Conhecido em todo o país, o humorista Renato Aragão, de 87 anos, foi internado no último dia 7 de dezembro, no Rio de Janeiro, após sentir tonturas e um leve desconforto. O diagnóstico foi Acidente Isquêmico Transitório (AIT), quando, por uma redução de fluxo sanguíneo em alguma área cerebral, a pessoa tem um déficit neurológico súbito como fraqueza do braço, prejuízo da fala, entre outros sintomas. Aragão recebeu alta após 48 horas de internação e já está em casa com a família.
Segundo o neurologista, neurofisiologista clínico e Responsável Técnico da equipe de Neurologia do Hospital de Urgência Governador João Alves Filho (Huse), Dr Marcelo Paixão, por ter uma condição clínica fisiopatologicamente e também em termos operacionais clínicos igual ao Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCi), a conduta adotada para casos de AIT é a mesma conduta emergencial para qualquer pessoa que apresente um déficit súbito neurológico.
“O conceito mais antigo dizia que a melhora do quadro clínico deveria ocorrer em até 24 horas, porém atualmente é de até 1 hora. O importante é ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e ir direto para o hospital. Obviamente, não cabe ao paciente ou familiar aguardar para verificar se a fraqueza súbita do braço, por exemplo, irá melhorar ou não. O médico que atender este paciente no pronto socorro também adotará todas medidas cabíveis para diagnóstico e terapia de reperfusão se assim confirmado uma isquemia cerebral em evolução”, disse Paixão.
Dr Marcelo Paixão, neurologista
Mesmo com a melhora clínica parcial ou total, o paciente deve ser atendido como caso emergencial no hospital para realizar tomografia e angiotomografia arterial cerebral. Caberá ao neurologista associar os dados clínicos e de neuroimagem para a tomada de decisão terapêutica. Dr Marcelo ressalta que existe a possibilidade de uma melhora clínica temporária simular um AIT, mas logo em seguida o paciente pode ter uma grande piora se não for ofertado o tratamento neurológico adequado.
“O tratamento começa com a consolidação da compreensão de que qualquer déficit neurológico súbito, como perda de força, sensibilidade, equilíbrio, fala, visão, entre outros, deve ser considerado um caso grave que exige o imediato encaminhamento ao hospital. A realização da neuroimagem e avaliação pela neurologia são indispensáveis. Somente assim saberemos qual o melhor tratamento. Terapias de reperfusão para o AVC como trombólise endovenosa e trombectomia mecânica arterial são medidas de indiscutível validade científica para o AVCi. Num segundo momento, o médico decidirá pelo ajuste de medicações antiagregantes ou anticoagulantes junto com o controle dos fatores de risco acima mencionados”, explica o médico.
Prevenção
Dr Marcelo Paixão alerta para os fatores de risco para AVC e AIT, como sedentarismo, obesidade, hipertensão arterial sistêmica, ronco e apnéia obstrutiva do sono, tabagismo, fibrilação atrial, dislipidemia, entre outras são condições. Segundo ele, a prevenção pode ser primária, quando se promove uma vida saudável pela prática de atividade física, boa dieta e por evitar obesidade, tabagismo e etilismo.
“Diagnóstico precoce e o adequado tratamento de roncos no sono, hipertensão arterial, hiperglicemia e arrtimia cardíca também é imperativo. Quando adotamos estas medidas após o paciente já ter sofrido o evento de AIT/AVC então chamamos de prevenção secundária. Neste momento, também indicamos a realização de vários exames laboratoriais, cardiológicos, vasculares, de neuroimagem e de polissonografia para identificarmos a etiologia do evento isquêmico”, afirma Dr Marcelo.