Com o avanço da ciência a população acabou envelhecendo mais, porém é importante conhecer as necessidades dos pacientes idosos para que essa vida mais prolongada seja aproveitada com qualidade. Para orientar o indivíduo como ele deve adotar hábitos saudáveis que lhe garantam uma boa promoção à saúde, o médico geriatra é o responsável. Nessa entrevista, nós conversamos com a cardiogeriatra Drª Loren Suyane Oliveira de Andrade, que fala sobre esse importante ramo da medicina.

Cinform Online – O que é a cardiogeriatria?

Drª Loren Suyane Oliveira de Andrade – A geriatria é uma especialidade muito heterogênea. Então, as vezes falamos: o que fazer para melhorar a saúde cardiovascular de um idoso? A gente precisa entender que a geriatria é um universo muito heterogêneo, em um extremo podemos tratar um idoso de 60 anos saudável, que corre maratona e, no outro extremo, um idoso de 90 anos frágil, acamado, que tem uma série de necessidades diferentes. Então, não existe uma receita de bolo. O surgimento dessa subespecialidade da cardiogeriatria trouxe um cuidado diferenciado para essas peculiaridades do paciente idoso. Nós temos que enxergar o indivíduo idoso como um universo único. Além disso, é muito comum que o paciente idoso manifeste doenças comuns, com manifestações muito atípicas. Normalmente quando a gente pensa em um paciente com suspeita de infarto, logo pensamos em dor no peito, em aperto, que irradia para o pescoço, braço esquerdo, essa é a manifestação e o quadro clínico mais típico. Mas, comumente, o paciente idoso pode manifestar um infarto com sintomas atípicos, com falta de ar, ou um mal estar inespecífico ou até mesmo com delirium, que é um quadro de confusão mental e desorientação. Então, a cardiogeriatria traz esse olhar diferenciado, par entender que aquela manifestação atípica pode corresponder a uma doença que em geral no indivíduo jovem vai se apresentar de outra forma.

Drª Loren: “A gente precisa entender que a geriatria é um universo muito heterogêneo”

Cinform Online – A partir do diagnóstico, o que é feito?

Drª Loren Suyane Oliveira de Andrade – A gente traça as estratégicas terapêuticas de forma individualizadas. Uma coisa é um idoso de 60 anos saudável, onde eu vou investir em medidas mais rigorosas de promoção à saúde de vida. Por exemplo, eu vou tratar a hipertensão e diabetes com metas de pressão e glicemia mais restritas. Em um paciente mais frágil, eu não posso utilizar as mesmas estratégicas terapêuticas, porque ele provavelmente vai sofrer mais efeitos colaterais do que benefícios. Então é olhar de uma forma diferente para quem é diferente.

Cinform Online – Quais as doenças mais comuns nos idosos?

Drª Loren Suiane Oliveira de Andrade – As doenças cardiovasculares são  extremamente comuns no idoso. Eu destacaria a hipertensão, que inclusive é um dos principais fatores de risco para o infarto e AVC (também conhecido como derrame). É uma patologia extremamente comum no paciente idoso e quanto mais idoso mais comum ainda. Apesar de comum, é uma doença ainda pouco controlada. Quando você observa estudos em diferentes estados do país a gente encontra taxas de controle de cerca de 50% ou até menos, então imagine que apenas metade dos indivíduos hipertensos estão com a hipertensão adequadamente controlada.

 

Cinform Online – Como surgiu o interesse por essa subespecialidade?

Drª Loren Suyane Oliveira de Andrade – Depois de formada em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) – de 2008 a 2014 – eu fiz residência em geriatria no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e depois fez uma subespecialização em cardiogeriatria no Incor. Durante a faculdade, sempre me interessei pela cardiologia, durante a primeira residência de clínica geral também pensei em fazer cardiologia. Daí eu tive a oportunidade de realizar um estágio na USP em geriatria e acabei me apaixonando. Então, decidi fazer geriatria aos 45 minutos do segundo tempo. Mas como sempre fui apaixonada pela cardiologia também, optei por fazer essa subespecialidade para tanto poder atuar um pouco nas duas áreas.

 

Cinform Online – Há quanto já está atuando?

