O mês de dezembro é conhecido pela campanha de conscientização para a prevenção da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) e de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Também é um período que chama a atenção para a assistência e proteção dos direitos das pessoas infectadas com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). No dia 1º de dezembro – Dia Mundial de Luta contra a Aids – foi dado o ponta pé inicial para uma série de ações que visam diminuir o preconceito e o estigma da doença na sociedade.

Atualmente, estima-se que 960 mil pessoas vivam com HIV no Brasil, sendo oito mil em Sergipe. Em tratamento, são em torno de 727 mil pessoas no país. Apesar de todos os recursos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como insumos, medicamentos, fórmula infantil, preservativos e testes, em 12 anos foram detectadas 45 crianças menores de cinco anos com o HIV, ou seja, bebês ainda nascem com o vírus.

Essa realidade tem preocupado um dos maiores lutadores pelos pacientes com HIV no país, o médico infectologista Dr Almir Santana. Referência nacional quando o assunto é a luta pelo tratamento e por informações sobre a Aids, Dr Almir disse que o dia mundial de luta contra a doença foi criado para servir de alerta e para que, anualmente, haja uma mobilização da sociedade e dos gestores para mostrar que a epidemia do HIV continua sendo um importante problema de saúde pública.

Dr Almir começou o trabalho de luta pelos pacientes com Aids no final da década de 80

“Hoje, a nível nacional, fala-se muito menos. No passado, campanhas nacionais eram bem mais visíveis. Nós precisamos retomar o tema na família, na sociedade, nas escolas, nos locais de trabalho. O dezembro vermelho serve para que os gestores e as instituições tenham essa oportunidade de divulgar essa fita vermelha que representa solidariedade, o combate ao preconceito e a discriminação”, disse Dr Almir.

Baluarte da causa da Aids em Sergipe e no Brasil, Dr Almir começou esse trabalho no final da década de 80, quando ele atendia como clínico geral em uma Unidade Básica de Saúde no Bairro Santos Dumont, em Aracaju. “Nossa paixão na medicina sempre foi a saúde pública e lá eu comecei a fazer um trabalho sobre a sífilis e realizei um levantamento no bairro, identificando casas de prostituição. Foi aí que o nosso trabalho começou nessa questão das infecções sexualmente transmissíveis”, explica.

Depois de um período trabalhando nesse bairro, começaram a surgir os casos de Aids a nível mundial e Dr Almir começou a se interessar pelo tema, porque sabia que seria um grave problema de saúde no futuro. “A infecção tinha a ver com o comportamento sexual, eu sabia que seria difícil o combate ao HIV, em se tratando de uma infecção que se transmitia sexualmente e era acompanhada também de preconceitos. Então, o maior inimigo do HIV era o preconceito”, comenta.

Atuação destacada

De forma bastante simples, Dr Almir começou a fazer um trabalho em todo o Estado. Suas ações foram avançando e ele ganhou projeção nacional com algumas atividades inovadoras, com algumas descobertas importantes que serviram para o próprio enfrentamento da epidemia no Brasil. Ele desenvolveu campanhas regionalizadas e criativas, sendo pioneiro aqui em Sergipe e isso o motivou a lutar a continuar a luta contra a Aids, inclusive com ações solidárias.

Dr Almir ministra palestras levando conscientização para todo o Estado

“O lado social das pessoas que vivem com HIV sempre me preocupou muito, como o HIV na criança que está muito ligada à pobreza. Lutei para que essas pessoas recebessem cesta básica, foi uma ação que nós desenvolvemos. É um trabalho que eu gosto muito porque ajudamos mais as pessoas do que se estivéssemos no consultório atendendo individualmente. Optei por saúde pública para poder ajudar mais”, afirmou.

Campanha

Durante o Dezembro Vermelho as ações são intensificadas. Uma das atividades desenvolvidas é a exposição sobre HVI/Aids chamada de ‘Indetectáveis’. Ela apresenta fotos de pessoas que estão vivendo com HIV e estão com um sucesso no tratamento. A exposição é exibida no ambulatório do Hospital Universitário Aracaju (HU), um local estratégico porque existe um atendimento não apenas para pessoas vivendo com HIV, mas para a população em geral.

“São pessoas que estão usando medicamentos antirretrovirais de forma correta com boa adesão, fazendo com que a quantidade de vírus no sangue – chamada carga viral – caia a níveis indetectáveis. Isso é bom para pessoa e é bom para a comunidade. Para pessoa, porque quando ela tem a carga viral indetectável, ela melhora a qualidade de vida, as infecções desaparecem. Para a comunidade é bom porque essa pessoa que tem carga viral indetectável dificilmente vai transmitir o HIV numa relação sexual”, explica Dr Almir.

A campanha também conta com palestras educativas em escolas e empresas e a oferta dos testes rápidos em diversos pontos de Aracaju e alguns municípios. “Nós estamos oferecendo os testes rápidos, não só de HIV, mas de sífilis, hepatite B e C, e estamos também disponibilizando o auto teste. Assim, nós vamos intensificando várias ações além do apoio da mídia que nós temos divulgado muito, na rede social, mensagens de prevenção e de alerta”, destaca o médico.

Tratamento

O ponto mais positivo da luta contra a Aids é o tratamento. O tratamento com antirretroviral, quando há uma boa adesão, existe redução da carga viral, com isso melhora a qualidade de vida do paciente. Outro fator importante é o avanço das novas tecnologias para prevenção, que não está limitada apenas a camisinha, mas o uso de medicamentos que visam reduzir o risco de transmissão.

Medicamentos que visam reduzir o risco de transmissão

Duas novas tecnologias que estão sendo ampliadas em Sergipe são a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que é um recurso importante quando há um rompimento da camisinha ou quando houve um descuido e a pessoa não usou a camisinha. Ela tem 72 horas, no máximo, mas o ideal é que procure nas primeiras duas horas, um serviço que disponibiliza medicamento. “Ele vai e faz o teste não reagente, usa um medicamento por 28 dias e depois faz o teste, repete o teste mais três vezes para ver se houve infecção ou não. É uma forma de profilaxia diante de uma situação de risco”, disse Dr Almir.

Outra tecnologia é a Profilaxia Pré-Disposição (PrEP), que é para àquelas pessoas que se expõe frequentemente ao risco de infecção por não usarem camisinha e mudam muito de parceiro sexuais. É um recurso importante para reduzir o risco. A pessoa se cadastra, é avaliada no serviço de saúde, faz testes e se tiver indicação ela passa a tomar um comprimido diário enquanto persistir essa exposição ao risco.

 

“Infelizmente a Aids ainda não tem cura, mas há um extraordinário sucesso no tratamento. A pessoa hoje, se tiver o diagnóstico precoce, iniciar o tratamento imediato, ter uma boa adesão ao tratamento, ela convive com o HIV, vai ter sua vida normal, vai trabalhar, enfim, ter sua vida com qualidade. O ponto mais importante que nós estamos vivenciando atualmente é o sucesso do tratamento”, conclui Dr Almir.

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