Orla de Atalaia, principal cartão postal de Aracaju,
está abandonada pelo poder público
Por Julia Freitas e Thayná Ferreira
Construída no início dos anos de 1990, durante o governo de João Alves Filho, a Orla de Atalaia abriga vários pontos turísticos da capital, como os arcos, os lagos artificiais e as estátuas, além dos espaços de esporte e lazer para a população local e os turistas. Durante quase duas décadas, além de receber turistas de diversos lugares do país e do mundo, a orla foi palco de inúmeros eventos esportivos com importância não só para o Brasil, mas também para a América Latina, como a Copa Petrobras de Tênis.
Sergipanos, turistas e pessoas de fora que decidiram morar na cidade já tiraram fotos e caminharam por vários desses pontos. No entanto, a falta de manutenção nos espaços públicos trocou a beleza da orla por ferrugem e matagal. Situação de incomoda sergipanos e turistas.
Os espanhóis Carmen Gomez e Francisco Amoroso estão passando férias em Aracaju e observam a falta de manutenção na Orla. “A orla é linda, mas avistamos muito mato enquanto caminhávamos. Está bem descuidada”, relatam.
A professora Maria Glória Santos mora em Aracaju há muitos anos e ressalta que os próprios sergipanos deveriam ajudar na conservação dos espaços públicos. “Muitos sergipanos acham que só os turistas visitam aqui, mas não. Esse patrimônio é nosso e precisamos preservá-lo. Acho que o poder público também pode melhorar isso aqui e promover palestras educativas de sensibilização”, comenta.
Segundo a Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH), a Secretaria de Turismo alegou que não possui recursos para resolver a situação da orla “devido à crise” e que muitos hóspedes fazem reclamações. “Muitos hóspedes reclamam da falta de manutenção na orla. As vezes são problemas pequenos e de fácil solução, como bancos quebrados, buracos nas calçadas, brinquedos em péssimo estado de conservação. Apesar de termos uma das orlas mais bonitas do país, como toda obra, é necessária uma manutenção constante. O que não é feito”, comenta Antônio Carlos Franco, presidente da ABIH/SE.
Na última semana, a equipe de reportagem do CINFORM percorreu os quase 4 quilômetros da orla, entre o antigo Hotel Parque dos Coqueiros – no final da Passarela do Caranguejo – e o Farol da Coroa do Meio, e relata o descaso encontrado.
ARCOS DA ORLA
Ao chegar no principal monumento de Aracaju, os arcos da Orla de Atalaia, nossa equipe observou a segunda única coisa inaugurada pelo governador Jackson Barreto na área: o monumento colorido com a frase: “Eu Amo Aracaju”. O monumento serve de maquiagem para tapar as imperfeições, ou melhor dizendo, o abandono das fontes iluminadas, que antes serviam de chuveiro para os banhistas que saíam da praia. Hoje, elas são um verdadeiro depósito de água parada, servindo de criadouro para as larvas dos mosquitos Aedes aegypti, transmissor de doenças como zika, dengue e chikungunya, além da sua estrutura apresentar riscos para quem passa pelo local, pois estão enferrujadas e desniveladas.
As fontes, nas noites, davam brilho nos olhos de quem passava pelo local. Era possível ver uma iluminação colorida e encantadora, cenário para belas fotos noturnas. Hoje, além da luz da lua, só a dos postes iluminam o cartão postal de Aracaju e olhe lá.
O final da passarela de madeira, que leva as pessoas até a areia, também apresenta falta de manutenção. Ao contrário da recém-inaugurada passarela na praia da Cinelândia, alguns metros à frente. Ao passar pela passarela dos arcos é possível ouvir as tábuas rangerem em vários pontos e, já na areia, muitas delas estão soltas e jogadas nas proximidades da passarela.
MUNDO MARAVILHOSO DA CRIANÇA
O Mundo Maravilhoso da Criança virou um verdadeiro pesadelo. O local que encantou várias gerações está à beira do caos. O arco da fachada, nas cores do arco-íris, que embelezava todo o ambiente, foi retirado porque corria o risco de cair.
Muitos brinquedos estão enferrujados e/ou quebrados, um grande perigo para as crianças que brincam no espaço. O brinquedo gira-gira, por exemplo, está tombado e entregue à maresia, além de ter virado abrigo para os pombos.