Drª Loren Suyane Oliveira de Andrade – Tem cerca de quatro anos que eu terminei a residência de Geriatria e a subespecialidade de Cardiogeriatria. Despois eu trabalhei um tempo como voluntária no Incor, no ambulatório de Cardiogeriatria.

 

Cinform Online – Essa subespecialidade é recente?

Drª Loren Suyane Oliveira de Andrade – Quando comparada a maioria das especialidades, ela é relativamente recente. E acredito que tanto a geriatria, como as subespecialidades dela vêm ganhando mais importância recentemente. A população tem enxergado a necessidade de ter um profissional que trate o indivíduo como um todo e que possa funcionar como um maestro do tratamento do paciente idoso tendo todo um cuidado, pois o paciente idoso geralmente usa muitos medicamentos para diversas comorbidades tratadas por especialidades diferentes. Então, é ter alguém que vai explicar e orientar como esses medicamentos devem ser administrados. Acho que o manejo interdisciplinar, com o Geriatra em parceria com as outras especialidades, traz muitos ganhos ao idoso.

 

Cinform Online – Todo mundo vai envelhecendo e quer viver mais, como o idoso pode prolongar a sua vida a partir dos 60?

Drª Loren Suyane Oliveira de Andrade – Eu costumo falar que o melhor remédio é alimentação e o estilo de vida saudável. Ter uma vida saudável, uma dieta equilibrada, a prática regular de exercícios físicos, preferencialmente supervisionados e prescritos por um profissional da educação física que vai entender as necessidades físicas daquele idoso de uma forma individualizada, são os pilares mais importantes de uma vida saudável em qualquer faixa etária. Eu costumo falar também da importância de uma equipe multidisciplinar na promoção à saúde do idoso. Infelizmente não é uma realidade que a gente consegue atingir sempre para a população em geral. Vejo como cenário ideal um idoso sendo acompanhado por nutricionista, educador físico, fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta. A partir do momento que a gente tem todas essas áreas atuando em conjunto a gente tem ganhos muito proeminentes. Eu foco muito na promoção à saúde, eu mesma prescrevo exercícios físicos no receituário de acordo com as condições cardiovasculares daquele indivíduo, qual o tipo de exercício físico que ele consegue fazer com segurança. A orientação hoje para a população idosa geral é ter pelo menos 150 minutos de atividade física de leve a moderada intensidade por semana de exercício físico aeróbico e o exercício resistido, que é a musculação, pelo menos duas vezes por semana, sempre com acompanhamento de um educador físico. Além disso, se você quer ter uma vida mais prolongada deve controlar as doenças crônicas, hipertensão, diabetes, dislipidemias, para ele ter uma qualidade de vida com autonomia.

 

Cinform Online – E qual o papel do nutricionista e fisioterapeuta na promoção à saúde do idoso?

Drª Loren Suiane Oliveira de Andrade – O idoso acaba tendo uma necessidade proteica maior, conforme a gente vai envelhecendo perde massa muscular e se não pratica exercício resistido, como a musculação, essa perda fica mais proeminente. Então, a gente precisa introduzir suplementos proteicos, creatina, e nesse cenário ninguém melhor que o nutricionista para fazer essa orientação. Para mim, o melhor é o médico atuando com uma equipe multidisciplinar. Muitas vezes é um paciente com uma condição física mais debilitada, que não consegue se submeter a um programa de exercícios físicos de imediato e precisa de reabilitação, então o fisioterapeuta entra com uma primeira linha de tratamento, e eu tenho resultados incríveis com medidas não farmacológicas de estilo de vida mesmo.

 

Cinform Online – Qual a importância do familiar para a saúde do idoso?

Drª Loren Suiane Oliveira de Andrade – É fundamental. A gente vê uma diferença muito grande no sucesso terapêutico quando o indivíduo idoso tem um suporte social adequado. Ter um familiar presente, que auxilia, que acompanha o paciente, as tomadas das medicações, isso é essencial.  Tem idoso que vai precisar de algum auxílio, principalmente àqueles idosos com algum tipo de alteração cognitiva. Ter um familiar presente é importante para o sucesso do tratamento. É um outro pilar essencial.

 

 

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