O nascimento de um filho é sempre um momento de muita emoção para os pais, familiares e todos que fazem parte do círculo de convivência de um casal. Porém, existe uma condição preocupante que atinge muitas mulheres e que, às vezes, pode passar despercebida: é a depressão pós-parto. Mesmo que o bebê nasça perfeito, apresente boa saúde e predomine clima de felicidade entre todos, avós e demais parentes, muitas mães acabam desenvolvendo uma tristeza profunda que pode trazer sérias consequências, tanto para ela como para o bebê.
Segundo a psicóloga Flor Teixeira, a depressão pós-parto geralmente inicia da quarta a oitava semana após o nascimento da criança e pode persistir por mais de um ano. Essa condição delicada, que surge em algumas puérperas, levantou uma preocupação: muitas mulheres acabam tendo a depressão pós-parto e não sabem como ela surgiu ou qual foi a sua origem. Por isso, a profissional destaca a importância de uma avaliação para que ela seja corretamente diagnosticada e adequadamente tratada.
De acordo com a especialista, algumas mães apresentam a depressão durante a gestação e até mesmo na descoberta da gravidez. “Dependendo de como esse parto aconteça, se a mulher sofre algum tipo de violência ou se o parto trouxe muito sofrimento, o pós-parto também vai interferir. Como qualquer adoecimento psíquico, o apoio e a busca por um profissional qualificado é fundamental porque a mãe está tão envolvida no processo que acaba não enxergando como um adoecimento, mas como uma incompetência da sua parte. Os familiares e as pessoas mais próximas precisam ficar atentas”, alerta.
Flor Teixeira, psicóloga
Causas
Não existe uma causa única para o diagnóstico da depressão pós-parto, podem existir diferentes fatores sociais, emocionais ou biológicos. “Uma história prévia de depressão, às vezes o fato da gravidez não ser planejada, de ser uma primeira gestação e carregar todos os medos, angústias, o estado da saúde da criança, pois a gente sabe que muitos bebês nascem com algum adoecimento, uma fragilidade ou alguma síndrome; as pressões sociais, pois ela quer ser uma mãe perfeita, que dá conta de tudo. Então, são diferentes causas e fatores que podem desencadear a depressão pós-parto”, explica.
O tratamento é feito por um profissional da psicologia, que, a depender da sua avaliação, poderá trabalhar junto com a avaliação psiquiátrica, para iniciar uma medicação. A psicoterapia, que são as práticas baseadas nos conceitos da psicologia que buscam tratar questões relacionadas à mente e aos aspectos emocionais das pessoas, além da rede de apoio e o compartilhamento com outras pessoas, também podem trazer resultados eficazes no tratamento da depressão pós-parto
Sintomas
Os sintomas incluem irritabilidade, choro frequente, sentimento de desamparo, desesperança, falta de energia, de motivação, alterações alimentares, de sono, sensação de ser não capaz de lidar com essas situações, queixas psicossomáticas. Segundo Flor Teixeira, algumas mulheres apresentam sensibilidades no seio, na mão e não conseguem pegar no filho, acabam se sentindo fracas e podem apresentar enxaquecas frequentes e dores.
“É claro que o puerpério vai trazer sim uma explosão hormonal, vai trazer alterações emocionais e isso realmente faz parte de todo processo, mas a partir do momento que esses sintomas apresentam uma frequência e uma intensidade, se está gerando um prejuízo, não só para a mulher, mas na relação mãe/bebê, é preciso entender o alerta porque realmente pode ser o início do processo de adoecimento”, orienta Flor.
Sentimento de desamparo, desesperança, falta de energia, de motivação são alguns dos sintomas
Baby blues x depressão pós-parto
Muito falado nos dias atuais, a psicóloga explica a diferença entre baby blues – termo norte-americano – e Depressão. O que diferencia um do outro é justamente o tempo de duração. O Baby blues é caracterizado por uma instabilidade emocional, passageira, desencadeada por fatores hormonais na mulher que está tentando se reorganizar com a nova rotina. Normalmente dura três semanas porque esse é o período de adaptação, o período que a mulher vai entender que agora tem uma criança que depende dela. A depressão vai se estender mais este adoecimento.
“É preciso lembrar que existe uma rede de apoio saudável. Não há rede de apoio impositiva e invasiva, que vai dizer para a mãe o que ela tem que fazer. É preciso existir uma conversa, uma troca, e permitir que a mãe tenha suas escolhas dentro dos processos. E tem a família cujo papel é de apoio, de orientação, de cuidado, de ajuda e, principalmente, de respeito às decisões”, conclui.