Músico e produtor sergipano fala da vida, das dores e delícias da cena musical sergipana
Por Henrique Maynart
Para quem não conhece as instalações da Rádio UFS FM 92.1, apenas uma certeza: é muito chão. O fundão do fundão do Campus São Cristóvão da Universidade Federal de Sergipe, no bairro Roza Elze, abriga a única estação universitária do estado, a cerca de 300 passos largos do Terminal de Integração. Foi justamente nas escadas da Rádio UFS, entre o canto dos pássaros e as fagulhas que o vento arranca sobre o mato, que a reportagem do CINFORM conversou com Leandro Alves de Santana, o Leo Airplane.
Tecladista, sanfoneiro, produtor e “pau pra toda obra”, Leo dá um pulo da sala do Laboratório, onde trabalha como técnico de áudio desde 2014, e fala um pouco sobre as correrias da vida e da cena musical sergipana. De olho cerrado e fala rápida, a semelhança com a voz do baixista Luno Torres, seu companheiro de banda na Plástico Lunar, chama atenção. Baiano de Ruy Barbosa, na região da Chapada Diamantina aos pés da Serra do Orobó, Leandro migra para Aracaju com a família em 1990. A música sempre esteve presente dentro de casa, mas a influência do irmão mais velho, o vocalista Alex Santana, selou o contato entre o sujeito e o instrumento.
“Meu pai e minha mãe ouviam muito MPB. Lá em casa tinha milhares de vinis, então sempre tive contato com música, mas tocar mesmo foi na adolescência através do meu irmão.. Alex me ensinou algumas coisas, violão, teclado… Teclado é o meu instrumento hoje, sanfona também.”
BATISMO SOLAR
Leandro vira Leo Airplane a partir da primeira fita demo da banda Plástico Lunar, que foi há tanto tempo que a banda ainda se chamava “Plástico Solar”. Entre o sol e a lua, a escolha do pseudônimo teve o provável peso da banda norte-americana Jeferson Airplane. “Na primeira fita demo da Plástico Lunar, que foi a primeira banda que eu toquei, a gente decidiu colocar nomes diferentes, ao invés de Leandro, Junior, Daniel… Dai a gente inventou na hora, não sei se tinha um disco do Jeferson Airplane, mas deve ter sido isso. Tipo aquele primeiro e-mail que você fez na vida e que você usa até hoje, é tipo isso”.
SANFONA AO CONTRÁRIO: “ELA ERA VOCÊ TODA”
Ele conta o seu primeiro contato com o acordeom, ainda nas primeiras conversas para a formação da banda sergipana Naurêa. “A sanfona foi meio à força. Na época em que surgiu a Naurêa, quem teve a ideia foi Alex (Santana), Patrick (Torquato) e Márcio (André), eles queriam montar uma banda, só não sabiam como. Isso em 2001. Eles precisavam de sanfoneiro e ninguém conhecia um. Aí Alex chegou em casa e perguntou ‘e aí, tá a fim de tocar sanfona numa banda?’ Eu topei. E foi assim, nem sabia pegar na sanfona. No primeiro ensaio eu toquei ela ao contrário, de cabeça pra baixo. Fui aprendendo na banda, no começo eu não sabia tocar nada. Tinha uma base de teclado, o que ajudava, mas demorei uns seis meses pra pegar.”
PRODUZINDO NA ESTRADA
Com a experiência de tocar em várias bandas na cena musical sergipana, Leo foi se aproximando dos processos de produção, mixagem, finalização e tudo mais. Foi assim que ele assinou a produção do primeiro disco da Plástico Lunar, dentre uma série de EP´s de vários artistas e grupos sergipanos, como a Naurêa, Banda dos Corações Partidos, Werden, dentre outros. “Como eu tocava em muitas bandas e estas bandas precisam gravar, geralmente é o tecladista que tem intimidade com tecnologia, com mesa de som, é o cara que grava, que tem equipamento. E fui gravando por conta própria, tanto a Plástico quanto a Naurêa. Os trabalhos solo de Alex, e aí eu fui começando a assinar como produtor sem saber exatamente o que é um produtor de disco, acabei assumindo este papel.”
Leo direcionou sua capacitação para a área de produção, onde chegou a participar do curso “Mix with the Masters”, com o produtor de discos da Norah Jones, King´s of Leon e Tom Waits, no sul da França. No meio do curso Leo soube que tinha passado no concurso da UFS, onde trabalha atualmente, o que foi “um alívio tremendo, porque eu fiz uma dívida gigante pra viajar”. Para ele, a principal dificuldade em trabalhar com produção é a questão da infraestrutura.
“Às vezes a gente vai gravar com uma banda e precisa de uns instrumentos bons e não tem nada. Aí você não tem a opção de alugar porque ninguém aluga, daí tem que pedir a um amigo. Em outros lugares você já tem mais serviços relacionados a isso. O que pega é a infraestrutura, coisas que não dependem só das pessoas da cena.”
ORQUESTRA NO SUSTO
O ano é 2007. Em meio à gravação do primeiro clipe da Plástico Lunar ele recebe uma ligação de Alisson, o Alemão, seu colega na Naurêa que trabalhava na Funcaju naquele momento. “Léo, você tem como aparecer aqui às sete horas com sua sanfona?” “Tenho”. Ao chegar no estúdio, a surpresa: “Tamu montando uma orquestra sanfônica, já tem show marcado na abertura do Forró Caju daqui a um mês e a galera já está ensaiando. Vamu ali”. “Quando entrei a sala tinha 30 sanfoneiros, e eu não conhecia ninguém. (risos). Entrei com o ensaio rolando lá e comecei a tocar, pronto. Isso em 2007, fiquei lá até 2013.” E assim Leo Airplane narra sua participação na Orquestra Sanfônica de Aracaju.
DIFICULDADES E TRABALHOS
Aos 39 anos de idade, 17 deles só na Plástico Lunar, Léo ressalta a dificuldade de espaços para a cena musical autoral em Aracaju. “Temos dificuldade para banda autoral. Tem o Patrón, que abre espaço para banda autoral no final de semana, mas é pouco ainda. Tem o Capitão Cook também, mas lá a banda precisa se organizar pra ocupar o espaço, a casa em si não tem um público e você tem que levar o seu. Às vezes dá certo e às vezes não dá. Mas a gente tá melhor do que muitos lugares, do Nordeste eu acho que a cena daqui é uma das que mais produzem.”
Seus próximos trabalhos incluem o EP “Desamor” da Banda dos Corações Partidos, que será lançado no dia 17 de agosto, e o clipe da música “Fudeu”, de Alex Santana, nesta sexta-feira (10), ambos no Patrón Pub, além do lançamento do novo disco da “Plástico” ainda este ano. Leo ressalta a necessidade de uma atitude mais assertiva para a produção de novos trabalhos. “Falta atitude da galera mesmo, de lançar seu próprio trabalho. Acho que tem muita banda querendo tocar, mas sem material ainda. Tem que começar de algum lado, tem que produzir e não só ser artista, tem que querer ser produtor, tem que ser o técnico, tudo mais. Todo mundo quer ser o guitarrista da banda, mas ninguém quer ser o cara que liga pra marcar o show.”