Uma vida inteira de sofrimento, sem muitos amigos, por ser considerada diferente dos demais, e muita angústia. Foi assim que a nutricionista, personal trainer e influenciadora digital Sol Meneghini passou grande parte dos seus 33 anos de idade. Somente aos 28 ela descobriu que tinha autismo. Antes, Sol já havia sido diagnosticada com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que na adolescência era tratada como Hiperatividade.

“Como não sabia o que era Autismo, pensava que eu tinha algum tipo de depressão, ansiedade, algo do tipo, não sabia ao certo. Não havia tratamento, então eu usava medicamentos para ansiedade, para conseguir dormir melhor e me concentrar nas atividades diárias. O modo ao qual eu tentava expressar meus sentimentos, muitas vezes era visto como falta de empatia. No falecimento de algum ente querido ou até mesmo em momentos felizes, eu não sabia ao certo o que fazer, se era momento de chorar ou dar risadas”, contou Sol Meneghini.

O relato da influenciadora digital é um exemplo prático de como a vida do autista pode ser bastante difícil. Hoje, diagnosticada, ela faz tratamento e tem acompanhamento por um neurologista, psiquiatra, neuropsicólogo, faz terapia e fisioterapia, porque quando era criança andava na ponta dos pés, assim como seu filho que também é autista. “A terapia me ajuda bastante. Não gostava de contato físico, na verdade comecei a gostar na fase adulta com a vida me ensinando. Tinha muitas crises, não sabia porque ficava assim, só chorava, as vezes gritava ou me trancava no quarto para me acalmar”, diz.

Sol Meneghini lembra como o Autismo interferiu na forma como as pessoas lhe viam. Ela recorda que tinha muita dificuldade na interação com pessoas. “Eu tentava sempre ser comunicativa, ou era demais ou era de menos. Sempre fui muito estudiosa, gosto de livros e estudar bastante, gosto de rotina, daí na faculdade algumas coisas me tiravam o sono: barulho na hora da prova, pessoal falando muito alto, mudança de data de entrega de trabalhos e provas isso me incomodava muito. As pessoas não me compreendiam e sempre me julgava por ser dessa forma”, lembra.

Autismo

O Autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), como atualmente é denominado, é um transtorno de causa genética, ainda que fatores ambientais possam influenciar ou modular a apresentação clínica dos pacientes acometidos. Segundo a médica neuropediatra Dra Fabíola Ramos, o diagnóstico é eminentemente clínico, não sendo necessários exames complementares para a confirmação do mesmo, como Ressonância Magnética ou Eletroencefalograma.

Dra Fabíola Ramos, neuropediatra

“Estes só devem ser pedidos em caso de alterações motoras ou crises epilépticas associadas à suspeita de TEA. O profissional competente para a definição diagnóstica é sempre um médico especializado, seja neurologista ou psiquiatra infantil, que se utilizam de critérios clínicos definidos pelo DSM V. Não existe idade definida para diagnóstico, mas entendemos que quanto mais precocemente o mesmo se der, melhor resposta à estimulação global. Quanto mais jovem a criança, menos podas neurais ocorrerão e melhor a resposta aos estímulos devido a uma maior plasticidade neural”, comentou.

“Entendemos por diagnóstico precoce aquele dado até os 3 anos de idade. Uma vez que a criança seja levada ao médico especialista para avaliação, independentemente da idade, mesmo nos menores de 36 meses, uma vez percebidos os sinais de alerta para o TEA, os mesmos já devem ser encaminhados para estimulação global com equipe interdisciplinar, muitas vezes também importante no processo diagnóstico”, complementou Dra Fabíola.

Tratamento

O tratamento do TEA se dá inicialmente por uma abordagem humanizada do médico e da equipe com a família, acolhendo-a nas suas dúvidas e medos diante da nova situação. A criança deve ser estimulada globalmente pela Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Psicologia, e, posteriormente, pela Psicopedagogia, no caso de haver demandas pedagógicas. A família deve também entender e ser orientada sobre seu papel diário nesse contexto. “A Musicoterapia também é um recurso muito útil. Não existe necessidade absoluta de tratamento medicamentoso, exceto em casos de questões comportamentais que comprometam a funcionalidade da criança e sua qualidade de vida”, orienta.

O tratamento do TEA se dá inicialmente por uma abordagem humanizada do médico

A neuropediatra explica que existem graus de Autismo, por isso ele foi redefinido como Transtorno do Espectro Autista, justamente por envolver espectros que variam desde uma forma muito leve até severa. Quem define esse grau ou gravidade não é necessariamente a quantidade de sinais e sintomas que o paciente apresenta, mais ou menos, mas a intensidade e frequência com que esses se apresentam e a perda funcional que ele gera nas funções de linguagem e nas habilidades sociais da criança.

“Esse grau não deve ser definido tão precocemente, uma vez que a funcionalidade da criança vai sendo melhor observada no decorrer do processo de estimulação. Acima de tudo o tratamento envolve muito amor e inclusão de todo indivíduo com TEA, para que possamos crescer numa sociedade que respeita e acolhe a diversidade”, concluiu.

Mãe e filho

O filho de Sol Meneghini, Eduardo Almeida (Dudu), de 7 anos, também foi diagnosticado com Autismo. Assim como ela, ele tem um grau moderado.  “Eu descobri que ele era autista antes de mim. Foi através dele que iniciei a investigação do que eu tinha, já que minha tia era autista e ela tem mais de 40 anos, teve diagnóstico tardio. Minha reação foi tranquila, como se eu esperasse isso mesmo, eu queria entender o que ele tinha, parecia muito comigo quando eu era criança”, disse.

A influenciadora digital explica que o desenvolvimento do filho está avançando. Ela lembra que houve muito preconceito por conta dos pais e colegas na escola, que inclusive rejeitaram matrícula dele. “Foram épocas difíceis”, lamenta. “Explico para ele quando alguém não quer brincar ou falar, quando as pessoas não correspondem ou não respondem como ele precisa, peço que tenha calma. Algo muito relevante no Autismo é a frustração, a gente  sofre demais com o ‘não’, por isso precisa ser trabalhado a forma que se fala isso”, comentou.

Sol Meneghini “A terapia me ajuda bastante”

“A primeira coisa a se fazer quando se descobre que seu filho é autista é aceitar e procurar tratamento imediatamente. E o mais importante: não desistir do filho, dar amor, ter paciência e investir na evolução dele. Se for adulto, foque na terapia, procure ajuda imediatamente. O diagnóstico tardio existe para adultos, o autismo não é moda, os autistas não são todos iguais, nós estamos dentro de um espectro e precisamos de empatia, compreensão e respeito. Somos muito leais aos amigos e parceiros para uma vida inteira, isso é bem bacana”, concluiu Sol Meneghini ao explicar que no seu perfil no Instagram (@dra.solmeneghini) ajuda muitas famílias que estão nessa caminhada.

 

 

 

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