Músico ainda é a voz mais forte do soul e do funk do Brasil
O cantor e compositor Tim Maia conquistou uma carreira vitoriosa, fez sucesso durante quatro décadas e aos 55 anos saiu de cena. Morreu vítima de endema pulmonar no dia 15 de março de 1998, mas até hoje permanece lendário, mitológico e memorável como a voz mais forte e bem-sucedida do soul e do funk do Brasil. Muitos artistas seguem a receita deste músico carioca que traduziu o soul e o funk norte-americanos para o idioma da música brasileira e o têm como maior referência. Suas canções ficaram eternizadas e continuam inseridas nos repertórios de quase todos os artistas nacionais.
Tim é o responsável pela introdução do estilo soul na Música Popular Brasileira, reconhecido mundialmente como um dos maiores ícones da música no Brasil. Suas músicas eram marcadas pela rouquidão de sua voz, sempre grave e carregada, conquistando grande vendagem e consagrando muitos sucessos. Sua arte começou ainda na adolescência quando ‘brincava’ de fazer música com Jorge Ben Jor e Erasmo Carlos. Aos 15 anos fundou o grupo The Sputniks, junto a Roberto Carlos.
Em 1959, emigrou para os Estados Unidos, onde teve seus primeiros contatos com o soul. Ele se encontrou quando foi na fonte da música negra-americana, bebendo do soul, do funk que emergiu nos anos 1960 e do R&B propagado pelo som da (gravadora) Motown. Na volta ao Brasil, Tim se revelou um gênio ao misturar tudo isso com os ritmos brasileiros. Juntou soul com samba, soul com baião, soul com xaxado. No início da década de 70 gravou seu primeiro disco, intitulado Tim Maia, que, rapidamente, tornou-se um sucesso país afora com músicas como “Azul da Cor do Mar” e “Primavera”. Mais tarde, o artista ainda misturou soul e funk com a batida da disco music, fusão que deu o tom festivo do álbum Tim Maia Disco Club (1978).
Moderna música negra
“Além da voz potente e marcante, capaz de atingir notas graves e agudas, com falsetes, do groove e do swing de suas batidas que oscilavam entre baladas e sons frenéticos, do teor profundo ou extasiado de suas composições, Tim Maia ficou marcado por ser um dos principais responsáveis por inaugurar o que ficou conhecido como a moderna música negra brasileira”, explica o pesquisador de Núcleo de Estudos Culturais da Universidade Federal de Sergipe, Lázaro Cruz.
Lázaro recorda que o primeiro LP de Tim trazia faixas bem dançantes e bem arranjadas. “Como ‘Cristina’, e ‘Jurema’, além de incluir também um grande teor melancólico em ‘Você Fingiu’ e a clássica ‘Azul da Cor do Mar’, serviu para consolidar a então novata cena de soul music brasileira. Juntamente com Cassiano, Banda Black Rio e Hyldon, Tim construiu um novo espaço para o negro na música brasileira, dissociando-o do samba”.
Hits eternizados
O músico sergipano que é baterista da banda Soul Caravan, Rafael Junior, disse que Tim, inseriu a soul music americana no contexto da música brasileira, misturando a ‘importação’ com um tempero local.
“Não era apenas uma cópia. Como amante de soul e Black music, o Tim não pode faltar na minha coleção de discos, junto com outros baluartes do Soul brasileiro como Hyldon e Cassiano, que eram menos conhecidos mas igualmente importantes. Beberam da mesma fonte. As canções de Tim Maia habitam o imaginário popular e não podem faltar e estão no repertório da Soul Caravan, o grupo que se dedica à música negra dançante que todos conhecem como funk-soul”, orgulha-se.
Junção musical
O cantor Alex Santana também reserva um espaço do repertório dos seus shows para inserir canções de Tim Maia.
“Me pediram para montar um show em homenagem ao Tim Maia e foi um grande desafio para mim. Estudei a sua obra, fiz o show e foi sucesso. O público pediu mais e ficou impossível tirar as suas músicas do show. Mas antes eu já fazia shows com canções do Jorge Ben Jor, mas fiquei muito fã do Tim e sinto um grande prazer em tocar as suas músicas. O show é fácil e cheio e hits e a cada dia descubro outro sucesso dele e incluo no repertório”.
Alex reforça que Tim conseguiu unir a música brasileira com a música de diversos lugares do mundo. “Essa junção musical que ele fez deu certo. Quem faz funk ou soul tem uma influência de Tim Maia de alguma forma”.
Cover sergipano
O sergipano Rodrigo Bavaria se apresenta como cover de Tim Mais e faz sucesso. “O grande Sebastião Rodrigues Maia foi uma figura muito importante para o MPB. Sou um grande fã e admirador dele e minha carreira como artista começou com total influência de Tim. Foi minha primeira experiência cantando e fazendo apresentações quando eu nem imaginava que poderia me tornar um cantor. Suas músicas são universais e agradam diferentes gerações. É muito raro tocar uma canção dele e as pessoas não cantarem e dançarem juntos”, garante.
Rodrigo recorda como começou a ser cover do Tim Maia. “Foi uma decisão em conjunto com mais três amigos. Estávamos com um projeto de uma banda para tocar funk/ soul/ black music e nos deparamos com os discos do síndico. Nós já conhecíamos os grandes sucessos, mas outras canções não tão conhecidas nos encantaram também, cheias de swing, com aquela voz poderosa e a força dos ataques dos metais. Foi unânime a decisão de fazer essa homenagem a esse ícone da música”.
Musical
O cantor e ator Thiago Abravanel protagonizou ‘Vale Tudo, o Musical’, de Nelson Mota e ganhou destaque pela interpretação no teatro em 2012.
“Estudei e mergulhei na música dele graças aos amigos com quem Tim dividiu o palco como Roberto Carlos e Ivete Sangalo. Sem dúvida foi o divisor de águas na minha pequena carreira. Eu sou eternamente grato por tudo o que ele me proporcionou e viver esse personagem foi um desafio gigante. E pessoalmente falando me trouxe o presente de me encontrar dentro da música, de acreditar que é possível fazer e viver dela”, vibra.
No fim de 2017, Thiago gravou uma nova versão de ‘Não Quero Dinheiro’ e fez uma nova roupagem da faixa eternizada na voz do ‘síndico’.