Quando a filha de Natália Nascimento Santos começou a apresentar uma febre bastante alta, beirando os 39 graus, ela levou a criança para a urgência do Hospital Regional de Itabaiana, na região Agreste do Estado de Sergipe. Depois de dois dias, Maria Natali, de apenas três anos, foi transferida para a Ala Vermelha do Hospital de Urgências Governador João Ales Filho (Huse), onde foi diagnosticada com um quadro de pneumonia.
Após 17 dias internada, onde precisou ficar sob ventilação mecânica, a criança aguarda a alta hospitalar. Ela está terminando os antibióticos para repetir os exames e depois ser avaliada pelo médico. “Ela está bem, graças a Deus”, disse a mãe aliviada. Assim como Natália Nascimento, dezenas de pais estão aflitos porque seus filhos estão adoecendo devido à explosão dos casos de síndromes gripais, que estão superlotando as urgências pediátricas do Estado, muitos deles com quadros graves que necessitam de intubação.
De acordo com o cenário epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde, de janeiro a 21 de abril deste ano foram registrados 334 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças até 10 anos de idade. Nos menores de um ano, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) foi o mais prevalente. Em comparação ao ano passado, houve um aumento de 200% na incidência desse vírus na população, segundo o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen).
Hospital Primavera está com lotação máxima nos leitos de UTI
Passando por hospitais da rede pública e da rede particular de Aracaju, deu para perceber como a circulação dos vírus respiratórios, principalmente o vírus Influenza, o VSR e o SARS-CoV-2 (Covid-19), chegaram com mais intensidade este ano e tem provocado um aumento nos atendimentos de urgência e internações. No Hospital Primavera, localizado na Zona Sul de Aracaju, os 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) estão com ocupação total. Os leitos de internamento, no total de 15, estão com 80% da capacidade.
No Hospital São Lucas, há algumas semanas a Pediatria vem trabalhando com 100% de ocupação. Segundo a assessoria, a quantidade de leitos é dinâmica, devido ao modelo de gestão do hospital. No Hospital Gabriel Soares também houve nas últimas semanas um aumento no atendimento de casos de síndromes respiratórias e virais. Conforme a necessidade, são abertos novos leitos e contratados profissionais à equipe multidisciplinar.
Drª Cristiane Souza Barreto: “Infelizmente sempre houve uma falha na atenção básica”
No Huse, a pressão é provocada pelos atendimentos de baixa complexidade, que são de responsabilidade da atenção básica. “O paciente chega e é avaliado. Se ele tem um caso mais grave, é atendido imediatamente. Agora, quando o caso é classificado como baixa complexidade, nós não temos condições de atender porque a equipe está toda voltada para os pacientes mais graves”, informou a médica Cristiane Souza Barreto, coordenadora da Pediatria do Huse.
“Infelizmente sempre houve uma falha na atenção básica. Os municípios deveriam colocar unidades de síndrome gripal, algo parecido com o que ocorreu na covid-19. Por exemplo: Aracaju tem oito regiões, em cada região a Prefeitura poderia disponibilizar uma unidade básica de saúde para o atendimento único e exclusivo para pacientes e crianças com síndrome gripal num horário mais estendido”, sugere.
Preparação
A presidente da Sociedade Sergipana de Pediatria, Drª Ana Jovina Barreto Silva, acredita que falta uma preparação, não só dos órgãos governamentais, mas de toda a sociedade, que envolva as famílias e profissionais de saúde. Ela cita, como exemplo, o cenário de baixa cobertura vacinal que tem deixado a população infantil mais vulnerável. “Todos sabemos que ocorrerá essa sazonalidade. As famílias devem seguir as consultas regulares das crianças, manter o calendário vacinal atualizado e vacinar as crianças maiores de 6 meses contra influenza, assim que começar a campanha, assim como àqueles dultos que fizerem parte do grupo para o qual a vacina é disponibilizada. Não levar crianças pequenas a festinhas, locais fechados, incentivar o aleitamento materno e alimentação saudável, manter ambientes arejados e o calendário vacinal atualizado”, reforça a médica.
Drª Ana Jovina Barreto Silva, presidente da Sociedade Sergipana de Pediatria
Segundo ela, cabe a família respeitar e ensinar etiqueta respiratória às crianças maiores e não mandar crianças doentes para a escola. “Os profissionais de saúde devem seguir orientando os cuidados para prevenir as doenças e as autoridades públicas devem redimensionar os leitos pediátricos críticos, planejar e ampliar o atendimento das urgências, criar unidades específicas para síndromes gripais em horário ampliado, feriados e finais de semana”, comenta.
Drª Ana Jovina também orienta como os pais devem agir ao aparecimento dos sintomas gripais. A avaliação médica deve ser feita sempre que possível diante dos sintomas, mas não necessariamente imediatamente, em urgências. “Se a criança estiver bem, com a febre controlada, sem sinais de desconforto respiratório, sem vômitos, a família pode aguardar uma consulta em uma unidade básica ou consultório”, conclui.