substâncias).
Em entrevista, Dr. Alexandre Agacir, falou sobre como agir rápido nestes casos para salvar vidas. “O ato deliberado e intencional de tirar a vida é denominado suicídio. A expressão comportamento suicida se refere à presença de pensamentos de morte, plano suicida, tentativa ou o próprio suicídio”, explica.
De acordo com o médico, é preciso ficar atento à depressão resistente. “Esse é um termo que se refere ao paciente com um quadro de depressão já diagnosticado e que não respondeu a 2 tentativas de tratamento. Infelizmente a porcentagem de depressão resistente é estimada em 30% do total de casos de depressão. Isso aumento o risco de suicídio, aumenta os custos de tratamento, aumenta o afastamento ou absenteísmo ao trabalho, enfim, é um caso mais grave de depressão”, conta.
Dr. Alexandre Agacir: “É preciso ficar atento à depressão resistente”
Como a depressão resistente é mais difícil de tratar, ela aumenta o risco de suicídio. “Quando o indivíduo apresenta uma depressão de difícil tratamento (resistente) é necessário a associação de medicações, psicoterapia e também a intensificação do tratamento com atividades terapêuticas (por exemplo a arteterapia, atividade física, musicoterapia). Uma forma do paciente ter acesso a essas terapias é através da Clínica Dia (atividades terapêuticas diárias e acompanhamento psiquiátrico e psicológico) e também em casos de urgência há a assistência integrada (que é o internamento de curta permanência para retirar o paciente da crise – também com acesso às atividades terapêuticas e avaliação psiquiátrica na Equilíbrio Urgência Mental)”, orienta.
Na Urgência Mental em Aracaju, desde a pandemia da covid-19 houve o aumento de casos de ideação e tentativa de suicídio. Na instituição há leitos de observação e leitos para internamento de curta permanência (10 suítes no total), onde a taxa de internamento devido ao quadro de ideação suicida (pensamentos persistentes) ou tentativa (algum ato já realizado com a intenção de autoextermínio) ocorreram. A taxa se mantém em um número alarmante: de 50 a 60% dos casos de internamento. Além da porcentagem alta, também chama a atenção que a maioria desses pacientes são jovens (realmente adolescentes a partir dos 12 anos) e adultos jovens (entre 18 e 29 anos). Esse aumento na taxa de tentativas de suicídio entre jovens e adultos jovens já é apontada em inúmeras pesquisas sobre o tema no Brasil.
Clínica disponibiliza leitos de observação e leitos para internamento de curta permanência
O indivíduo com pensamentos ou tentativa de suicídio necessita de atendimento médico de emergência. “Existe uma certa “graduação” entre a intensidade e o risco de suicídio que se iniciam com as ideias de morte (pensamento ocasional) e que podem evoluir para pensamentos de morte (de maneira persistente no pensamento) e chegando até a tentativa de suicídio propriamente dita. Outra coisa a se avaliar é a presença de impulsividade (mais frequente entre jovens e pessoas com personalidade instável e impulsiva), a presença de planejamento prévio (mais comum entre idosos)”, alerta.
O psiquiatra afirma ainda que na avaliação sobre a forma que se apresenta a ideação ou tentativa de suicídio também é importante avaliar a história pessoal e saber se o indivíduo já apresentou tentativas prévias, qual o suporte social existente e na história recente desse indivíduo quais os “gatilhos” presentes como separação conjugal, desemprego, lutos, etc.
O principal fator de risco para o suicídio é a presença de um transtorno mental não tratado, mais de 90% dos casos de suicídio estão associados à depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e abuso de substâncias. “Esse dado nos mostra a importância extrema de tratar os transtornos mentais. Além da presença dos transtornos mentais, temos outros fatores de risco que podem ser “gatilhos” de uma crise: separação conjugal, pouco suporte social, luto recente, desemprego, indivíduos solteiros e na faixa etária de maior risco – jovens e idosos”, informa.
Felizmente já existem novas opções medicamentosas para tratamento dessas duas situações graves (depressão resistente e ideação suicida). “Temos a cetamina (utilizada somente em ambiente hospitalar) para depressão e ideação suicida. Esse medicamento é um anestésico com efeito no aumento cerebral do glutamato (uma nova forma de antidepressivo) que é aplicado em ambiente hospitalar de forma endovenosa, intramuscular ou subcutânea (existe um protocolo para aplicação) e também o cloridrato de escetamina (derivado da cetamina) que tem uma apresentação para aplicação intranasal. A escetamina também só pode ser utilizada com indicação médica e em ambiente hospitalar. Tanto a cetamina como a escetamina seguem um protocolo médico de aplicações semanais (inicialmente duas vezes por semana nas primeiras quatro semanas) associadas aos antidepressivos orais tradicionais”, finaliza.