Canais que cortam a cidade sofrem com o descarte irregular de lixo e esgoto
Fotos: Julia Freitas
Os canais fazem parte do cenário da capital há anos. Eles cortam diversos bairros da cidade e acabam servindo, até mesmo, como pontos de referência para a população, a exemplo dos canais (alguns já cobertos) do bairro Augusto Franco. Porém, aqueles canais que deveriam receber apenas água limpa, acabam se transformando em esgotos e a céu aberto. Seja pela falta de consciência ambiental das pessoas ou pela demora do poder público para resolver questões básicas, como o saneamento básico.
Segundo o engenheiro ambiental Elson Correia, nesses canais deveriam passar apenas as águas da chuva, uma vez que eles fazem parte do sistema de macrodrenagem da cidade. “O canal, ao contrário do que muita gente pensa, não tem nada a ver com esgoto. Ele faz parte do sistema de macrodrenagem urbana, sendo um dispositivo para promover o escoamento das águas da chuva. Mas, o que acontece na prática é que, existem muitas ligações clandestinas que lançam esgoto sem qualquer tratamento diretamente no canal ou nas galerias pluviais”, explica.
Mas além do esgoto, é possível ver muito lixo boiando ou se acumulando em alguns trechos dos canais. Mesmo com o trabalho de limpeza realizada pelas equipes da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb).
Segundo o diretor de operações da Empresa Municipal, Bruno Moraes, a limpeza dos canais da cidade é feita a cada três meses, a depender da necessidade visualizada pelos fiscais da empresa ou de denúncias feitas pela própria população. “Esses canais são de águas pluviais e, por isso, não recebem tratamento de esgoto. Uma vez que não deveria passar esgoto ali, mas é o que mais retiramos”, comenta.
PERCORRENDO A CIDADE
Na última semana, a equipe de reportagem do CINFORM percorreu alguns desses canais e notou situações contrastantes em algumas áreas da cidade.
No trecho do canal da Avenida Visconde de Maracaju, entre o bairro Santo Antônio e o Colégio Estadual Ivo do Prado (antigo Colégio Governador Valadares), na zona norte da cidade, o nível da água estava baixo e o lixo se acumulava apenas nas calçadas. Um cenário diferente do que era visto há alguns anos trás onde até mesmo móveis eram jogados dentro do canal.
Já no bairro Treze de Julho, o nível da água estava mais alto e a quantidade de lixo impressionava. Margeado por uma das principais vias da cidade e nas proximidades de clínicas médicas, da Arena Batistão e da Biblioteca Pública Epifânio Dória, o canal da Avenida Anísio Azevedo chama a atenção pelo lixo que desce boiando em direção ao Rio Sergipe, pelo cheiro fétido característico do esgoto e pelo lixo acumulado na vegetação que invade o canal. Situação que pode trazer inúmeras consequências principalmente ns época de chuva, uma vez que aquele é um dos pontos que alagam com frequência.
Olhando bem para o tipo de lixo que boia nos canais, é possível deduzir que nem tudo o que está ali vem dos vasos sanitários e pias dos imóveis. Sacolas plásticas, caixas de suco, entre outros materiais que podem ter ido parar lá após a chuva ter os carregado pelas sarjetas e galerias ou podem ter sido lançados diretamente no canal pela população.
PARQUE DO TRAMANDAÍ
Há pouco mais de sete meses, o CINFORM denunciou a situação preocupante do Parque Ecológico Tramandaí, localizado no bairro Jardins, zona sul de Aracaju. A reserva de mangue agoniza em meio aos prédios altos e é cortado por um desses canais de águas pluviais que leva lixo e esgoto para dentro do mangue.
Segundo a procuradora da República Lívia Tinôco, em julho deste ano foi realizada mais uma reunião do inquérito civil público instaurado pela procuradora que visa a proteção da reserva. Participaram da reunião a Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb), Emsurb, Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Deso e um biólogo que está colaborando com Ministério Público Federal (MPF). E foram decididas as próximas ações dos órgãos para identificar os imóveis que descartam esgoto de forma irregular no mangue e as ações para melhorar o fluxo do canal, que devem ser feitas pela Deso.
Segundo a Emsurb, a última limpeza no canal que desagua no Tramandaí foi feita na metade de julho deste ano. Apesar do pouco tempo passado, nossa equipe flagrou, na última quinta-feira (9), esgoto e lixo acumulado na entrada do canal que passa pelas avenidas Ministro Geraldo Barreto Sobral e Deputado Pedro Valadares.
Além, da preocupação com o descarte irregular de esgoto no canal que desagua na reserva permanente, a procuradora comenta sobre a falta de consciência ambiental da população. “As pessoas não entendem que o planeta e a cidade são a nossa casa também. Acham que cuidar somente da limpeza da sua própria casa é suficiente. Mas nós estamos impactando o mundo com as nossas ações. E a poluição no mangue gera uma contaminação do lençol freático e da atmosfera”, comenta.
FUTURO
O engenheiro ambiental Elson Correia não vê uma recuperação dos canais em um curto prazo, uma vez que além dos canais, toda a tubulação e as galerias estão contaminadas. “É preciso aumentar a rede de esgoto de Aracaju -que ainda não chega a 100%-, além de identificar os imóveis que lançam esgoto nessas galerias e cessar esse lançamento, é necessário um trabalho de descontaminação desses canais e duros. Isso vai levar um certo tempo, mas precisa ser feito. E, em alguns anos, o resultado irá aparecer”, comenta.