Mas falta público e investimento

Apesar do estado de Sergipe não possuir uma grande quantidade de museus, como outros locais do país, temos museus importantes e que contam a história do nosso povo e estado desde a época pré-histórica, passando pelo período Imperial, até os dias de hoje.

Concentrados nas cidades de Aracaju, Laranjeiras e São Cristóvão, a maioria dos museus sergipanos está instalada em prédios antigos, alguns construídos durante o período Imperial. No entanto, apesar de alguns possuírem projetos de combate à incêndio e pânico aprovados, segundo a Diretoria de Atividades Técnicas do Corpo de Bombeiros, “nenhum Museu do Estado de Sergipe possui atestado de regularidade junto ao Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe”.

O Museu Nacional pegou fogo no domingo (2) (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Para a coordenadora do Departamento de Museologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Priscila Maria de Jesus, os museus sergipanos passam por inúmeros problemas, como a falta investimento, além da carência de projetos de segurança e de gestão de risco ao patrimônio, e de unidades do Corpo de Bombeiros próximas.

“Se formos analisar, essas instituições não estão longe de sofrerem um colapso como o Museu Nacional e, infelizmente, não precisa ser um especialista para notar. Se você visitar a maioria dos museus em período de chuva, perceberá que sofrem com infiltrações, danos nas estruturas e telhados. Fora casos mais graves de falta de uma segurança adequada seja em caso de um possível incêndio ou furto, que é constante nas nossas instituições”, lamenta.

Por estarem instalados em prédios antigos e tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), alguns museus possuem limitações de acessibilidade. Segundo Sérgio Lacerda, diretor do Museu Histórico de Sergipe, localizado em São Cristóvão, o prédio, que é do século XVIII, passou recentemente por uma completa revisão elétrica, hidráulica e em sua estrutura. No entanto, não há uma brigada de incêndio no museu.

“A grande maioria das instituições museológicas não está preparada para uma tragédia como a que aconteceu no Museu Nacional. Existem equipamentos contra incêndios exigidos pelo Corpo de Bombeiros, mas como a maioria dos museus são criados em prédios antigos e como o nosso tem a fiscalização do IPHAN, por ser tombado pelo patrimônio, temos nossos limites em acessibilidades”, comenta.

Mantido pelo Instituto Banese, o Museu da Gente Sergipana é um dos mais novos do estado, mas também está em um prédio antigo, o da antiga escola O Ateneu Pedro II, inaugurado em 1926. Segundo o Instituto, a manutenção do prédio é feita diariamente por colaboradores e empresas contratadas, e funcionários também passam por treinamento para lidar com situações como incêndios.

“A equipe do museu conta com colaboradores capacitados para lidar com situação de incêndio. Inclusive, antes de ocorrer esta tragédia no Museu Nacional no Rio de Janeiro, já estava sendo preparada uma nova capacitação neste sentido, ampliando o número de colaboradores aptos a lidar com este tipo de situação”, explica.

Museu da Gente Sergipana, no centro de Aracaju (Foto: Arquivo CINFORM/Tâmara Carvalho)

IMPORTÂNCIA DOS MUSEUS
Para a museóloga Priscila Maria de Jesus, além de guardarem a memória, história e a cultura, os museus são importantes espaços de informação, lazer e reflexão.

“Os museus, além de um espaço de guarda da memória, da história e da cultura, também são espaços de informação, de lazer, de reflexão. É se conhecer enquanto indivíduo e parte integrante de uma sociedade. É conhecer seu passado, seu presente e o que se espera do futuro, pois os museus não contam apenas o passado, mas a nossa história que está em transformação”, comenta.

No entanto, apesar de serem locais tão importantes, muitas pessoas não têm o costume de frequentar esses espaços, seja por falta de divulgação ou porque não há um estímulo para isso.

“Não há uma cultura ou mesmo estímulo na primeira infância ou por parte da família em visitar os museus, pois criou-se um mito de que museu é coisa do passado. Assim, seria um lugar enfadonho e não um espaço de informação e lazer. Outro fator que afasta o público dos museus é a falta de divulgação. A maioria da população desconhece os museus de seu próprio estado, pois não há uma boa divulgação das ações e atividades dos espaços junto ao público”, comenta.

MUSEU DO HOMEM SERGIPANO

Museu do Homem Sergipano foi completamente interditado em 2014 (Foto: Google Maps)

O Museu do Homem Sergipano, que pertence à Universidade Federal de Sergipe (UFS), foi aberto ao público em novembro de 1996. Seu acervo, que possui peças provenientes de escavações arqueológicas, objetos e imagens adquiridas junto a segmentos da sociedade sergipana, conta o processo histórico, as particularidades e perspectivas do sergipano.

No entanto, por problemas na sua estrutura, desde maio de 2011 o museu foi fechado ao público, continuando apenas com as pesquisas, atividades de preservação e salvaguarda do acervo.

Segundo a pró-reitora de Extensão da UFS, Alaíde Hermínia de Aguiar, em 2017 a universidade solicitou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) o valor que cobre a restauração do prédio da rua Estância que foi inaugurado em 1920. Além de ter enviado ao Ministério da Cultura e ao Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) o projeto de restauração, mas até o momento não recebeu nenhuma resposta se conseguiria alguma linha de financiamento.

“O nosso museu está interditado desde 2014 porque o prédio histórico precisa de uma reforma estrutural, apesar do anexo estar em condições de uso. Em 2017, nós solicitamos via edital ao BNDES um valor que cobre a restauração e reabertura do museu, mas ainda não tivemos nenhuma resposta”, comenta.

Ainda segundo Alaíde, neste ano foi firmado um Termo de Comodato com a Secretaria de Cultura (Secult) e o acervo do Museu do Homem Sergipano foi transferido para o Museu Histórico de Sergipe, em São Cristóvão. “Provavelmente, durante o Festival de Artes de São Cristóvão deste ano nós iremos inaugurar essa Sala do Homem Sergipano lá”, acrescenta.

Por se tratar de um museu da Universidade Federal, ele tinha uma função importante na formação dos alunos de determinados cursos. Com a sua interdição, a universidade precisou firmar uma parceria com o Estado para que os alunos não tenham prejuízos em sua formação.

“A UFS tem todos os cursos voltados para as áreas dos direitos humanos, história, memória e patrimônio. E o museu tem feito muita falta e, para suprir essa necessidade, firmamos um termo com a Secretaria de Cultura para usar os museus ligados a ela como laboratórios-escola. Essa é uma solução paliativa para que os nossos alunos aprendam na prática a documentar, identificar, estruturar exposições. Porque isso é fundamental para a formação deles’, comenta.

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