No mês da Consciência Negra, uma pesquisa inédita feita pelo Instituto Locomotiva mostra que negros e brancos continuam vivendo em um mundo desigual no que diz respeito a capacitação e a remuneração. No País, os trabalhadores brancos com nível superior ganham, em média, 29% a mais do que negros com a mesma escolaridade. Já entre as mulheres, a disparidade salarial é de 27%.
“Isso contraria a ideia de que os negros ganham menos porque têm menos escolaridade. O recorte por grau de instrução mostra que há uma lacuna salarial que só é explicada pelo racismo crônico da nossa sociedade”, afirma Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Segundo Meirelles, a diferença salarial entre brancos e negros cresce à medida que aumenta o grau de instrução. Entre os brasileiros que ganham a partir de R$ 10 mil por mês, por exemplo, apenas 19% são negros, mesmo estes representando 55% da população.
CONSUMO
A desigualdade salarial entre os trabalhadores causa impacto também no consumo. Ainda segundo a pesquisa, anualmente os negros movimentam R$ 1,6 trilhões. Já as demais etnias movimentam juntas R$ 2,3 trilhões.
“É um mercado com grande potencial de consumo. Se os negros recebessem salários equiparados aos dos brancos, seriam injetados de R$ 776 bilhões por ano na economia”, acrescenta Meirelles.
Segundo cálculos da entidade humanitária inglesa Oxfam, se mantido o ritmo de inclusão observado nos últimos 20 anos, a equiparação da renda média entre negros e brancos só irá acontecer no Brasil em 2089 – mais de dois séculos após a abolição da escravatura.
O levantamento faz parte do estudo “O desafio da inclusão”, elaborado pelo Instituto Locomotiva, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.