Aos 45 anos de idade, Joaquim José da Silva Xavier, minerador, tropeiro (condutor de tropas de animais, transportadoras de mercadorias) e dentista foi enforcado, decapitado e esquartejado no dia 21 de abril de 1792 devido ao seu envolvimento com a Inconfidência Mineira. Um dos primeiros movimentos organizados pelos brasileiros quando o Brasil era uma colônia portuguesa e o objetivo do levante era conseguir a independência da província com relação à Portugal. Por isso na história, chamamos de movimento separatista.
A colônia gerava grandes lucros à metrópole, sobretudo nessa época, século XVIII, período da descoberta do ouro e diamantes na região conhecida como as Minas Gerais. A elite mineira estava cansada das altas taxações impostas pela coroa portuguesa. Do ouro produzido na Capitania de Minas de Gerais, Portugal cobrava o chamado quinto, isto é, o equivalente à 20% do total extraído. Veja bem, amigo leitor, a alta carga tributária sobre um Brasil nada novo.
Sigamos a história…
O famoso quinto continuou a ser exigido dos mineradores locais e o governador da Capitania de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, para fazer cumprir a lei, chegava até a impor agressões físicas. Imagine que a situação se agravou mais ainda quando, para reverter a margem defasada dos impostos recolhidos, a Coroa autorizou a implementação da chamada derrama. Você sabe o que isso significava? Os mineradores eram obrigados a cobrirem com suas posses o que faltava na quantia do quinto. Vale lembrar que todos eram forçados a pagar a derrama.
A conspiração dos inconfidentes começou a ser preparada em 1788 para que as ações passassem a ser realizadas no ano seguinte. Joaquim Xavier, conhecido como Tiradentes, por sua personalidade agitada, versado como o mais radical entre os inconfidentes. Ele foi o único, entre os inconfidentes, a receber a pena capital, isto é, a pena de morte, pela forca. Joaquim também era alferes – patente abaixo a de tenente – da cavalaria de Dragões Reais de Minas, a força militar atuante na Capitania de Minas Geras e subordinada à Coroa Portuguesa.
Acredito que já está dando para perceber que a turma de inconfidentes nadou e morreu na praia. O movimento até ganhou reforço ideológico com a independência das colônias estadunidenses e a formação dos Estados Unidos da América. Oito a cada dez alunos brasileiros que estudavam em Coimbra, eram oriundos das Minas Gerais, o que permitiu à elite regional acesso aos ideais liberais que circulavam na Europa. Mas, nem na força ou na ideologia, o lance se consumou.
O movimento foi abortado e os inconfidentes presos, muitos deles, temendo punições mais severas, não confessaram seus crimes. O único a fazê-lo foi Tiradentes, que, por isso mesmo, recebeu a pena mais dura, em um processo transcorrido na cidade do Rio de Janeiro.
Atente-se, caro leitor, para o fato de que a ideia de festejar, destacar a Inconfidência e/ou tomar a figura do Tiradentes como um ícone da liberdade bem como da independência do Brasil o tratando como um herói da nação, nasceu no início da República. Observe a imagem de Tiradentes retratado na tela de Pedro Américo.
Não sejamos inocentes, amigos. O único executado na Conjuração Mineira, atendia às exigências da mitificação. Eita Brasil que gosta de mitos! O sonho de implantar uma República o contrapunha aos monarquistas. Em um contexto de tensões políticas e crise econômica, a imagem de Tiradentes inaugura o panteão republicano como elemento integrador. Era quase um “Jesus Cristo” – o mártir que deu sua vida à causa republicana e, portanto, o herói cívico.
Na primeira fase da ditadura brasileira, em 1965 o então presidente da República, Marechal Castelo Branco, contribuiu para reforçar essa imagem e sancionou a Lei Nº 4. 897, de 9 de dezembro, que instituía o dia 21 de abril como feriado nacional e Tiradentes reconhecido, oficialmente, Patrono da Nação Brasileira