O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), somente no Brasil, 86% da população sofre com algum tipo de transtorno mental como depressão, ansiedade, fobias e transtornos de personalidade. Conhecer os sinais de alerta é necessário para identificar alguém que possa estar em risco.
Segundo a psicóloga Flor Teixeira, a prevenção ao suicídio não tem apenas uma variável, mas todo um contexto que o ser humano está inserido. “O suicídio é o último ato diante de um sofrimento imenso pelo qual não se vislumbra nenhum tipo de melhora ou nenhum tipo de mudança. Para se prevenir o suicídio, a gente precisa pensar em um tratamento para as doenças mentais e o acompanhamento com diferentes profissionais, além de uma sociedade mais igualitária e muito mais acolhedora”, comenta.
De acordo com o Núcleo de Prevenção de Violências e Acidentes (Nupeva) da Secretaria de Estado da Saúde, até o dia 1ª de setembro tinham morrido por suicídio, em Sergipe, 79 pessoas, sendo 65 do sexo masculino e 14 do sexo feminino. O número corresponde a 50% do número de óbitos ocorridos em 2022 (159).
Patrícia Lima, Referência Técnica do Nupeva
Segundo levantamento de notificações de lesões autoprovocadas – nome técnico para a tentativa de suicídio – nos últimos 10 anos, em Sergipe, diferente dos óbitos onde os homens obtiveram maior êxito, são as mulheres que mais tentam contra a própria vida. A proporção é de uma tentativa masculina contra duas femininas (dados de 2023), com um predomínio na idade entre 15 aos 39 anos com pico na categoria dos 20 aos 29 anos, para ambos os sexos.
“Falar em enfrentamento e prevenção de suicídio implica em alcançarmos o problema na perspectiva dos sinais e sintomas e do acolhimento dos que atentaram contra a própria vida cometendo autoagressões. Aqui, em 2022, para cada cinco tentativas um obteve êxito, o que reflete que apesar do aumento nas notificações ainda estamos em processo de conscientização e sensibilização dos profissionais de saúde quanto a este agravo”, explica a Enfermeira Patrícia Lima, Referência Técnica do Nupeva.
De acordo com a especialista, o aumento vem ocorrendo de forma ascendente desde 2020. Em 2023, até o presente momento, foram 525 notificações, o equivalente a 67% do total de registros em 2022 (778). Segundo estudo realizado pela FioCruz Amazonas, é um efeito indireto da pandemia da Covid-19 acometendo, principalmente, as regiões cuja vulnerabilidade social, financeira e econômica é mais acentuada, como o Norte e o Nordeste.
Flor Teixeira, psicóloga
Casos em adolescentes
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de mortes entre os jovens. A psicóloga Flor Teixeira lembra que existem diversas variáveis que podem levar os adolescentes a cometerem suicídio, que vão desde o estresse acadêmico, uma relação conflituosa, o próprio adoecimento mental, depressão, ansiedade e transtornos mentais.
“A gente precisa entender que o período de adolescência traz transições hormonais, comportamentais, sociais e emocionais, e tudo isso interfere na forma como o jovem enxerga o mundo que ele está inserido. Então, eles tendem a ter um comportamento impulsivo muito mais enfático e potencializado e o suicídio se torna uma solução muito rápida, muito prática”, comenta.
A psicóloga reforça que o apoio familiar e de amigos é fundamental para prevenir o suicídio. “O papel da família e de amigos é sempre o de apoio, de acolhimento e muitas vezes até de um possível encaminhamento. Essa pessoa de confiança pode ser alguém para levá-lo ao acompanhamento psiquiátrico ou psicológico”, ressalta.
Onde buscar ajuda
Os casos de saúde mental podem ser atendidos no próprio território de residência do indivíduo. A Atenção Psicossocial tem início na Atenção Primária à Saúde, como, por exemplo, nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). É fundamental que, em caso de necessidade de apoio emocional, a pessoa busque ajuda especializada na unidade de saúde mais próxima. Também é possível acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192 Sergipe).
Existe ainda o Centro de Valorização da Vida – CVV, que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuita todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, pelo telefone 188, todos os dias, inclusive aos domingos e feriados.