Conflitos familiares, incerteza quanto à orientação sexual, dificuldade para definir uma profissão, falta de apoio social, comportamentos impulsivos, principalmente entre jovens e adolescentes, desemprego e aposentadorias não planejadas ou programadas. Esses são alguns dos fatores agravantes para as Lesões Autoprovocadas Voluntariamente, termo técnico utilizado para o suicídio. Para conscientizar a população, este mês acontece a campanha Setembro Amarelo, que chama a atenção para os sinais e orienta como buscar ajuda especializada de profissionais como psicólogos, psiquiatras e terapeutas.
Segundo dados do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 2010 e 2019, ocorreram no Brasil 112.230 mortes por suicídio, um aumento de 43% no número anual de mortes (9.454 em 2010 para 13.523 em 2019). A análise das taxas de mortalidade no período demonstrou aumento do risco de morte por suicídio em todas as regiões. Em Sergipe, em 2020, ocorreram 130 óbitos. Pode haver a substantificação dos números oficiais apresentados considerando a necessidade de investigação do nexo causal, para averiguar se a motivação para o óbito foi por suicídio pelos variados meios acidentes de trânsito, afogamento, queda entre outros e os seus devidos registros.
O psicólogo clínico Demétrio Sérgio dos Reis lembra que algumas pessoas deixam suas intenções claras, enquanto outras mantêm os pensamentos suicidas e sentimentos ocultos. “O que pode levar ao comportamento suicida são acontecimentos do cotidiano, como pensamentos e sentimentos repetida vezes de conflitos familiares, incerteza quanto à orientação sexual, ausência de apoio social em determinado período da vida, sentimentos de completude existencial, desesperança, desespero, desamparo e impulsividade, este principalmente entre jovens e adolescentes”, avaliou.
Demétrio orienta buscar ajuda de profissionais da saúde qualificados e habilitados
Demétrio Reis aponta alguns sinais importantes que podem identificar se alguém está com pensamentos potencialmente suicidas. “Abandono ou ausência de projetos de vida para o futuro; desesperança; pessoas com perfil ou característica comportamental ativa, que de uma hora para outra passam a isolar-se do contato social e querem ficar sozinhas; pessoas que apresentam mudanças de humor; se mostram muito preocupado com a morte, a violência, embora também o completo oposto seja preocupante, como falar destes temas com desdém ou sarcasmos; uso abusivo de álcool e outras drogas; alteração da rotina, incluindo hábitos alimentares ou de sono; comportamentos que o coloca em perigo ou autodestruição; e despedir das pessoas como se não fosse vê-las novamente sem uma motivação real”, conta.
Como ajudar
Falar e escutar evitando o julgamento de valor, pois a crítica pode intensificar e muito, as dores emocionais de uma pessoa que está precisando de ajuda. É importante acolher com amorosidade e empatia, incentivar essas pessoas a continuar com suas rotinas, se dedicando às coisas que gostam, a experimentar novos lugares, atividades e momentos também pode ajudar, além de buscar ajuda de profissionais da saúde qualificados e habilitados. “Procurar pessoas que transmitem segurança, confiança e respeito para falar sobre os pensamentos suicidas. A ajuda a pessoa com pensamentos suicidas não se limita à rede de saúde, mas deve ir além dela, em diversos âmbitos na sociedade, que poderão se articular e colaborar para a ofertar uma ajuda como local de trabalho, comunidade religiosa, escola entre outros”, disse Demétrio.
É importante acolher com amorosidade e empatia
De acordo com o especialista, para afastar as ideias suicidas, é importante praticar o autocuidado, já que há uma perda de vínculo gradual do paciente consigo, porque, aos poucos, sua própria vida deixa de ser importante e atividades do dia a dia vão se perdendo. “Envolver com ações de voluntariado e ou ativismo social técnico; praticar atividades físicas; trabalhar a autoestima; criar uma rotina de desaceleração do ritmo após jornada de trabalho, adotar um roteiro de atividades sociais de lazer; buscar o fortalecimento do vínculo com a espiritualidade; e fazer acompanhamento psicológico”, recomendou.
A depressão
A depressão é apontada como a maior causa do suicídio, seguida de outros transtornos mentais como o transtorno afetivo bipolar, o abuso de substâncias, a esquizofrenia, os transtornos de personalidade, entre outros. A reação depressiva ou depressão é um transtorno afetivo (temporário ou persistente) que acompanha a humanidade ao longo de sua história. No sentido psicopatológico, há presença de tristeza profunda, pessimismo, baixa auto estima, fortes reações ansiosas que aparecem com freqüência e podem combinar-se entre si. É imprescindível a avaliação de um profissional da psicologia ou da medicina tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento adequado.
Onde buscar ajuda na rede pública
Centro de Atenção Psicossocial e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde); Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h), SAMU 192, Pronto Socorro; Hospitais; Centro de Valorização da Vida (CVV) através do 188 que é ligação gratuita.