Candidato ao Governo do Estado pelo PSol, Márcio Souza pretende levar o bom desempenho nas eleições municipais de Estância para Sergipe
Por Henrique Maynart
“A saída é pela esquerda”. Márcio Souza Santos, 41 anos de idade, 20 de Polícia Militar e 13 de militância no Partido Socialismo e Liberdade (PSol). Economista, pai e avô, socialista e cabo de polícia, negro, estanciano e orgulhoso de seu gentílico, de acordar todos os dias com o apito da fábrica de tecidos, dos acordes da Lira Carlos Gomes entre as esquinas recortadas pelo Rio Piauitinga.
Nas eleições de 2018, Márcio Souza pretende representar, “sem sectarismo nem pragmatismo”, uma alternativa à esquerda tanto à atual gestão do governador Belivaldo Chagas (PSD) quanto às demais oposições, representadas por Eduardo Amorim (PSDB) e André Moura (PSC) por um lado, e por Valadares Filho (PSB) de outro. “Vamos combater os “fichas sujas” e as forças golpistas de Sergipe presentes nos três grupos que hegemonizam a politica em Sergipe”.
DAVI E GOLIAS NA CIDADE JARDIM
Os números do Tribunal Regional Eleitoral não tergiversam. Candidato a deputado estadual em 2010, a prefeito de Estância em 2012 e 2016, Márcio obteve 9.556 votos na última disputa municipal, o equivalente a 27% do eleitorado, com um gasto declarado de campanha ínfimo, exatos R$ 7.605,00. Para termos uma ideia da proporção do pleito estanciano, o prefeito eleito Gilson Andrade (PTC) galgou 14.405 votos, 40% do eleitorado, com um gasto de campanha declarado em R$ 125.034, e o ex-prefeito da cidade e segundo colocado na disputa, Carlo Magno (PSB) obteve 11.145 votos, 31,57% do total, com um gasto de campanha declarado em R$ 127.406. Mesmo gastos de campanha que não chegam a 10% do montante de seus adversários, o candidato do PSol empareou a disputa na “Cidade Jardim”.
“Num estado marcado pela polarização, sobretudo, nos municípios sergipanos, conquistar 27,08% do eleitorado no interior é uma grande façanha. Creio que esse desempenho nos credenciou para ser indicado pelo PSol, para essa tarefa de pré-candidato a governador”, explica.
POVO SEM MEDO
Em composição com o PCB – que deverá indicar a candidatura a vice nas próximas semanas – os movimentos sociais da Frente “Povo Sem Medo”, do MTST e da Plataforma Vamos, Márcio aponta os limites e a falência da antiga” Frente Popular”, liderada pelo ex-governador Marcelo Deda e seu partido, o PT, que se arrasta por Sergipe desde as eleições de 1994. Partindo das experiências anteriores do PSol e da candidatura presidencial de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara, sua candidatura visa denunciar a herança dos governos Jackson Barreto (MDB) e Belivaldo Chagas (PSD), que ele caracteriza como “o pior governo da história de Sergipe”
“Vamos partir do acumulo do partido, que em 2014, obteve através da candidatura da professora Sônia Meire, que obteve 47 mil votos. Vamos mostrar as contradições do pior governo da história de Sergipe, dialogar com as bases que formam o setor progressista da capital e do interior, que esteve nas ruas nas greves gerais em 2017, e que em 2014 escolheu o “menos pior” para governar, então precisamos dialogar para que o medo seja superado, fazendo escolhas mais consistentes”, argumenta.
A CRISE DO SEGUNDO ACÓRDÃO
Em menção à composição de chapa nas eleições de 2010, encabeçada pelo ex-governador Marcelo Deda, Márcio Souza analisa o cenário atual para que as forças progressistas superem a lógica dos acordos pragmáticos. O primeiro acórdão da Nova República ocorrera no pleito de 1990, quando o ex-governador João Alves, juntamente com Albano Franco, José Carlos Teixeira, Antônio Carlos Valadares e diversas lideranças regionais se juntaram em uma única chapa.
“O governador Deda, na tentativa de isolar as forças do atraso representadas por João Alves e Albano Franco, fez uma aliança ampla para além da frente popular, que já continha o PT, PCdoB, Jackson e Valadares, aglutinando no mesmo palanque nas eleições de 2010 Eduardo Amorim, André Moura e Laércio Oliveira. Isso comprometeu e muito seu segundo mandato e a condução política de um projeto político mais arejado para o Estado. Sem renovação de seus quadros, a esquerda fica refém das velhas raposas da política sergipana, pois não teve a competência de construir células de resistência no interior de Sergipe.”
TRADIÇÃO OPERÁRIA
Márcio Souza reivindica a tradição de luta operária e popular de Estância na disputa eleitoral que se avizinha, com foco no setor têxtil e nas expressões da cultura popular como barco de Fogo, este último declarado patrimônio cultural do estado de Sergipe em 2013.
“A presença do trabalhismo nos anos 1950, da resistência nos anos de chumbo, da experiência do cooperativismo, liderada pelo padre Almeida, arejou o processo de redemocratização culminando numa greve histórica em 1990 do movimento sindical têxtil. Tudo isso possibilitou ambiente favorável para formação de sindicatos públicos e privados, movimento estudantil e uma pequena, mas aguerrida, militância de esquerda. Com forte presença cultural popular já tivemos em Estância dias melhores, mais ainda há resistência na cultura junina e na poesia.”