E não são só os brinquedos que estão trazendo riscos para as crianças, os postes de iluminação situados no local estão com as estruturas enferrujadas, sem lâmpadas e alguns fios elétricos expostos, mostrando que realmente não recebem manutenção há anos.
Sem contar nos brinquedos elétricos, que mesmo sendo de uma empresa privada, não recebem fiscalizações do governo e estão em condições precárias. O brinquedo carrossel de carros é outro exemplo, uma parte do chão está desnivelada, podendo machucar as crianças. Os carrinhos estão enferrujados, um risco para contrair o tétano.
QUADRAS E CAMPOS
Um espaço de lazer e diversão para sergipanos e turistas. Ao mesmo esse era o objetivo inicial quando as quadras e os campos de futebol foram construídos ao longo da Orla de Atalaia. Ao passar pelas quadras localizadas nas proximidades da Passarela do Caranguejo, nossa equipe de reportagem verificou que as grades ao redor das duas quadras estão extremamente danificadas e a sua estrutura de sustentação está muito enferrujada.
Segundo os comerciantes da região, há pelo menos quatro anos as quadras não recebem manutenção, afastando os antigos frequentadores dali. Uma das quadras está sem o gol, isso porque (não se sabe como, mas) a estrutura foi parar do lado de fora dela junto com um pedaço da grade.
Um pouco distante dali existe um campo de futebol de areia. No entanto, hoje, ele está tomado pelo mato, há apenas uma pequena área vazia próxima ao centro do campo. Além da dificuldade para jogar futebol ali, aqueles que tentarem podem acabar de machucando ao entrarem no espaço, uma vez que a vegetação pode esconder objetos que podem perfurar ou cortar os seus pés. O alambrado do campo também apresenta problemas, a cerca já nem existe mais, mas é possível notar sinais de ferrugem na estrutura metálica, assim como nas traves do gol.
QUADRAS DE TÊNIS
Aracaju possuía apenas duas quadras de saibro, quando o complexo de tênis da Orla foi inaugurado nas proximidades da Delegacia Especial de Turismo. Doze quadras foram entregues na ocasião, quatro quadras de saibro e outras oito do tipo rápida/asfáltica. Depois de receber diversos torneios internacionais de tênis, a visão das quadras é lamentável. As quadras que ficam na parte mais afastada do calçadão da Orla estão entregues ao mato, uma delas quase não se pode ver mais por causa do matagal que se transformou.
Um Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre o Ministério Público Estadual (MPSE), Federação Sergipana de Tênis e pela Secretaria do Estado de Esporte e Lazer, em 2014, determinava que o uso das quadras fosse gratuito e irrestrito. No entanto, com o péssimo estado de conservação de algumas delas e com a queda do alambrado de toda a parte de trás do complexo, poucos querem jogar ali.
PISTA DE SKATE
Bem ao lado das quadras, está a pista de skate Cara de Sapo. Com quase 4 mil metros quadrados de área construída, é possível praticar tanto a modalidade de skate vertical (Half-pipe) quanto a street. Além de skatistas, muitos patinadores e ciclistas utilizam a pista para praticar, principalmente por ter uma área grande e ficar em um ponto bem movimentado da Orla.
No entanto, os postes muito espaçados e a ausência de grandes refletores dão uma sensação de insegurança a quem passa ou frequenta o local. As pequenas cercas que delimitavam a pista também mostram a falta de manutenção. A ferrugem tomou conta das estruturas metálicas que serviam de suporte para as cercas, que foram totalmente retiradas dali.
PISTA DE MOTOCROSS
Uma outra atração esportiva da orla era a pista de motocross Jurinha Lobão. Inaugurada pelo governo do estado em 2010, a pista já recebeu etapas do Campeonato Brasileiro e Sergipano de Motocross, reunindo atletas locais e estrangeiros.
Considerada uma das pistas mais técnicas do circuito, por dividir o seu traçado de 1.300 metros entre areia e terra, hoje ela está abandonada. Toda a grade de proteção da pista foi retirada, restando apenas as estruturas de concreto e a placa do governo do Estado indicando os políticos envolvidos na sua construção.
Para se ter uma ideia da movimentação que as competições geravam, em uma etapa do Brasileiro, realizada em 2013, cerca de 250 pilotos entre brasileiros e estrangeiros vieram a Sergipe com seus mecânicos, representantes de equipes, jurados e patrocinadores, isso sem falar na torcida que comparecia à pista nos dois dias de competição.