O autismo é um espectro complexo e multifacetado que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. É uma condição do neurodesenvolvimento que se manifesta de maneira única em cada indivíduo, antes dos três anos de idade, influenciando sua forma de ver, sentir e interagir com o mundo ao seu redor. Ele se caracteriza por uma dificuldade na interação social e de comunicação, associado a interesses restritos e padrões de comportamentos repetitivos que geram prejuízos no funcionamento social, profissional e pessoal.

Dados mostram que nos últimos 10 anos o autismo cresceu 400% em todo o mundo. De acordo o CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, 1 em cada 36 crianças de 8 anos são autistas. Estudos científicos apontam que o número de autistas tem aumentado por diversas razões: mais acesso ao diagnóstico; pais mais velhos (mães que têm filhos após os 35 anos e pais com mais de 40 anos); a genética (casos de autismo na família); prematuridade; entre outros.

Dr Rodrigo Araújo, neurologista e neuropediatra

De acordo com o neurologista e neuropediatra, Dr Rodrigo Araújo, há uma diferença entre a pessoa ser tímida e autista. A dissemelhança está na repercussão do seu comportamento na sociedade. “A pessoa pode ser tímida, mas essa timidez não repercute em sua vida, ele tem uma convivência normal com as outras pessoas. O autista tem dificuldade de se comunicar, de socializar, associado a padrões de interesses restritos e hiperfocos e comportamentos repetitivos”, comenta.

Quando se trata de criança, alguns sinais são mais claros. Crianças que gostam de carros; dinossauros; letras e números; além de uma agitação muito importante quando é novinha. Criança que anda na ponta do pé; gira em torno dela própria; anda de um lado e para o outro sem parar; tem seletividade alimentar para certas texturas de alimentos, que muitas vezes provoca vômitos; criança que na sala de aula fica mais isolada; que não gosta de barulho e tem uma sensibilidade aumentada.

“É uma criança que tem um padrão de inflexibilidade, ela tem um baixo limiar de frustração, quando recebe um não, muitas vezes chora por muito tempo. Ela não entende que a vida da gente é flexível. É uma criança que atrasa para falar, porque a fala é a forma que a pessoa usa para se comunicar e socializar, mas para que eu vou falar se eu não quero me comunicar e socializar? Por isso o atraso na fala”, lembra o neuropediatra.

A importância do diagnóstico correto

O diagnóstico de autismo é 100% clínico. Não há exame genético, ressonância magnética, tomografia, eletroencefalograma ou exame auditivo, que comprove que a criança é autista. O diagnóstico parte dos relatos das pessoas que acompanham a criança, a escola, os pais e a observação em consultório. Algumas condições podem apresentar sinais que confundem muito com o autismo, como o TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade e o Transtorno do Desenvolvimento Intelectual.

Tratar precocemente é o mais importante sob qualquer suspeita, avalia o neuropediatra

Existe também a criança com Apraxia da Fala (AFI), um distúrbio neurológico que afeta a condição motora da fala, criando dificuldades na pronúncia de palavras, sílabas e sons, apesar de querer falar. “Para um pai saber o que o filho tem o autismo é libertador. Tirar aquela angústia e direcionar corretamente o tratamento, porque existe uma abordagem de intervenções com técnicas específicas. Então, quando a gente sabe que a criança realmente fechou o diagnóstico, é como se existisse um farol para guiar a gente, uma luz para trilhar no caminho correto”, destaca Dr Rodrigo Araújo.

 A importância do tratamento

Os primeiros mil dias de vida da criança é quando ocorrem as maiores conexões nervosas. Portanto, quanto mais precoce tratar a criança no autismo melhores serão os resultados. O diagnóstico pode ser dado a partir dos 15 e 18 meses de vida. Portanto, a criança com um ano e dois meses, ou um ano e cinco ou seis meses, já pode ser diagnosticada, e, inclusive, iniciar o tratamento.

“A gente não nasce sabendo nada. Só que o ensinar para a criança no espectro tem que ser de forma terapeuta. Então, eu sempre alerto os pais: não espere, não fique buscando justificativa para sinais. Viu alteração de sinal comportamental, viu alguma alteração de uma criança que você veja que não está no esperado para a idade, busque ajuda. Tratar precocemente é o mais importante sob qualquer suspeita”, disse.

Simpósio

No dia 21 de outubro acontecerá, no Centro de Convenções AM Malls, o 1º Simpósio Nordeste de Autismo, com a presença de grandes nomes a nível nacional. Entre os temas que serão debatidos a questão metabólica e o autismo; a genética; o impacto da musicoterapia no autismo; o atraso da fala; a seletividade alimentar no autismo; a epilepsia e autismo; aspectos comportamentais; as comorbidades no autismo; o transtorno opositor desafiador e a ansiedade infantil.

“O objetivo principal é difundir conhecimento. A gente sabe que muitos falam sobre o autismo hoje em dia, só que, infelizmente, vivenciamos pessoas que se dizem especialista no autismo propagando informações incorretas. A gente vê muito na internet, e em rede social, pessoas propagando desinformação, isso é muito ruim. O nosso objetivo é maior é propagar conhecimento científico no autismo, sempre embasado no que a literatura fala com coesão, com coerência, tudo super bem embasado, não emitindo opiniões pessoais”, concluiu o neuropediatra ao informar que a entrada é gratuita.

 

 

 

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