O Renascimento, movimento iniciado na Itália em cerca de 1.500, compreende um período da humanidade entre o feudalismo e o capitalismo. A história nos conta por onde e por quem iniciou tal iniciativa cultural e intelectual: com os artistas. Como o próprio nome condiz, nasce-se um novo pensamento, há rompimento com as crenças vigentes. Lendo alguns futuristas ultimamente, tais como, Jason Silva, ele levantou uma questão que compartilho aqui: “e se a internet, o YouTube, os cursos online, são a grande biblioteca de Alexandria do século XXI?”.
Gelei e desde então venho refletindo sobre as novas formas de viver que estamos sendo impostos desde o início do isolamento social, mediante pandemia de coronavírus. Seria a covid-19 nosso passaporte para um Renascimento? 

Leonardo da Vinci, um dos principais expoentes da Renascença, não sabia latim, foi um autodidata. Filho bastardo, tornou-se gênio porque era simplesmente inovador e espetacular em tudo que tocava, da pintura à arquitetura, ciência, matemática, engenharia, literatura, cartografia, astronomia, anatomia, escrita, etc. Gênio! Há um detalhe muito importante a ser colocado aqui: ele só fazia o que o interessava e ia fundo, essencialmente genial.
No modelo em que estamos habituados a viver perdemos muito tempo com o que não nos interessa fazer. Não há brilho, vontade, tesão em ficar muitas vezes numa reunião chata, chata e chata, que irá nos obrigar a emitir um relatório idem. Nas escolas e academias tradicionais também são assim. Gente à beça acordando super cedo, sem produtividade nenhuma, para assistir uma aula que irá nos ajudar a sermos robôs, decorebas e afins.
Igualmente gênio, Steve Jobs, fundador da Apple, só estudava e pesquisava o que lhe interessava. Nem se formou, abandonou o curso e foi seguir a sua intuição. Graças a ele, nos comunicamos por telas. Os computadores pessoais chegaram às nossas casas porque ele pensou e se empenhou para fazer esta entrega na era em que vivemos. Arte e tecnologia são matérias de vanguarda e adoro ler a biografia destas almas que nos deixaram estas heranças de bem coletivo.
Contudo, sinto-me no dever de expressar a contribuição genuína de uma ancestralidade ainda mais antiga, porém, castrada de todas as maneiras. É o feminino. Todos temos pólos femininos e masculinos na integração do ser que somos. No taoismo chama-se Yin e Yang, forças opostas e complementares. A lua, passiva e representante da noite. E o sol, com luz própria e ativo. Na psicologia clínica chama-se totalidade existencial.
Em todos os movimentos históricos os personagens são homens que ocupam a liderança. Até a Bíblia, livro sem dúvida nenhuma, sagrado, mas escrito há mais de dois mil anos com o pensamento predominante da época, todos os discípulos do Mestre Jesus eram homens. E onde andavam as mulheres nestes séculos de tantas guerras, glórias e mudanças? Preciso dizer que reconheço em Da Vinci e em Jobs uma força feminina muito equilibrada com a masculina.
Qualquer leitor homem há de concordar comigo. Apenas uma mulher é capaz de cozinhar, trabalhar, acompanhar as aulas online dos filhos, falar ao telefone com o cliente enquanto envia um e-mail para o prestador de serviços de ar-condicionado. Da Vinci tinha uma força feminina muito desenvolvida. Vide as expressões de Monalisa e quantas conclusões se pode tirar de uma mesma obra. Pais conscientes também devem concordar comigo. Essas crianças da geração millennials assoviam, cantam e chupam cana com maestria sem perder a classe. Multitarefas. 
A liderança política planetária na ala feminina parece se mostrar mais eficiente diante do coronavírus. Isso é estatística comprovada! Nada do que estou relatando é para demonstrar supremacia da força Yin, ao contrário, é para trazer uma luz quanto ao desenvolvimento do feminino em nós. Acredito que este é um dos caminhos que nos levará ao Renascimento de um ser humano mais consciente e alinhado com as forças divinas. Me apontem uma única mulher sanguinária. A história não relata feitos e nem crimes bárbaros cometidos por mulheres.
Apesar de ser acusada de prostituição, Maria de Magdala ou Maria Madalena, foi a primeira a quem Jesus foi se apresentar após a Ressurreição. Obviamente, nenhum discípulo homem acreditou naquele relato, afinal, era uma mulher (e mal difamada). Da lealdade de Madalena pelo Mestre ninguém escreveu. Até porque ELE próprio dizia que ladrões e prostitutas entrariam antes no Reino dos Céus do que o resto da “galera”. Imagine Jesus falando isso para a classe política e religiosa da época. Arrebatador! Seria pela honestidade psicológica dessas pessoas saberem o que são? Realmente pouca gente se conhece e vive de máscaras, mesmo antes do coronavírus.
Olhando ao meu redor, saindo da história, teologia e dos movimentos culturais, percebo o quanto a força Yin é presente no meu dia a dia. As pessoas que mais me influenciam tem a ‘Lua’ bastante evoluída. Mesmo professores, mentores e amigos, gays ou não, são figuras mais receptivas, generosas de coração, apoiadores uns dos outros, com a energia do acolhimento. Me sinto agora uma afortunada por ter tantas mães ao meu redor. São amigas e amigos, mães, clientes, mentoradas, todas com a força do feminino sobressaindo. 
Eu não poderia ser diferente do que sou diante desta constatação. Darei um panorama apenas do meu universo profissional: das dez marcas/contas em comunicação e marketing que gerencio atualmente, sete estão sendo lideradas atualmente por mulheres. O Renascimento é feminino. São capacidades intrinsecamente femininas que estão sendo treinadas neste momento de dor, de perdas, de desesperança e falta de orientação. Reconheço em mim muitas habilidades Yang, tal qual a racionalidade e raciocínio, mas nada se compara a este momento quando escrevo. 
Inicio o Espaço Reflexão geralmente me servindo uma taça de vinho, aprecio minha própria companhia, agradeço pela minha sustentabilidade através do que mais amo fazer, que é escrever, contemplo toda a irmandade que lutou anteriormente para que eu usufruísse deste momento de liberdade, de não precisar casar com ninguém a força ou por dotes, por não estar castrada em nenhuma possibilidade de vida e regozijar da liberdade de pensamento, de reflexão e comunicação. Um brinde ao feminino!  

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