Pega! Retire-se! Canalha! Usurpador! Desça e venha buscar! Gritos, empurrões!
Não – caro leitor ou querida leitora – não foi briga de torcida no campo de futebol; não foi briga de cachaceiros na porta do cabaré; tampouco foi intriga de bêbados no bar da esquina.
Essa baixaria foi promovida pelo egrégio colégio de senadores da República, enquanto o palco foi o outrora altivo Congresso Nacional. O objeto que motivou a trama também não foi uma disputa pela puta mais bonita da zona, foi o cargo litúrgico de presidente do Senado, o 4º mais importante na combalida hierarquia do País.
Perplexos, telespectadores demoravam a assimilar exatamente o que ocorria, entre risos cínicos de alguns senadores, que se alternavam com outros sardônicos ou odiosamente retorcidos, gritos aos microfones, dedos em riste pra lá e pra cá… uma verdadeira desgraça.
O que esperar desse nobre colegiado, que consome bilhões de reais do Erário, quando se sabe exatamente o que está em jogo? Daqueles que se digladiam com tanta ferocidade, contam-se nos dedos de uma mão alguns que estejam, de fato, alinhados com os anseios da população espoliada por essa mesma classe política.
O que salta aos olhos é o interesse de blindar canalhas que vivem de sugar os ativos do Estado, com objetivos escancarados de se perpetuarem no poder, eles próprios e os seus apaniguados.
Nos meandros deste fim de semana tão conturbado, em que até o Supremo foi convocado na madrugada, para somar esforços, esboçou-se um traço de reação, de resistência, ainda que isso não determine mudanças no comportamento do Congresso, mas, pelo menos, renovam-se as esperanças pela troca de velhos e carcomidos nomes, que mais pontuavam nas crônicas policiais do que na lavra da boa política.
Essas hienas escancaram os dentes rindo da virtude e da honra, são seres das trevas, acostumados à lama da corrupção, essa mesma que dizimou mais de 300 vidas em Brumadinho, vítimas que foram, ninguém duvide, primeiramente desses parlamentares furtivos, que camuflam processos, e que fazem isso em troca de milhões desviados da produção, utilizando-os para alimentar a roda da bandidagem que assola o Brasil. Os sinos dobram pelos mortos da barragem, enquanto congressistas fazem a única coisa que fazem bem: brigam por mais poder.