A escola, que está integrada ao campus de são Cristóvão, possui cursos concomitantes, mantidos também com parceria municipal. Seria o fechamento uma jogada política municipal ou a culpa é do corte de verbais, em nível federal, em todo o IFS, que comprometerá todas as unidades em Sergipe?
Inaugurado em 15 de março de 2008, o polo do IFS (Instituto Federal de Sergipe), em Cristinápolis, vai fechar. “Estive, no último dia 21, juntamente com o secretário de educação, na Reitoria. Temos lutando bastante para permanência do polo. A não renovação do convênio foi fruto do parecer do procurador do IFS. No entanto, não paramos de buscar alternativas e lutaremos até o fim no intuito da sobrevivência do polo”, ressalta o diretor do IFS em Cristinápolis. Ao que tudo indica, o polo de Cristinápolis segue agora para o Alto Sertão, para a cidade de Poço Redondo.
O encerramento da unidade, conforme pontua a coordenadora municipal de educação de Cristinápolis, Lidiane Bonfim, aconteceu porque o IFS encontrou irregularidades que vieram, principalmente, da gestão municipal passada. A reitoria ainda manteve o polo na cidade durante estes últimos meses para que os alunos se formassem. E manterá em 2019, com apenas seis alunos, até que estes seis alunos concluam suas formações. “Ainda conseguimos que nossos alunos se formassem. Porque as irregularidades encontradas poderiam fazer com que os diplomas dos alunos não fossem validados nem garantidos”. Uma das principais ilicitudes da gestão (municipal) passada, do prefeito Raimundo Leal, conhecido por Padre Raimundo, e encontrada pela reitoria do Instituto diz respeito a contratações de professores e funcionários. Contratações irregulares.
Lidiane ainda acrescenta outro fator crucial para a saída do IFS da cidade, o de a reitoria querer o prédio do município. “Professor Clewilson, professora Irineia (do Campus de São Cristóvão) e eu tentamos que o IFS continuasse. A reitoria falou com o prefeito. O IFS queria um prédio público. Pediram que a Prefeitura doasse o prédio. A reitoria queria o atual prédio em que funciona o polo. O prefeito João Dantas, conhecido por Du de Juca, disse que doaria o prédio para que o IFS permanecesse. Isto já em primeiras reuniões nossas com a reitoria, no início de 2018. O prefeito garantiu a doação. Tudo o que o município poderia fazer foi feito. Mas infelizmente o reitor não quis renovar o convênio. E nesta última segunda-feira, dia 17, o assessor de comunicação do IFS me disse, aqui em Cristinápolis, que vários outros IFS serão fechados”.
ALUNOS DE 16 MUNICÍPIOS PRÓXIMOS
Hoje, alunos, professores e profissionais estão sentindo na pele o fechamento do polo de Cristinápolis. Porque este polo do IFS em Cristinápolis consegue abarcar, integrar, 11 municípios sergipanos e cinco baianos. E durante estes 10 anos de existência da escola no município, alunos de diversas cidades sergipanas, tais como Arauá, Boquim, Estância, Itabaianinha, Pedrinhas, Riachão do Dantas, Salgado, Santa Luzia do Itanhy, Tobias Barreto, Tomar do Geru, Umbaúba, vinham para Cristinápolis para estudarem. Estudantes de Acajutiba, Jandaíra, Rio Real, Esplanada, Itapicuru na Bahia vinham estudar no polo Cristinápolis do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Sergipe (antiga Escola Agrotécnica, nome este de quando foi implantada) também frequentavam a cidade em busca de formação profissional.
A luta para a implantação de um Instituto Federal na cidade começou em 2007, o Cinform registro. A instalação oficial ocorreu em março de 2008, na gestão do prefeito então Elizeu Santos, do Ministro da Educação Fernando Haddad e do governo Lula. O convênio foi firmado coma enorme Escola Agrícola Ministra Leonor Barreto, no assentando São Francisco, que fica a seis quilômetros do centro da cidade. Porém, desde 2017 ocorreu o burburinho que iria fechar. Na época, o teto do prédio caiu e as autoridades não tomaram providências, ninguém fez nada. O ex-secretário da Educação de Cristinápolis à época requereu informações ao prefeito, do secretário da educação atual e do próprio IFS – Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Sergipe, campus de São Cristóvão.
