O mês de setembro também é dedicado para a conscientização da importância de doar órgãos e tecidos.  A Secretaria de Estado da Saúde (SES), através da Central de Transplantes de Sergipe, abriu oficialmente o “Setembro Verde 2022”, na noite da última quarta-feira, 31, com uma ação no Museu da Gente Sergipana. A atividade reuniu profissionais da saúde, representantes de entidades e pessoas que tiveram a vida impactada positivamente pela doação de órgãos.

Segundo o enfermeiro Benito Oliveira Fernandez, coordenador Central de Transplantes de Sergipe, em 2021 o Estado tinha 88% de negativa familiar para doação de órgãos. Em 2022 esse número caiu para 62%. Atualmente, na carteira de identidade, qualquer pessoa pode informar que é doador de órgãos, mas é apenas simbólico. “O Decreto 9.175/97 estabelece que o cônjuge ou parentes até segundo grau são os responsáveis pela autorização da doação”, disse Benito.

Durante a pandemia houve uma drástica redução do número de doadores e transplantes de órgãos.  A covid-19 era contraindicação absoluta para doação de órgãos e hoje há critérios que possibilitam a retirada de órgãos de doadores com RT-PCR-covid-19 detectável. Com o avanço da vacinação e o controle da doença no país, os índices estão melhorando. “Hoje 52 mil pessoas estão na lista de espera aguardando por um ato de amor e solidariedade como é a doação de órgãos”, explicou o coordenador.

Benito durante abertura do “Setembro Verde 2022”

O aposentado Davy Barbosa, de 37 anos, sabe bem o significado da importância de doar órgãos. No final de 2013 ele descobriu que tinha insuficiência renal crônica após ser diagnosticado com pressão alta durante um exame admissional. O médico o encaminhou para uma cardiologista, que não identificou o problema.  “Ela fez exame do coração, mas não passou nenhum exame de sangue. Indicou remédio para pressão e deduziu que o meu problema era emocional. Se ela tivesse realizado o exame de sangue, provavelmente eu já teria descoberto a doença renal”, explicou.

Segundo ele, o tempo foi passando e o aposentado começou a perder o apetite, vomitar e a pressão foi para as alturas. “Cheguei em um posto de saúde com a pressão a 24/14”, disse. Ao buscar atendimento em um hospital particular de Aracaju, o médico que o atendeu notou uma cor estranha no seu rosto e pediu para realizar exames, quando chegou a informação que seu rim havia parado e ele estava com insuficiência renal e precisaria fazer hemodiálise e realizar um transplante.

Davy e seu irmão, Jonatas

“Fiquei dois dias internado na UTI e meu irmão, que veio a ser o doador depois, me perguntou: você vai morrer, Davy? A preocupação dele foi enorme. Comecei a fazer hemodiálise e entrei na fila do transplante, que eu realizei somente em 2018. Minha pressão arterial regularizou, me alimento e bebo normal, sem exageros. Depois de um ano de transplantado minha esposa engravidou, a gente teve um primeiro filho e agora está grávida de novo. Estou bem graças a Deus e continuo cuidando da minha saúde”, concluiu.

Transplantes em Sergipe

O presidente da Associação de Renais crônicos e Transplantados do Estado de Sergipe (Arcrese), Elves Cavalcante, informou que em outubro ocorrerão dois transplantes renais. O retorno dos transplantes cria um horizonte de esperança para todos que precisam e que trabalham para ampliar o número de doações de órgãos em Sergipe. “Nós tínhamos transplante até 2012. Quando foi encerrado aquele ano, a gente ficou com o coração partido, triste, e começamos a lutar de novo para que esse transplante voltasse”, explicou.

Em 2020, foi informando que Sergipe teria transplante novamente. “Isso resgatou de nós a esperança. Vidas seriam mudadas. E agora em 2022, depois da gente passar pela pandemia que foi um desafio imenso, foi informado que teríamos os dois primeiros transplantes. Estamos totalmente esperançosos. Somos mais de 2.500 pacientes, número que aumentou gradativamente em relação à pandemia. Somos um pouco mais 1.400 pacientes em tratamento, mais da metade pode receber uma doação, ou seja, fazer o transplante, e pouco mais de 115 pacientes estão transplantados em Sergipe”, pontuou.

Elves Cavalcante, presidente da Arcrese

Quem pode doar

Existem dois tipos de doadores: o vivo e o falecido. O vivo pode doar medula óssea, um dos rins, parte de fígado e parte do pulmão. O falecido com o coração parado pode doar córneas até seis horas depois da morte.  E o doador falecido que tem o coração batendo, aquele com diagnóstico de morte encefálica, pode doar todos os órgãos (rim, fígado, coração, pulmão, pâncreas, intestino, além de córneas, pele, vasos sanguíneos, tendões, cartilagens e etc).

Os pacientes são cadastrados no Sistema Informatizado de Gerenciamento pelas equipes transplantadoras e quando cadastramos o doador, o sistema procura aqueles com compatibilidade do grupo sanguíneo, depois pelas medidas atropométricas, depois pelo HLA (do inglês Human Leukocyte Antigens) representa um complexo de genes que codifica para proteínas do sistema imunitário únicas para cada pessoa. Estas proteínas irão reagir contra um transplante dador.

Atualmente, estão autorizados para realizar transplantes no Estado o Hospital do Coração (transplante cardíaco), o Hospital Universitário (transplante de rim e córnea), o Hospital São Lucas (Transplante de Medula Óssea) e está em processo de autorização o Hospital Cirurgia para a realização de transplante de fígado e rim. Em Sergipe, já foram realizados mais de 2300 transplantes de córnea, mais de 100 transplantes renais e quatro transplantes de coração.

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