Quem estuda o mercado digital, sabe: a privacidade é cada vez menor no mundo OnLife. Há 14 anos assessoro a comunicação de marcas e pessoas públicas. O esforço para construir uma reputação de imagem é gigantesco. E nós, assessores, sabemos o quanto a credibilidade está diretamente vinculada às receitas das companhias. Dia desses, ‘Fulaninho surfistinha’ e também CEO de uma empresa tradicional, queria manter duas contas no instagram: a sua pessoal e uma profissional. Como se fosse possível ter duas personalidades, tipo uma roupa para cada ocasião. Sou paga para falar a verdade, doa o ego de quem doer. “Meu querido: seus foods, nudes, tinders e likes pertencem ao mesmo RG que assina naquele CNPJ. Toma o seu ‘paracetalôko’ e assuma sua identidade. Não tem como usar vidro fumê por aqui.”
Enfrentamos uma gestão de crise de imagens em plena era da verdade. Eu assisto storytelling – contação de história – todo dia pelas mídias sociais. A pessoa lifestyle, teoricamente um sucesso na carreira e na vida, faz do seu cotidiano um espetáculo. A quem interessar, leia ‘O show do eu – a intimidade como espetáculo’, livro que foi fruto da tese de doutorado da pesquisadora argentina, Paula Sibilia. Tem gente alugando bens, fechando parcerias com marcas de luxo, intitulando-se ‘influencer’ para posar bonito na foto e vídeo. Novela, atuação de atores e atrizes para quem quer assistir e ser influenciado pelo suposto bem-estar alheio. Eu acompanhava uma entrevista e a jornalista do mercado financeiro, antenadíssima, com fontes quentes, estava mais por dentro do que rolava de transações nos bancos do que o próprio diretor a quem ela entrevistava. Resultado: o marketing não opera milagres, ao contrário, amplia. Você está pronto para assumir responsabilidades, reparar erros e usar a sandália da humildade? Quando a ambição é grande, a queda é proporcional. Acredite: eu já vi Titanics afundarem quando a postura é de permanecer na erraticidade.
Mesmo que uma pessoa hoje prefira permanecer off. Mesmo que sua marca prefira não ter presença digital, eu lhe comprovo, via técnica de netativismo e outros meios, que seu negócio ou nome já tem alguma reputação digital. O parâmetro de Internet são conversas. Há bots e sistemas de inteligência digital que são capazes de varrer todas, digo TODAS, as marcas/personas mencionadas, em quais plataformas e em quais datas. É possível criar mapa de calor de interesses. Há um caso que cito nos treinamentos sobre um pai que descobriu que sua filha menor de idade estava grávida porque começou a receber kits e correspondências sobre maternidade em casa. A mocinha visitava sites de enxoval de bebê, que rastrearam seus interesses em pesquisa no Google e ela tinha uma conta no Gmail com aceite de cookies. Bem, depois de nove meses o resultado estava comprovado, chorando, mamando e com demandas de fraldas P, M e G.
Privacidade não é só se isentar de postar. Tem a ver com quem você segue, quais páginas e aplicativos frequenta, é como você usa seu tempo, e por quanto tempo da vida se dedica àquelas atividades. É também como se mascara ou tenta vender seu ‘peixe’, seu ‘fake’, para fins diversos. Adoro o termo sociológico OnLife porque a pandemia deu zoom significativo naquilo que somos ou escolhemos ser. Podemos ser nativos digitais e tudo que consumimos e como utilizamos, fala muito sobre um EU profundo. E o Espaço Reflexão tem este propósito, de provocar nosso leitor a refletir como tem vivido esta existência rápida, seja surfando nas ondas da www (world wide web), ou seja no seu próprio mar de ilusões e convicções.
Não, nós não voltaremos às cavernas. E talvez a única privacidade que se mantenha seja aquela entre você e você. Aquele espaço íntimo onde a gente se reconhece, se valoriza, sabe o que quer e qual caminho seguir: com fé, coragem e consciência que tem feito o melhor. O filósofo Osho conta que antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. “O rio olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente.”
Na internet é a mesma coisa, uma vez dentro dela, em segundos, sua fala, imagem e escrita tá printada, indexada no maior buscador e biblioteca do mundo, que é o Google. E conforme a escritora e líder espiritual, Marianne Williamson, disserta, “nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. É o de sermos poderosos demais. É nossa luz, e não nossa escuridão, que mais nos assusta. Sua falsa modéstia não serve ao mundo. Não há nada de iluminado em encolher-se para evitar que outros se sintam inseguros ao seu redor”. ‘Faça a sua luz brilhar’, é bom lembrar, é uma convocação crística. E nada tem a ver com novela, faz de conta ou fakes pessoas, situações ou sentimentos. Quem e o quê é de verdade, mais cedo ou mais tarde, essa era trata de mostrar (e rápido).
 
“O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano”, poetisa o guru indiano. Estar no palco e também na massa da audiência faz parte do game. Só não seja massa de manobra: permaneça firme em seus ideais mais nobres e espalhe-os com quem lhe rodeia, o mundo precisa cada dia mais de trabalhadores da luz e da verdade.

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