Projeto de produção rural, com plantio de hortaliças e criação de codornas busca gerar conhecimentos humanos e profissionais para socioeducandos
Um projeto agroecológico está promovendo contato com a natureza para os 10 adolescentes que cumprem medidas socioeducativas da unidade de semiliberdade Comunidade de Ação São Francisco de Assis (Case 2), da Fundação Renascer. Idealizado pela equipe de segurança da unidade, o projeto ganhou o engajamento dos socioeducandos e conquistou parceria com o curso de Agroecologia do Instituto Federal de Sergipe (IFS), campus de São Cristóvão. Através da professora Mônica Alixandrina e alunos, o IFS realizará o acompanhamento técnico do projeto, que já colhe resultados do cultivo de legumes e hortaliças. Desde a última semana, o projeto passou a adotar também a criação aviária de codornas pelos próprios adolescentes acolhidos na unidade da Fundação, vinculada à Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social (Seias).
Na horta, os adolescentes cultivam alface, couve, tomate, pimentão, cebola, pimenta, cenoura, coentro e quiabo, além de um mini herbário com capim santo, boldo e erva cidreira. O coordenador de segurança e um dos instrutores do projeto, Ronaldo José dos Santos, conta que o objetivo foi gerar ações durante a pandemia. “Neste período de pandemia e suspensão das atividades internas e externas, a horta veio como uma forma de preencher a ociosidade dos meninos, se sentindo produtivos e trabalhando a sociabilidade. Deu super certo. Eles compraram a ideia e já tivemos a segunda remessa da colheita da horta, que vai para o próprio consumo deles”, conta Ronaldo, que instrui o projeto ao lado dos agentes de segurança Sivaldo Santos e Tarciso Eder, em parceria também com as profissionais da cozinha.
Como a horta deu certo, os socioeducandos sugeriram também a criação de bichos. A construção do aviário foi finalizada nesta semana. “Conversando com os adolescentes, eles mesmos deram a ideia de criar bichos, como mascotes da casa. Com isso, ao mesmo tempo que passaram a ter mais uma opção de atividade, nós também começamos a observar o tratamento deles com a vida dos animais. Optamos pela criação de codornas, pois são animais de pequeno porte, fácil manejo, alimentação de baixo custo e com o benefício de produzir ovos quinzenalmente, que serão consumidos por eles como resultado do seu trabalho. Associamos, assim, a produção aviária à produção de hortaliças, usando os excrementos das codornas como adubo, trabalhando com base na agroecologia”, completa Ronaldo.
Além de promover conhecimentos agrários, o projeto resgata a identidade de adolescentes oriundos do interior, que já tiveram contato com produção de hortaliças e demais culturas do campo, a exemplo do jovem J. V. N. S., de 19 anos. “Eu me sinto grato pelos agentes trazerem esse projeto, por pensarem na gente e acreditarem na nossa melhora. O trabalho com a terra e animais é algo que eu já conhecia e, por isso, gostei muito. Relembrou a minha infância. O que mais gosto de fazer é regar as plantas e fazer a colheita. É muito bom ver que o que a gente planta, a gente colhe. E, pra muitas pessoas que nunca tiveram esse contato, serve também como aprendizado. Além de entreter a gente, vamos levar esse conhecimento pra fora e, quem sabe, pode se tornar até uma futura profissão”, reflete o jovem.
O projeto cativou a professora do curso de Agroecologia do IFS Campus São Cristóvão, Mônica Alixandrina Santos, que visitou a unidade e fechou a parceria para realização da cooperação técnica do projeto com alunos do curso. O projeto será oficializado pelo IFS nesta semana. “Foi a primeira vez que entrei na instituição e fiquei encantada com a possibilidade de desenvolver um trabalho ecológico com os meninos. É um aprendizado que eles poderão levar para a vida. Respeitar a natureza, ter uma alimentação saudável, cuidar de algo e saber que aquilo trará um retorno. Tudo isso é importante para ampliar a visão de mundo desses jovens e fazê-los enxergar outros caminhos e até profissões, caso gostem das ciências agrárias. O projeto começará após a formalização com o IFS, mas eu já tenho algumas ideias em mente, em relação à coleta de solo e melhoria com adubação orgânica”, conta a professora.