Shirley Vidal
Primeiro dia útil do ano para uns é a volta da realidade, mas para outros, é aplicar, com esperança, as promessas e projetos para 2021. Certos de que não é o tempo quem muda, tampouco o calendário que irá promover milagres, faço votos de que estejamos persistentes em nossos sonhos.
Há muitos anos cumpro um ritual para receber cada novo ciclo anual. Primeiro eu agradeço a todos que foram importantes em minha vida e comunico o porquê. Se tem duas coisas que não negligencio são: dor e amor. Ambos sentimentos me fazem crescer. Depois eu trato de pôr em ação meu planejamento de vida, que obviamente compreende as diversas áreas existenciais: saúde, família, profissional, acadêmico, lazer, amizade, espiritualidade, etc.
E me presenteio pelas metas alcançadas. Geralmente são presentes com experiências que rendam histórias como esta que irei contar. O plano de viagem junto a três amigos que curtem natureza como eu, estava engatilhado. Um roteiro com a garantia de isolamento social, com bastante trilhas, cachoeiras, rios e chapadas para explorar. Nunca teve uma agenda do que fazer, porque almas sintonizadas estão acostumadas a respeitar os próprios limites do corpo e espírito.
Como combinado, fomos para a Chapada da Diamantina, certamente guiados por tudo ter dado tão certo até aqui, da onde escrevo numa pousada em Lençóis. No primeiro dia recebemos uma prova de união da equipe. Queríamos subir o Morro do Pai Inácio, mas adiantaram em uma hora o fechamento do local por conta das circunstâncias de segurança sanitária. Bem, checamos que pelo limite de saída também não daria para ver o pôr do sol pelo horário que este se põe no sul da Bahia.
Tive a brilhante ideia de irmos ao Vale do Capão tomarmos um café no local de fabricação da Terroá Cafés. Estava fechada quando chegamos lá. Então que tal irmos na vila para saborear a famosa Pizzaria do Capão, que serve pizza com mel ao invés de catchup? Fechada também. Como somos brasileiros e não desistimos nunca, achamos um bar com cerveja de fabricação local, pizza e, de sobra, grafites dos mascotes que povoam a imaginação do povo do Vale: os extraterrestres.
No Brasil, o Capão é um dos que mais tem notificações de aparecimento de óvnis. Nada mal para terminar um 2020, né? Ainda me renderia uma prosa de terror e suspense aqui no Espaço Reflexão. Não foi desta vez, querido leitor(a). Espero da próxima não decepcioná-los com uma entrevista exclusiva e factual com um projeto de marciano para a Terra. Já com a fome saciada e cansados por toda viagem de ida e ainda, esticada com direito a estrada de pirraça para o Capão, fomos de volta para a nossa hospedaria.
Não pense que acabou a prova do primeiro dia. Ela apenas iniciou. O sono me tomou junto à digestão e imaginação dos ETs e quando vi estávamos diante de uma placa, em uma encruzilhada cheia de sinalizações, apontando diversos caminhos rumo à Palmeiras, a cidade mais próxima da civilização. Decidimos juntos seguir o fluxo de dois carros que passavam à nossa frente. Foram longos minutos de mais estrada de terra até chegarmos à Guiné, cuja conjuntura não parecia nem um pouco com nosso destino palmeirense. Pelo trajeto, o otimismo reinava. Um viu a loja de reciclagem de artes de um artista que na ida, estava na beira da rota. A outra, avistava o Morro de Pai Inácio enquanto eu franzia a testa do banco de atrás e coçava os olhos pra saber se: ou eu estava cega pra não ver, ou havia bebido um tiquinho a mais daquela cerveja com mel no bar do ET.
Minha outra amiga calada estava esperando o momento certo de dizer que euzinha aqui “só levo vocês para os melhores lugares”. A realidade foi avassaladora ao olharmos os ponteiros do combustível. O carro havia entrado na reserva e estávamos em Guiné sem posto de gasolina. “E agora José?”, escreveria Buarque de Hollanda. Eis que uma alma aparentemente amiga apontou na rua vazia e fria, seja pelo medo ou pelo clima de quem se encontra aos pés da Chapada. O nativo da pacata Guiné nos apontou a sorveteria como o estabelecimento para resolver a nossa situação. Bem, numa fria já estávamos, um sorvete a mais ou a menos, não faz mal a ninguém.
Mário, o empreendedor visionário de Guiné, nos recepcionou. É que além de gelatos e picolés, Mário, o sorveteiro, ampliou o mix de produtos de sua loja para a comercialização de gasolina. Né possível? É! Fiquei a imaginar quantos seres não se perdiam nas estradas do Vale e iam parar lá em busca do líquido. Tudo para não ficar à toa numa estrada onde poderíamos ser abduzidos. De toda forma, penso que não seria ruim. Juro que eu voltaria para contar.
O sorveteiro vende a gasolina a preço de diamante para fazer jus ao atrativo de ecoturismo. Nesta hora, o “só levo vocês para os melhores lugares” ecoou, mas tudo em tom de divertimento e humor. Afinal, os dez litros de gasosa da sorveteria de Mário salvaram nosso retorno. E eu agora tenho uma boa reflexão para inaugurar este espaço em 2021.
Percebi ali que independente das circunstâncias que se apresentassem esse grupo estaria pronto para seguir viagem. E assim realmente foi. Também identifiquei que são as pessoas, nem tanto a paisagem, que tornam o caminho melhor. Todos os seres humanos são cognitivos, afetivos e sociais. Contudo, é no campo do desenvolvimento de emoções positivas, engajamento, relações nutritivas, propósito e realizações que nos construímos a cada dia.
É também através das atividades intencionadas que pratico minhas intervenções mais profundas de felicidade. Decido como devo viver e qual estilo de vida seguir. Isso é liberdade! Os ocorridos externos, terão assim, cada vez menos poder sobre a energia que decido espalhar. É como disse a minha professora da matéria de Ciência da Felicidade, Carla Furtado: “ser infeliz dá muito trabalho. Se for para gastar energia, a gaste na busca da felicidade.” E ao entender que felicidade é um processo, não aparece assim numa nave e te capta para o paraíso, é uma decisão tomada a cada prova recebida da vida. Pronto(a) para assumir o protagonismo de sua história em 2021? Vamos nessa!

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