A tragédia que aconteceu em Mar Grande na travessia Salvador-Ilha de Itaparica  já tinha sido alertado pelo Ministério Público do Estado da Bahia. O MP/BA já havia proposto duas ações civis públicas alertando para o risco de acidentes como o que envolveu a embarcação Cavalo Marinho I. O órgão informou que um promotor público especializado vai acompanhar as investigações sobre as causas do acidente.

Segundo o MPE da Bahia, a primeira ação civil havia sido proposta em 2007 e a segunda em 2014. “A precariedade do serviço de transporte hidroviário realizado pelas embarcações tem sido alertada há mais de dez anos, lembrou um promotor.

As duas ações haviam sido propostas pela Promotora de Defesa do Consumidor de Salvador, Joseane Suzart.

A primeira investigação versava sobre a qualidade das embarcações e também com relação aso barcos que estavam fazendo o trajeto Salvador-Mar Grande, de forma irregular. A investigação do MP apontou que havia risco à segurança de “centenas” de pessoas.

Após sete anos da primeira ação civil público, nasce uma outra com foco na infraestrutura existente para permitir o trânsito marítimo na área. A promotora pediu à Justiça que o poder público fosse obrigado a reformar os portos e as empresas fossem condenadas a também fazer reformas nas embarcações, além de adotar medidas como renovar os estoques de coletes salva-vidas.  As duas ações ainda estão tramitando e não há decisão judicial, nem em caráter de antecipação de tutela.

Marinha confirma 17 mortes no naufrágio. Assista ao vídeo

Assista ao vídeo de uma sobrevivente do naufrágio em Mar Grande

 

A Marinha fez um balanço da tragédia que aconteceu na manhã de hoje, na localidade de Mar Grande, município de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica e anunciou oficialmente que o número de mortos vítimas do naufrágio da lancha Cavalo Marinho I é de 18 e não 23 como havia sido divulgado no início da tarde.

A Secretaria de Saúde de Salvador (SMS) ainda chegou a confirmar uma 23ª vítima – uma criança que morreu ao chegar no Terminal Marítimo, na capital, após equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tentarem reanimá-la. No entanto, no início da noite, o Departamento de Polícia Técnica (DPT) fez uma nova contagem, confirmando 18 vítimas fatais.

Segundo a prefeitura de Vera Cruz, 124 pessoas estavam a bordo da embarcação da Associação de Transportadores Maritímos da Bahia (Astramab), que tem capacidade para transportar 162 passageiros, virou pouco depois de sair do terminal de Mar Grande.

Até agora, 14 vítimas fatais do naufrágio já foram identificadas pelo Departamento de Polícia Técnica.

São eles: Antônio de Jesus Souza, 67 anos, Thiago Henrique de Melo Barreto, 35, Ivanice Gomes da Silva, 70 ,e Davi Martins, 6 meses. O quinto corpo ainda não tem identificação. A prefeitura de Vera Cruz atualizou o número de vítimas fatais de 23 para 18. Segundo o município, 13 pessoas registraram a passagem, mas desistiram do embarque minutos a antes.

A Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) também informou, mais cedo, que 70 pessoas resgatadas foram levadas para a UPA de Mar Grande e outras 15 foram conduzidas para o Hospital Geral de Itaparica. Destas, duas foram levadas para o Hospital do Subúrbio e uma para o Hospital Geral do Estado, em Salvador. O estado de saúde das vítimas ainda não havia sido informado. Outras 34 pessoas foram atendidas ainda no Terminal Marítimo, no Comércio.

Pescadores e moradores auxiliaram no resgate levando as vítimas para a areia da praia. Moradores de Mar Grande foram para o pier assim que souberam do acidente. Embarcações particulares tentaram se aproximar do local do naufrágio para ajudar a socorrer as vítimas.

“Quando eu percebi que tinha virado, eu já estava embaixo da água, tentando respirar, e não conseguia. Eu pedi tanto a Deus que eu suspendi a cabeça e tive a respiração. As madeiras começaram a quebrar. O barco começou a desmanchar”, contou, emocionada, a faxineira Morenita Santana, 35.

Resgate

Cinco lanchas, quatro navios da Marinha, com mergulhadores, e 130 militares participaram do trabalho de resgate. Três navios da Base Naval de Aratu e três lanchas da Capitania dos Portos foram deslocadas para o local do naufrágio para auxiliar nas buscas.

Sobreviventes

Os sobreviventes do naufrágio da lancha Cavalo Marinho I começaram a chegar em Salvador por volta das 9h30. Ao desembarcar no Terminal Marítimo, as vítimas foram colocadas dentro de ambulâncias do Samu. No local, tinha três ambulâncias do Samu e uma do Corpo de Bombeiros.

Um bebê de um ano, que havia sido resgatado do naufrágio, não resistiu e morreu por volta das 11h. Equipes do Samu tentaram reanimar a criança, que já chegou ao terminal sem os sinais vitais.

No Terminal Marítimo de Salvador a comoção era grande. Familiares e amigos foram ao local para acompanhar a chegada dos sobreviventes. Muitas pessoas choraram ao reencontrar os parentes.

Quem também estava na lancha no momento do acidente foi o produtor musical, Mateus Alves Ramos, 23. Ele pegou a lancha de 6h30. Seu pai, Marival Ramos, pegou a de 6h. Assim que soube do acidente, Marival foi para o terminal marítimo da capital, para onde os sobreviventes estão sendo levados.

“Meu colete eu dei a uma senhora, que desmaiou na água. Me segurei em uma bóia. Eu faço a travessia uma vez na semana. O barco surfou em cima de uma onda e não conseguiu tirar da outra onda”, contou Mateus.

Dicas após outro naufrágio

A administradora de condomínios Meire Reis, 53, conta que conseguiu sobreviver pois tinha visto nesta quarta-feira (23), na televisão, uma reportagem sobre o naufrágio que aconteceu no Pará.

“Eu vi a reportagem de Belém (Pará) e aí eu perguntei a ele (meu marido) se acontecesse isso aqui, o que eu devo fazer. E ele fez e ensinou tudo como fazer para me salvar: respirar, me afastar porque o que mata é o povo que fica em cima. Tudo que ele me ensinou foi o que eu fiz. Hoje eu estou viva e salva graças a ele, ao que ele me ensinou”, disse

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