Após sentir muitas dores no ombro, sensação de queimação e o aparecimento de lesões bolhosas nas mãos, que progressivamente foram aumentando em direção ao braço, a funcionária pública Deborah Sena França decidiu procurar uma urgência por não suportar mais as dores que sentia. Após idas e vindas, e um diagnóstico errado, na terceira visita ao hospital veio a confirmação: ela estava com herpes zóster.

Ela relata que a experiência com a doença foi bastante traumática. Na urgência, suspeitaram que ela tinha desidrose na mão direita, mas como os sintomas e as dores persistiam, Deborah retornou ao hospital e recebeu o diagnóstico correto. “Acabei ficando com a imunidade muito baixa e não tomei a medicação indicada logo no início. Fiquei 10 dias internada recebendo antibióticos, aciclovir e remédios para dores”, relata Déborah.

Deborah Sena: “O vírus é bem perigoso justamente porque pode deixar sequelas”

Mesmo após receber alta, a sua vida ainda não já voltou ao normal. Ela ainda não recuperou totalmente os movimentos da mão direita e segue realizando fisioterapia. Depois de sentir na pele os efeitos da herpes zóster, ela considera importante que as pessoas busquem orientação médica, principalmente de um infectologista, ler sobre a doença, através de fontes seguras, ouvir os profissionais de saúde e, quem puder, tomar a vacina.

“Eu tive o azar de ser diagnosticada erroneamente no início, mas acho que o caminho é procurar o hospital e verificar antes que se torne mais grave. Não se automedicar nem acreditar em tudo que se lê na internet, sei que muitas pessoas (inclusive eu) recorrem a esse mecanismo equivocado. O vírus é bem perigoso justamente porque pode deixar sequelas, que foi o meu caso. É uma doença que causa muitas dores e que pode deixar sequelas. Também é importante ter as outras vacinas em dia e fazer os exames de rotina regularmente”, pontua.

O caso dela reforça os cuidados que as pessoas devem ter com a doença infecciosa provocada pelo vírus Varicella-Zoster (Human Herpesvirus-3 – HHV-3), o mesmo que causa a catapora (varicela). A herpes zóster é uma doença oportunista de reativação, ou seja, após a infecção pelo vírus varicella zóster durante qualquer fase da vida, o paciente tem a doença primária que é a catapora ou varicela. Esse vírus permanece silencioso nas terminações nervosas por anos até que, um dia, ele é reativado.

Déborah ao lado do filho Henri. Sua vida ainda não voltou ao normal

Segundo a médica infectologista Drª Mariela Cometki, a doença pode acometer homens, mulheres, jovens e até crianças, mas é mais comum em idosos, consequência da queda natural de suas defesas do corpo com o avançar da idade. É uma doença contagiosa, mas apenas entre pessoas que nunca tiveram catapora e que entram em contato com o conteúdo das vesículas do herpes-zóster. “Tem uma incidência de 4 a 12 casos de herpes-zóster em um grupo de 1.000 pessoas com idade superior a 65 anos a cada ano”, explica.

A apresentação mais frequente dessa enfermidade é o aparecimento de uma erupção (lesão) na pele, dolorosa e assimétrica, e que se manifesta especialmente nas regiões intercostais ou na face, mas podem aparecer também nos membros superiores e na cabeça, e estender-se em grandes áreas. A doença pode se manifestar com dor, febre, cansaço, formigamento local e ardor. “Quando há erupção cutânea, as vesículas podem demorar de 2 a 10 dias até secarem e começarem a cicatrizar com uma casquinha amarelada. A recuperação total se dá no período de 2 a 4 semanas, quando não há complicações”, comenta a médica.

Drª Mariela Cometki, infectologista

diagnóstico

Na hora da consulta, o médico vai ouvir a queixa do paciente, fará o levantamento do seu histórico de saúde e também o exame físico, com especial atenção à possível presença de lesões cutâneas. Na maioria das vezes, o diagnóstico se baseia nessas informações, por isso é chamado de clínico-epidemiológico (o profissional considera também o possível quadro de catapora na infância e outros fatores de risco).

“Há situações nas quais não é possível fazer o diagnóstico clínico porque os sintomas não são tão explícitos. Nesses casos, podem ser necessários exames complementares para avaliação da eventual lesão atípica (biópsia, por exemplo). Menos usado, o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) pode ser útil na identificação do material genético do vírus, coletado da secreção das lesões”, destaca Drª Mariela.

complicações

Um dos efeitos mais temidos dessa doença é a dor neurálgica, que pode persistir mesmo após a recuperação das lesões cutâneas e se tornar crônica (neuralgia pós-herpética), além de graves lesões em áreas nobres como olhos, ouvidos e nervos da face causando perda da função e paralisia facial. O tratamento é realizado com antivirais e quanto mais cedo for diagnosticado, maiores são as chances de evitar complicações. Em geral, a herpes zóster é mais comum entre pessoas cujas defesas do corpo estejam comprometidas.

Já tomei a vacina da catapora, posso ter herpes-zóster?

A vacina da varicela oferece proteção contra a catapora e está incluída no Calendário Básico de Vacinação da infância (adultos também podem ser imunizados na rede privada, o que muda é o esquema de doses). Trata-se de um imunizante combinado com a tríplice viral, que inclui sarampo, caxumba e rubéola (tetraviral). Pessoas que já tiveram essa doença na infância, e têm mais de 50 anos, também podem tomar a vacina contra o herpes zóster em clínicas privadas.

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