GESTORES NÃO VALORIZAM
Fruto da terra, o médico veterinário Ernando Barbosa Rodrigues, formado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), é ex-aluno do IFS, em Cristinapolis, e está muito triste com o fechamento da escola. Ernando, porém, é taxativo ao dizer de quem é a culpa do subaproveitamento do polo do Instituto Federal na região: “a culpa é dos gestores do município”. Ernando descreve os anos que passou no IFS ao descrever a própria vida.
“Eu sou da primeira turma aqui em Cristinápolis. Entrei em 2008. Eu sempre gostei de animais, e o curso de técnico em agropecuária aqui em Cristinápolis era o mais próximo da realidade que eu desejava para a minha vida profissional. Em 2010 eu terminei o curso técnico e em 2012 eu ingressei na UFS em medicina veterinária. O IFS me ajudou bastante, até mesmo pelas disciplinas. E é triste saber que a escola, após 10 anos, e por conta de (falta) de apoio gestores (municipais), vai fechar. Tínhamos ótimos professores aqui. Porém, nosso polo em Cristinápolis nunca teve apoio dos gestores daqui (prefeitos).
Reavivando a memória, o ex-alunos vai se recordando de todos os detalhes: “Os professores das matérias técnicas vinham de São Cristóvão, mas as outras matérias (português, matemáticas) eram ministradas por professores da rede municipal. Era um curso integral. A gente passava o dia todo lá, almoçava lá, fazíamos muitas atividades. Eu tenho colegas da minha antiga turma que se formaram em agronomia. E nesta área de ciências agrárias, o fato de cursar o IFS acaba ajudando bastante durante uma provável e posterior vida universitária. Mas, o que percebo é que a maioria dos alunos do IFS não são bem aproveitados depois que se formam, porque não há incentivos para os produtores rurais e para a agricultura familiar nos municípios sergipanos, como Cristinápolis, por exemplo”.
ALUNO NÃO PODE COMER LARANJA
E lamenta o subaproveitamento do polo de Cristinápolis: “Na época em que eu estudada a gente trabalhava bastante ali. Mas, aquela escola sempre foi subaproveitada, pela área que ela tem, pelas instalações que ela tem, e estão paradas. Na época que eu estudava existiam convênios com uma cooperativa, os alunos plantavam lá, recebiam alimentos e até recebiam bolsas estudantis pelos trabalhos prestados. Eu vejo ali um enorme potencial para a área da agropecuária, existem profissionais e professores excelentes, que buscam e que são engajados para levarem melhorias para os alunos. Porém, o principal problema é o incentivo dos gestores para a escola”. E relata fatos que não deveriam jamais existir em uma escola pública: “Teve épocas, na gestão (direção do instituto, de prefeitos passados) passada, que os alunos não podiam nem ‘tirar’ uma laranja (para chupar) ou um coco para comer”.
MORADORES DA COMUNIDADE
Para Ian Sousa, morador da região e neto de agricultores, o fechamento do polo do IFS em Cristinápolis trará consequências danosas e, irreversíveis na vida dos cristinapolitanos. O rapaz vê um enorme retrocesso. E cita dados estatísticos na hora de argumentar: “Numa cidade como Cristinápolis, que é o 7° pior IDH (Índice de Desenvolvimento Básico) do Estado, perder um curso na área agrícola é mais um complicador”.
IFS EM NÚMEROS
Em todos dos polos do IFS no Estado de Sergipe, há 1205 servidores trabalhando, sendo 533 docentes e 672 técnicos administrativos. O instituto tem atualmente 7.577 alunos matriculados, com 20 cursos integrados, 16 de graduação, 22 cursos subsequentes. A verba que IFS recebe varia muito de um ano para o outro. E diferentemente da UFS, que já tem garantida emendas coletivas todos os anos, ou seja, já tem um mínimo garantido, o IFS fica refém das emendas parlamentares individuais e coletivas.
