A pandemia da covid-19 trouxe diferentes possibilidades de estresse e de adoecimento para as pessoas. Não apenas um adoecimento físico, mas também mental. O comportamento dos adolescentes foi severamente afetado. Se a pandemia foi difícil para os adultos, que já têm uma trajetória de maturação cognitiva, social e emocional, imagina para quem ainda não sabe como lidar com estas situações? O grande impacto em relação ao desenvolvimento dos jovens foi sentido nas habilidades sociais, afirma a psicóloga clínica de crianças e adolescentes e mestra em psicologia social, Flor Teixeira.
“Alguns jovens que realmente já apresentavam uma tendência a retração, de isolamento, acabaram potencializando ainda mais isso, pois encontraram na pandemia um grande acolhedor do seu mundo individualista. E eles desenvolveram transtornos relacionados a ansiedade, estresse e depressão. Nesse período houve um aumento da própria ideação suicida. E muitas vezes não receberam um olhar de cuidado pelas próprias famílias, pois estas encararam como sendo algo transitório, como uma fase, e diziam assim: quando a pandemia passar tudo vai voltar ao normal”, disse Flor.
Flor Teixeira “a família é indispensável para a estruturação de toda a organização da criança”
Segundo ela, a pandemia representa uma situação de estresse não apenas pelo mundo ter conhecido um novo vírus, uma nova possibilidade de adoecimento, mas porque ela trouxe morte. “Foi uma ameaça à vida das pessoas que estavam com você em um dia, que você tinha todo um carinho, um amor, e de repente adoecia e rapidamente já vinham a falecer. Além disso, ela trouxe as restrições também das atividades de lazer, as companhias, a presença dos amigos, os encontros. E a família é indispensável para a estruturação de toda a organização da criança, desde a saúde física até a mental. Então, a partir do momento que existe uma família que observa, que acompanha e direciona, fica mais tranquilo passar por situações de estresse”, comentou Flor Teixeira.
A psicóloga explica que as crianças possuem um suporte emocional que são seus pais ou membros das suas famílias. Através desse apoio, elas conseguem desenvolver suas habilidades sociais, emocionais e culturais. “Alguns pais são rígidos e acham que o que acontece é uma fase, uma birra, e acabam empurrando com a barriga, o que é o grande erro. Portanto, se você percebe que o seu filho ele não está dando conta das atividades mínimas e vínculos, ou seja, uma criança que não consegue se relacionar com outras crianças, os pais eles precisam buscar ajuda”, pontuou.
A educação na pandemia
O déficit educacional também foi afetado. Por mais que as aulas tivessem permanecido na modalidade online, os estudantes não estavam preparados para isso, o que provocou uma desmotivação ao processo educacional. “Muitos jovens consideraram que não valia a pena estudar, que era perda de tempo, porque se tornou chato, cansativo e exaustivo. Os professores também não estavam preparados para essa situação e tiveram que se adaptar dentro do dos recursos que eles tinham em casa muitas vezes. E esses recursos eram escassos, tinha preparação do material virtual e todo o processo de adaptação e aí esses jovens acabaram perdendo a motivação”, avaliou Flor Teixeira.
De acordo com a especialista, com o uso exacerbado dos smartphones, os adolescentes também acabaram desenvolvendo problemas oftalmológicos e, consequentemente, dificuldades para fazer uma leitura mais longa. “O uso do aparelho celular, que antes era um instrumento de aprendizagem, uma ferramenta para assistir as aulas, eles ainda não conseguiram se desvincular e acabaram utilizando agora com um outro olhar, para o lazer e estão assistindo vídeos nas redes sociais sem controle. Isso acaba trazendo consequências como uma aceleração do cérebro, uma desatenção, uma tendência a comportamentos mais acelerados, impulsivos e ansiosos”, ressaltou.
Flor Teixeira deixa como orientação para os pais a importância de cada um assumir o seu papel, a sua responsabilidade no processo de desenvolvimento dos jovens e oportunizar da melhor forma possível as diferentes experiências, diferentes vivências e entender que se eles não estão sabendo agir e precisam de uma orientação, não buscar informações de leigos, como a internet que não tem nenhum tipo de fundamento científico, mas buscar a orientação de um profissional adequado.