“Ô abre alas que eu quero passar…”
Futebol e Carnaval ainda são as marcas registradas do Brasil, no exterior. Há quem diga que, por aqui, as coisas só funcionam depois do carnaval. A festa popularizou-se e chega a ser celebrada de diversas formas, a depender da região. Mas, vale destacar que a folia não é uma invenção brasileira.
Foram os colonizadores portugueses, a partir do século XVI, quem inseriu a manifestação na colônia. Apesar do secularismo, a festa é intrinsecamente ligada ao catolicismo, uma vez que sua celebração antecede a Quaresma. O entrudo (brincadeira praticada inicialmente por escravos em que as pessoas ocupavam as ruas sujando umas às outras, jogando água, farinhas e outros líquidos como os denominados limões de cheiro, tinta, café, lama e até urina), por exemplo, foi uma dessas primeiras manifestações carnavalescas.
Ao longo do tempo e nos mais distintos lugares, outras formas de expressão foram surgindo e sendo incorporadas à festa, como os cordões e ranchos, as festas de salão e as escolas de samba. Frevos, afoxés, e maracatus também passaram a fazer parte da tradição cultural carnavalesca brasileira. Marchinhas, sambas e outros gêneros musicais foram incorporados a essa manifestação cultural.
O carnaval também foi responsável pela popularização do samba. Certamente você já ouvira a marchinha “Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim. Ó meu bem, não faz assim comigo não, você tem, você tem que me dar seu coração! ”. Pra você gostar de mim é uma composição de Joubert de Carvalho com arranjos de Pixinguinha e eternizada na voz de Carmen Miranda em 1930.
Em Sergipe, por um bom tempo, o Pré-Caju (prévia carnavalesca) era a única opção para os foliões aracajuanos. Mas nas décadas de 70 e 80, o carnaval no estado teve diversas expressões, como desfiles de escolas de samba, blocos carnavalescos, bailes nos clubes da cidade, além dos famosos concursos musicais. Destaque também para o carnaval de rua, que nos últimos anos vem sendo resgatado, a exemplo do bloco Rasgadinho que foi fundado em 1962.
Nessas duas décadas, o carnaval aracajuano acontecia na “Praça do Povo” (em frente ao Palácio Olímpio Campos e depois na Travessa José de Faro).
A folia também enchia os clubes, movimentava as ruas da cidade e ia até o amanhecer da quarta-feira de cinzas na orla da Praia de Atalaia. Era tradição as apresentações dos famosos calhambeques (carros velhos pintados com cores carnavalescas, geralmente Opala, Galaxie e Dodge Dart) que se exibiam nos chamados “cavalos de pau”. O público vibrava com as manobras perigosas, como destacou o antigo jornal “Gazeta de Sergipe”.
Perceba que Aracaju já teve bons carnavais de rua e em clubes. Aos poucos veio sofrendo influência de ritmos baianos como axé music, samba-reggae até a inserção do trio elétrico na década de 1980.
Tais mudanças, paulatinamente, contribuíram para o fechamento do tradicional grito de carnaval nos clubes. Embora haja nos últimos anos a tentativa de resgatar essa tradição carnavalesca mais popular, nota-se que o carnaval essencialmente sergipano perdeu espaço ao longo do tempo. Esperamos que o fomento da cultura popular venha fortalecer a sergipanidade em nosso estado. Bom carnaval!
Por Ermerson Porto* Licenciado e mestre em história pela Universidade Federal de Sergipe. Membro da Academia Maruinense de Letras e Artes (AMLA) e Integrante do Grupo de Pesquisa: Poder, Cultura e Relações Sociais na História (CNPq/UFS)