O trabalho é uma das principais fontes de energia da vida. Troco fonte de renda por energia e explico o porquê. Empregamos força de trabalho braçal, mental, depositamos esforço, tempo e sacrifícios em prol de um objetivo profissional. No último dia 1º, Dia do Trabalhador, me pus a refletir o quanto somos felizes nos papéis que exercemos junto a times, empresas, líderes e liderados. E ao analisar minha própria carreira percebi que nem sempre exerci as funções que desejava, mas a que era necessária ao meu sustento, além das que me ajudaram a desenvolver muitos dos valores que trago hoje.
Percebo cada posição como uma escada evolutiva. No meu primeiro estágio eu recebia uma bolsa de R$ 99,00 por mês. Ali naquela secretaria onde eu me dedicava quatro horas diárias aprendi primeiro sobre hierarquia, sobre como manter meu ambiente de trabalho organizado, a planejar (era a Secretaria Estadual de Planejamento) desenvolver relações profissionais com os colegas e pares de outros setores.
O princípio é sempre muito inquietante, com uma remuneração equivalente a quem está iniciando a carreira. Depois tive outros estágios, fiz alguns cursos para criar mais oportunidades e hoje vejo o campo profissional de uma maneira muito aberta, com um nível de liberdade que jamais imaginaria acontecer. Fui também vendedora de curso de inglês, (yes, eu ligava pra você!), vendedora no setor de telefonia com metas e pressões inimagináveis para cumprí-las e já vendi em loja de shopping onde metade do salário era para deixar lá. Vender por muito tempo me auxiliou a ser comercialmente ativa onde quer que eu estivesse. Eu vendia, varria a loja, arrumava vitrine, nos dias em que dobrava a jornada ficava por horas em pé e terminava o serviço sem sentir as pernas, mas compreendo como esse ciclo foi fundamental para mim.
Contudo, as metas de outrora já não se fazem presentes. Eu corria loucamente para alcançar os índices esperados. Hoje eu não corro, mas os passos são dados conforme meus pés calejados aguentam. Chegar a liderança de algumas companhias, precisar lidar com muita gente, com conflitos, medos, ser demitida, demitir, ser em alguns momentos, mais severa, ou mais mãe – que é bem típico da minha natureza protetora -, traça caminhos mais assertivos sobre o quê, como e com quem eu trabalho, que simplesmente definem a minha busca.
Veio a pandemia de covid-19 e com ela, um xeque-mate sobre todas as relações (sendo a principal delas com a gente mesmo). Mudanças de rotina no trabalho, de times, adaptação ao home-office e a importância de enxergar o essencial: o ser humano acima de qualquer PIB, de qualquer meta ou interesse coletivo que esteja fora da curva de valorizar o humanismo. Não adianta usar máscara se o ambiente em que você trabalha é tóxico.
Estou perto de completar 10 anos como empresária. Em uma década aprendi quais espaços me cabem, geralmente são aqueles onde o respeito reina. Fora dessa perspectiva é prostituição. E não há dinheiro no mundo que compre a minha paz, o bem-estar que prezo para mim, colaboradores e parceiros. O trabalho é uma fonte de energia porque ao depositarmos o nosso melhor, o melhor também retorna. E não se trata apenas de pagamento da fatura. Mas da percepção de realização, de propósito, da confiança que se estabelece em relações profissionais saudáveis. O cliente mais antigo que tenho, com quase 10 anos de atendimento no varejo, é justamente o time com maior sinergia e laços de pura confiança.
O trabalho deve ser fonte de alegria, reciprocidade e harmonia. E mesmo que atualmente não se esteja onde se quer – pois sempre há o que aperfeiçoar -, o entendimento de que vivemos para trabalhar, mas também para usufruir o ‘descansar’, nos torna produtivos, dignos de viver uma vida onde há tempo para tudo que seja belo e verdadeiro. A etimologia dos verbos trabalhar, em latim, tripalĭum, vem de um ‘instrumento de tortura’ e servir, de tornar-se servo, escravo. Estamos em um tempo de transformação profunda sobre o que já foi um dia, e hoje, não nos pertence mais. A pior tortura é aquela onde nos inserimos e nos autorizamos estar tal qual vassalos: a escravidão mental. Encerro com as aspas da professora Amy Edmondson, da Havard Business School: “por mais de um século, dependemos do medo para fazer as coisas. Essa era acabou.” Então coragem e avante!