Completando 30 anos de existência, atraso
na reforma traz impactos negativos no
turismo e nas finanças do estado

Por Henrique Maynart e Thayná Ferreira

Trintar nunca foi fácil, não há qualquer novidade nisso. Aos trancos, reformas e barrancos o CIC Sergipe bateu três décadas de solenidade e relógio em 2018, mas não há espaço sequer para comemorar. Entregue oficialmente em 1988, o Centro de Convenções de Sergipe Ministro Hugo Castelo Branco, CIC para os íntimos, entrou em reforma no dia 20 de julho de 2015 e só pretende abrir as portas lá para 2019. Congresso? Feira? Formatura? Colação de grau? Conferência? Por enquanto os únicos convidados para eventos na Avenida Tancredo Neves, n° 4444, DIA, são entulhos, matos e abandono.

ESTRUTURA

O Centro de Convenções possuía um pavilhão de Feiras e Exposições com 5.050m² com entrada independente, que sediava eventos que demandavam um fluxo maior de pessoas. Este Pavilhão possuía três baterias de banheiros. O CIC contava com bilheteria, quatro entradas para carga e descarga, quatro saídas de emergência, quatro auditórios e duas salas de treinamento.

PARALISAÇÃO

A primeira data de entrega estava prevista para 9 de janeiro de 2017, ou seja, há 477 dias da publicação desta reportagem. A obra foi orçada primeiramente em R$ 21 milhões de reais em convênio com o Ministério do Turismo, sendo R$ 20 milhões advindos do Governo Federal e o restante custeado com recursos próprios. A demora no repasse por parte da União por oito meses consecutivos, de acordo com informações da Companhia Estadual de Habitações e Obras Públicas (Cehop), acabou interferindo no ritmo da obra.

A empresa Macedo Engenharia LTDA – que havia vencido a primeira licitação – desistiu do empreendimento em virtude de problemas administrativos. O contrato fora rescindido e a quantia de 5 milhões fora paga pelos serviços prestados. Um novo processo licitatório fora aberto em 29 de novembro do ano passado e concluído em 15 de janeiro deste ano. A Ordem de Serviço foi assinada em 20 de março.

NOVO PRAZO

O presidente da Cehop, Caetano Quaranta, ressalta que a obra deverá ter o prazo de 12 meses, “prazo esse a ser contato da data que a Secretaria de Turismo (Setur) enviar o contrato à Cehop com a devida autorização para a emissão da Ordem de Serviço”. Ou seja, o novo prazo está apontado para final de março ou abril de 2019. A empresa Sercol, vencedora da nova licitação, apresentou um orçamento de R$ 19.344.901,01. A Cehop alega que não houve aumento de gastos no intervalo das licitações, uma vez que “a alteração de valor ocorreu apenas nos preços unitários que tinham como base o ano de 2015 e foram atualizados para o ano de 2017”, A obra está paralisada há 1055 dias, a contar da data da publicação desta reportagem, e a projeção é que chegue a 1380 dias até a entrega da obra concluída.

 

SERGIPE NO PREJUÍZO

De janeiro a julho de 2015, a agenda oficial do Centro de Convenções de Sergipe contabilizou 90 eventos, dentre congressos, feiras, conferências, cursos de formação, além de 25 formaturas e colações de grau.

Com a desativação do CIC vários setores foram impactados, o da fotografia principalmente. De acordo com o fotógrafo Eduardo Pereira, a maior dificuldade encontrada hoje na realização de eventos é o espaço para desenvolver seus trabalhos.

“A vantagem do CIC era o espaço em si, dava para gente desenvolver trabalho de grande porte como formaturas. Hoje temos dificuldades de montar cenários em espaços pequenos, como os salões de festas. Algumas empresas têm a necessidade de se deslocar para outras cidades”, relata.

A Associação Comercial e Empresarial de Sergipe (Acese) acredita que tem trazido enormes prejuízos para o estado nas áreas do turismo, comércio e da sociedade sergipana como um todo.

“Desde o fechamento do CIC, não temos nenhum outro espaço para eventos de grande porte em funcionamento no estado. Estamos, aliás, indo na contramão de outras capitais do Nordeste, a exemplo de Salvador, que deverá ganhar mais um espaço para eventos em 2019. Estamos perdendo uma fatia enorme no segmento de turismo de negócios, que é um dos segmentos que mais cresce no mundo e, conforme estudos realizados pela Associação Brasileira de Empresas de Eventos e Sebrae, emprega mais de 7,5 milhões de pessoas no nosso país. A Acese pede celeridade ao poder público na retomada dessa obra que é tão importante para o desenvolvimento de Sergipe”, declara o presidente da Acese Marco Aurélio Pinheiro.

Estado perde U$ 20 milhões ao ano com ausência do CIC. Foto: Davi Costa

NOVO CENTRO DE CONVENÇÕES?

Maurício Gonçalves, superintendente da Fecomércio em Sergipe, lamenta o fechamento. “Isso afetou a economia local, pois centenas de milhões de reais deixaram de ser movimentados na economia sergipana ao longo desses anos, nos quais estamos sem um centro de convenções”.

Maurício ressalta que a entidade pretende tomar a iniciativa de construir um novo Centro de Convenções, caso as obras não se concretizem no prazo estabelecido. “Estamos estudando locais para essa empreitada e os recursos já estão em caixa para erguer essa unidade. Contudo, urge uma atitude por parte do Governo do Estado, para que possa devolver aos empreendedores sergipanos o Centro de Convenções de Sergipe”.

REDE HOTELEIRA

O presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis em Sergipe (ABIH), Antônio Carlos Franco, afirma que o fechamento do Centro interfere diretamente na cadeia de turismo de eventos. “Não temos mais espaços para mais de 1.500 pessoas em Sergipe. Temos um hotel na Barra dos Coqueiros que atende em parte esta capacidade, mas os organizadores de eventos acabam declinando porque o deslocamento de Aracaju para lá não vale a pena”, afirma.

O impacto na rede turística interfere diretamente na arrecadação do Estado e Município, com destaque para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto Sobre Serviços (ISS). A capacidade máxima de auditórios na rede hoteleira de Aracaju é de 700 lugares, insuficiente para suprir a demanda para congressos de mais de mil inscritos, por exemplo.

MAIS DE TRINTA EVENTOS DE GRANDE PORTE PERDIDOS

Luis Simões é membro do Conventions Bureau, organização responsável por captar eventos para o estado de Sergipe. Ele projeta um cálculo de injeção direta de 20 milhões de dólares ao ano, apenas com turismo de eventos, caso tivéssemos um Centro de Convenções em operação. “Levantando uma média de 3 eventos mês com mil participantes cada, com duração de 3 dias, teríamos 36 eventos ao ano e 36 mil turistas gastando cerca de US 150 a 180 ao dia. Perto de 20 milhões de dólares circulando no mercado local, fora os impactos financeiros positivos nos hotéis, restaurantes e em mais de 50 segmentos influenciados pelo fluxo turístico”.

“Desde que o CIC começou a ser deficitário e depois, desativado, perdemos 30 bons eventos, principalmente aqueles com formato de expo/feira e os de maior porte, os que estão acima de 600 participantes. Os eventos não acontecem apenas via “Convention”, portanto este número deve ser maior”, ressalta Luis Simões.

 

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