Cinform foi atrás e descobriu pessoas que se demitiram e viraram donos de seus próprios negócios
Com um Brasil mergulhado numa crise financeira sem precedentes, cada dia mais, os brasileiros buscam a tão sonhada estabilidade econômica proporcionada pelo serviço público, estudando um/dois/três anos para passar num concorridíssimo concurso de um órgão municipal, estadual e federal.
Diante deste cenário, fica difícil de se imaginar que uma pessoa peça demissão de uma instituição pública para encarar a iniciativa privada e seus atribulados problemas. Mas há quem faça isso. Inúmeros são os motivos: insatisfação pessoal; busca da felicidade, de novas experiências de vida; de ser o dono do seu próprio negócio.
Aos 30 anos, sem pestanejar, Danilo Ribeiro pediu demissão da Caixa Econômica Federal, no início do ano passado, após ficar na instituição por três anos. “Abri mão porque me sinto mais útil na iniciativa privada, mesmo não tendo a segurança da estabilidade financeira”, frisa.
“CÉU É O LIMITE”
Hoje, Danilo é dono de seu próprio negócio, a Wert Educação e Consultoria Financeira – juntamente com cinco sócios. “Acredito que posso ajudar muito mais as pessoas fazendo o que faço hoje, auxiliando a investir melhor seu dinheiro”, afirma o ex-funcionário público que, antes de entrar na Caixa, trabalhou por anos no mercado de ações.
Danilo se demitiu da Caixa logo no auge da crise econômica do Brasil e após recursar várias promoções. “Quando entrei no banco, fiquei 28 dias na agência da Fausto Cardoso, no Centro. Após processo interno, fui para a Superintendência. E pouco antes de pedir demissão, rejeitei três gerências de agências de Umbaúba, Estância e da Capital”, informa.
O jovem empresário não se arrepende da decisão tomada. “Graças a Deus. Não tenho dúvidas que no banco teria uma carreira de sucesso também, mas ficaria limitado. Na Caixa, sabia até onde podia chegar. Mas, como empreendedor, o céu é o limite. O empreendedorismo tem essa face. Inclusive, ganho muito mais, do que se eu fosse talvez um superintendente nacional da Caixa”, afirma.
SANGUE EMPREENDEDOR
Danilo dá dicas para quem pensa em fazer o mesmo que ele. “É uma decisão que não é fácil. Empreendedorismo está no sangue. Não saia do serviço público achando que aqui fora é um mar de rosas. Tem que trabalhar, se dedicar muito. Mas é gratificante ter seu negócio. Se as pessoas têm um sonho, espírito empreendedor, não deixe passar, pois pode chegar ao final de vida frustrado”, diz.
É essa frustração que o empresário Roberto Nascimento, 59 anos, não queria para a sua vida. Hoje sócio-proprietário do restaurante La Vecchia, ele tomou o mesmo rumo de vida de Danilo há 19 anos: pediu demissão do Banco do Brasil depois de 15 anos de funcionalismo público.
“As pessoas têm diferentes perfis. Têm pessoas que procuram estabilidade, um bom emprego, e têm aquelas que preferem enfrentar os desafios do dia a dia. Eu queria sair, extravasar, desbravar. O importante é você estar feliz e fazer o que gosta”, frisa Roberto, que tentou várias vezes entrar no Banco do Brasil, quando tinha 20 anos, pensando no sustento de sua família – esposa e filhos.
RECOMEÇAR A VIDA
Assim como vários bancários, Roberto, em 1998, aderiu ao Plano de Demissão Voluntária – o famoso PDV – do Banco do Brasil. “Com o passar dos anos, fui vendo que eu queria algo mais. Não estava feliz. Estava vivendo um estresse emocional grande. Muita cobrança para atingir metas. Mas tiveram muitas tentativas de colegas para que eu não fizesse isso, pois diziam que era uma loucura”, relembra.
“Até o superintendente do banco perguntou se eu queria voltar para minha terra (o empresário é gaúcho), se eu estava infeliz, ele dizia: ‘não faça isso não’. Sempre fui um bom funcionário. Nunca faltei. A reação dos amigos, familiares também não foi boa. Todo mundo era contra. Meu pai ficou numa tristeza…, Mas eu estava decidido”, relata Roberto.
Contudo, começar a vida aos 40 anos é complicado. “Naquela época já existia crise. Era difícil arranjar emprego. Sei que eu fiz de tudo um pouco. Quebrei umas três vezes. Tive muitas dificuldades. Perdi até amigos. Poucos colegas do banco conversavam comigo. Passei a ser ignorado”, relembra.
ACREDITAR NA CAPACIDADE
Até se estabilizar no La Vecchia – onde hoje mantém um bom padrão de vida – Roberto teve empresa de representação; de gelo, de distribuição de água. “Quando saí do banco tinha muitos cursos – de negociação, de atendimento -, mas nada funciona na prática. Só aprendi na dureza. É como se fosse uma criança aprendendo os primeiros passos. Levei oito anos para acertá-los. Até caminhoneiro fui”, relata.
Para Roberto, todas as suas decisões têm como norte a “realização pessoal”. “Sempre quando as pessoas me perguntam: ‘Está arrependido?’ Digo que estou, de não ter saído 10 anos antes”, diz aos risos. Brincadeiras à parte, ele tem a consciência quão difícil é pedir demissão da iniciativa pública.
“Você tem que acreditar na sua capacidade. No meu caso, sou uma exceção de tantos que saíram e se deram mal. Tiveram colegas meus que se suicidaram. Não é fácil sair de uma situação estável, onde recebe salário certinho todo mês, para ter que conquistar seu sustento. Mas se estiver infeliz, eu acho que tem que sair, tentar uma coisa nova”, aconselha.
E essa ideia também foi seguida à risca e compartilhada pelo empresário Fernando José Gaspar, 58 anos. Após 13 anos como funcionário do setor público em Campos, norte fluminense, Fernando recebeu um convite da sogra para conhecer Aracaju. E essa visita foi o ponta inicial para uma história de sucesso com a Doces Aju. “ Para se chegar em uma estrutura, a pessoa tem que entender que as coisas não acontecem da noite para o dia, ela vai conseguindo as coisas devagar, o principal é planejar o que vai fazer”, define.