Acerca de futuros e prováveis cortes orçamentários, Antônio Santiago, que é coordenador de administração e finanças do Sinasefe-SE – Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica, secção Sindical do Instituto Federal de Sergipe – pontua: “Na verdade, há muita expectativa sobre as diretrizes próximo governo federal. Mas há sim o anúncio de cortes. Agora, até onde vão os cortes é a incógnita”.
E explicita: “O que a gente tem acompanhado é o que se tem anunciado na mídia nacional. Em todas as entrevistas que o novo ministro da educação, Ricardo Vélez-Rodríguez, dá; ele não afirma como isto (os cortes) irá acontecer. A diretriz de trabalho dele, neste próximo governo, é a privatização da educação. Mas, se os moldes dessas privatizações seriam conforme o governo do PT fez, com o antigo sistema Ebserh, com empresas para a área da saúde, em que eram realizadas contratações específicas, e nestes casos o servidor não tem uma carreira estabilizada, não sabemos”.
Santiago resume a situação como um terreno instável e cheio de incertezas. Porque o futuro ministro tem falado bastante em cortes, mas não tem sido específico sobre quais cortes irão ocorrer nos institutos e nas universidades. Sem uma previsão, fica difícil de os gestores (reitores, diretores e coordenadores de tais das instituições) fazerem uma análise mais aprofundada do problema. “O que eu posso afirmar é que nos últimos três anos a gente teve cortes sucessivos do valor de custeio e do ordenamento de despesas do instituto. Falo isso acerca do IFS de um modo geral. Já para os campi de Aracaju, São Cristóvão, por exemplo, estes tiveram cortes no ordenamento de despesas no valor de 30% (do montante total), ele analisa.
Antônio Santiago ainda especifica as maneiras com as quais os diretores das instituições conseguiram fechar as contas: “E os gestores, para conseguirem fechar o balanço anual para pagarem as contas de energia, despesas diárias, alimentação para os alunos, foi preciso revisar os contratos com as empresas prestadoras de serviços. Então, se tinham 50 seguranças, passou a ter 30; se tinha 50 agentes de limpeza, o número também foi reduzido. E somente com essa reformulação é que os gestores dos respectivos campi conseguiram fechar as contas anuais. E essa situação já acontece nos últimos três anos. O ministro da economia, o Paulo Guedes, tem tratado nestes termos também, de que o valor a ser repassado será enxuto porque o país está em crise. O que posso falar é que não temos nenhum posicionamento do governo futuro do que acontecer com a gestão dos institutos”.
De acordo com Santiago, a política de cortes preocupa o sindicato dos servidores do IFS, que tem acompanhado de perto o desenrolar da questão, até para saber qual vai ser a posição que a reitoria tomar, como a reitoria vai proceder. Uma vez que, se cortes vierem, o maior prejudicado, obviamente, além servidores, é população. Porque os serviços prestados pelo IFS têm uma qualidade reconhecida internacionalmente e, com os cortes, este serviço tende a piorar. A conta é simples. Se esse valor do repasse é diminuído, de alguma forma, o serviço é modificado.
E uma das ressalvas feitas por Santiago é a de que “rede IFS é referência mundial no tocante a oferta de cursos públicos e gratuitos. Até existem países que têm uma rede como a nossa aqui no Brasil, mas cobrando-se mensalidades, e aí, além do valor de impostos arrecadados naqueles países, o aluno ainda paga valores para poder complementar essa educação e ter acesso. A rede IFS aqui é pública, gratuita e de referência e está entre as melhores do Brasil e do mundo”, Antônio Santiago, coordenador de administração e finanças do Sinasefe-SE – Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica, secção Sindical do Instituto Federal de Sergipe.
NOTA OFICIAL IFS
De acordo com a assessoria de comunicação do Instituto, a posição do IFS é a seguinte: “A oferta de novos cursos pelo Pólo Cristinápolis só ocorrerá após o posicionamento do MEC. Os atuais estudantes não terão qualquer prejuízo para a integralização dos seus cursos.