Delegado Alessandro Vieira confirma que está a disposição
da Rede para ser candidato em 18. Inclusive a governador

Anderson Christian

politica@cinformonline.com.br

O sotaque não é de um sergipano nato. E a explicação vem rápida. “Nasci no Rio Grande do Sul e moro em Sergipe desde os 10 anos de idade”, responde Alessandro Vieira, delegado de polícia há 16 anos. “(Para ser sergipano) Só falta passar a escritura. Mas aracajuano já sou”, revela Alessandro, que cursou Engenharia Mecânica em Campina Grande (PB), retornou ao Direito e a Aracaju onde, após um mês de formado, passou no concurso para delegado. E agora se movimenta em direção a uma outra seara: a política.

Por um ano e dois meses, Alessandro foi chefe da Polícia Civil. Deixou o cargo após decisão do governador Jackson Barreto (PMDB). E hoje, filiado Rede – “eu já era, desde praticamente a fundação do partido. Mas deixei a filiação inativa, por não achar que política partidária combina com cargos de chefia no poder público” –, ele dá passos em direção as eleições de 2018, mas de forma cautelosa até na nomenclatura, por assim dizer. “Eu não tenho a prática política, para mim é uma novidade. Normalmente as pessoas me chamam de Delegado Alessandro. Mas até isso só definiremos mais tarde, com o desenrolar da campanha”.

De toda forma, o delegado acredita que haverá mudanças no quadro político. “Teremos uma renovação por exaustão. E há uma expectativa muito forte para isso no Brasil e em Sergipe, mais ainda. O nosso quadro político está extremamente envelhecido”, diz Alessandro, ressaltando que não se trata da idade dos candidatos e ocupantes de cargos eleitos, mas pelo tempo que esses mesmos estão na política e na vida pública.

HORA DE MUDAR

“Numa análise rápida, quatro ou cinco homens, todos septuagenários, são os que comandam Sergipe desde que acabou a Ditadura Militar: Valadares, Albano, João Alves e Jackson Barreto. E não foge disso. Teve Marcelo Déda, num pequeno período, mas também apoiado por alguns nomes que citei. Cada um deles deixou sua marca na história de Sergipe, mas exauriram. Não se vê proposta nova e nem perspectiva de renovação”, analisa Alessandro.

“Investigações incomodaram Jackson também”

Aos 42 anos, ele reconhece que sua geração foi levada a se afastar da política. “Fomos educados para isso. Aí deu no que aí está: são os “Gedéis” da vida, que se reproduzem, fazem riqueza, lesam o país e os anseios dos cidadãos. A ideia é trazer para a política pessoas que tenham suas vidas estabilizadas, que não vão buscar na política um meio de vida. As pessoas que vivem de política fazem tudo para permanecer num cargo, pois não têm dinheiro para se sustentar de outra forma. A política profissional é um câncer na vida pública”.

E aqui é que Alessandro ataca frontalmente, a primeira de muitas na entrevista, o governo estadual. “O governo do estado de Sergipe é um exemplo disso, pois é uma gestão que foi se endividando violentamente porque não queria perder o perfil de tocador de obras, não queria perder o voto. Mas, para isso, saíram de uma dívida de R$ 600 milhões para R$ 5 bi, R$ 6 bi. Isso é impagável”, declara Alessandro.

CRÍTICAS SEM DÓ

Como o teor dos embates entre candidatos costuma ser ácido, e, enquanto delegado, Alessandro já comandou investigações que incomodaram gente da política – “incomodaram Jackson também”, frisa – estaria o estreante preparado para o que virá, especialmente se o atual governador voltar as baterias de críticas em direção a ele? “Há 16 anos tenho minha vida tocada na polícia. Se eu não tenho medo de bandido, não posso ter medo de Jackson Barreto e nem de ninguém”.

“Para qualquer que seja o cargo, inclusive para governador”

E, aí, está a maior motivação de Alessandro Vieira. “Tenho que manter a dignidade, o respeito. Eu tenho três filhos pequenos. E tento fazer essa jornada na política porque, dentro da seara da polícia, administrativa, vi que se chegou ao teto. Tudo aquilo que se pode fazer para a sociedade enquanto servidor público, eu fiz. Mas existe um limite para isso. Existe um ponto de gestão que é dos políticos. E os políticos que nós temos não têm o menor interesse em mudar a situação”.

Por fim, duas coisas: Mova-SE e Rede. “O Mova-SE surgiu quando eu ainda estava na chefia da polícia e um grupo de pessoas se propôs a apoiar o trabalho da Deotap (Delegacia de Combate a Crimes Financeiros e a Ordem Tributária). Soltaremos em breve um manifesto para explicar melhor o que é o Mova-SE. Mas asseguro que não se trata de um movimento de política partidária. É a sociedade exercendo seu poder”, explica o delegado sobre o movimento que está com diversas ações civis públicas contra o governo, como no caso do aluguel do Mistão pela secretaria de Estado da Saúde.

Já em relação ao partido, nacionalmente comandado pela ex-senadora Marina Silva, e com sua maior expressão em Sergipe sendo o ex-vereador Emerson Ferreira, Alessandro garante: se a Rede quiser, se tiver espaço, ele será candidato. “A prioridade é para Emerson, pois entendemos que ele tem o nome mais expressivo. Mas, nas nossas discussões, meu nome está colocado. E para qualquer que seja o cargo, inclusive para governador, se for o caso”, encerra Alessandro Vieira.

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